Amadurecer é se enamorar das plantas.
Depois dos cinquenta anos, passei a cuidar de flores, eu que nunca fui jardineiro.
A certeza do fim nos aproxima da terra. Começamos a nos enterrar pouco a pouco, ou a decorar a nossa lápide em vida, antecipadamente, parceladamente.
A brevidade indiscutível da existência nos inspira a contemplar os caules e as raízes, a respeitar as podas e as transformações, a nos adaptar às estações, a prolongar o efêmero em nome da beleza dos instantes.
Não deixa de ser um combate contra a morte. Ou uma tardia aceitação da mortalidade.
Primeiramente, montei um canteiro na janela. Plantei, adubei, reguei com disciplina — até ver uma cabeleira rosa e lilás de gerânios despontando após seu início abstrato, sua penugem da esperança.
Fiquei orgulhoso. Eu chegava a descer ao térreo somente para testemunhar o capricho do meu trabalho de fora, como se aquela janela não fosse minha e de Beatriz, mas de um vizinho. Fingindo inveja do outro para, em seguida, nutrir admiração por mim mesmo.
Parti para uma hortinha de temperos na cozinha. O que parecia um passatempo tomou minhas horas de descanso. Fui me especializando em aromas, em tirar o melhor do verde. As formigas, então invisíveis, viraram minhas inimigas.
Diferenciava as exigências no cultivo. O alecrim, o orégano, o tomilho e a sálvia preferiam um solo mais seco. Já o manjericão, a cebolinha, a salsinha e o coentro dependiam de mais umidade.
Entendi que a hortelã era rainha, o azeite do convívio: gostava de um território só dela.
Mergulhei numa loucura da vigília, num vício do carinho, revistando por baixo do barro, usando o dedo como termômetro, visitando as minhas criações com mais frequência do que assistia à televisão.
Causou um distúrbio no meu comportamento de casado: não posso negar. Em qualquer viagem para Ouro Preto, Tiradentes ou Rio Espera, parava em floriculturas na estrada para carregar vasos gigantes com palmeiras, coqueiros, arecas-bambus, árvores-da-felicidade, camedóreas-elegantes, ciclantos, costelas-de-adão.
Nem vou falar que substituí o automóvel para ter um bagageiro maior. Nem vou falar que já nem levava mala para contar com mais espaço no transporte das aquisições.
Nosso apartamento se converteu numa floresta.
Eu caminhava com a esposa no bairro. Entretanto, não dava sequência ao exercício: interrompia as passadas rápidas, quebrava o ritmo, para apanhar alguma muda de um terreno baldio. Vivia observando os lados mais do que o nosso destino à frente. A aeróbica não mais surtia efeito. Não queimava calorias, apenas aperfeiçoava a minha obsessão. Perdi a minha parceira de atividades físicas.
Descobri a estaquia — que corresponde a um furto generoso para a multiplicação do espécime. É o corte de uma parte da planta para que desenvolva raízes e gere uma nova.
Catava guaco, jiboia e Dracaena reflexa. Caçava pitangueira e videira. Todas que pegavam pelos galhos. Aumentava a minha coleção pelo empréstimo de ramos.
Decidi florescer em vez de envelhecer.