Toda semana, um leitor me convida para conduzir sua cerimônia de casamento, aguardando meus versos e palavras bonitas. Sou poeta, não padre ou pastor. Agradeço a lembrança, mas acredito que, se aceitar com frequência, existirá uma demanda interminável. Só cometi três exceções em minha vida, para colegas muito próximos, e quero permanecer com essa trinca de experiências pelo resto dos dias. Pois acaba sendo uma responsabilidade excessiva pelo destino dos cônjuges – eu sofro com seus desentendimentos.
O que não tem mais acontecido é convite para padrinho. Uma pena, já que desfruto de um excelente histórico: fui padrinho de quatro casamentos, apenas um desfeito. Beatriz, minha esposa, tem média semelhante, embora não estivéssemos juntos na época em que frequentamos o altar nessa posição.
Aliás, mais do que as condições financeiras para oferecer polpudos presentes, deveria ser levada em conta na hora do convite para o apadrinhamento a ficha corrida do candidato. Ele não precisaria, como ocorre com ministro do STF, passar por uma sabatina no Senado – não é para tanto –, mas teria que mostrar seus antecedentes em outros casórios:
— Quantas vezes foi convidado para tal função?
— Sua presença conferiu sorte e estabilidade?
— Qual a sua porcentagem de acerto?
O risco é chamar um pé-frio para a cobiçada vaga, um Mick Jagger para o aclamado título. Não adianta nada aceitar a escolha da esposa ou do marido, e errar na lista de escudeiros. Se o padrinho tem seis divórcios alheios nas costas, chegou o momento de encerrar a carreira, de aposentar os sapatos de festa e o terno de coadjuvante. Cabe apresentar um pouco de decência e entender que não nasceu para isso. Tem que confessar que não goza de condição histórica para oferecer prosperidade, avisar que não pretende estragar os laços com seus infortúnios.
É uma questão de se declarar impedido, de não levar a situação adiante, de recusar a homenagem logo que a recebe.
Como a nominação é vitalícia, e não há como ser destituído da honraria por dar azar, o nome merece um escrutínio paciente. Que a cabeleira do perfil atravesse o devido pente-fino para desfazer possíveis nós, numa seleção criteriosa. Inclusive o mapa astral poderia ser incluído como pré-requisito, para o melhor alinhamento planetário com o signo, o ascendente e a lua dos noivos.
Do mesmo modo, não é correto chamar agregados de amigos para ocupar o posto de padrinhos unicamente porque estão namorando eles. É apostar alto em um romance que possivelmente durará até o próximo mês, enquanto as fotos e os vídeos do matrimônio são eternos.
Convoque o amigo isoladamente e forme pares a partir da sua maior proximidade e cumplicidade. Um amigo do noivo talvez sirva de acompanhante para uma amiga da noiva, ainda que ambos estejam em seus respectivos envolvimentos amorosos recentes.
Evite urubus ou corvos infiltrados ao lado dos pombinhos. Sem a maldição dos intermediários, quem sabe o casamento seja para a vida inteira.