Mineiro dá tchau para alguém e reinicia a conversa. A impressão é que a despedida renova os créditos das palavras.

Ou talvez porque o mineiro divida o papo em dois turnos. O primeiro é quando chega, e o segundo, quando ele acha que vai sair – somente acha. Porque não sai, fica papeando de pé.

Metade da visita acontece no sofá, e a outra metade, na porta. Não sei qual é a mais longa. Na porta, ele fofoca. No sofá, desfia as preocupações. Na porta, ele relaxa. No sofá, ele põe os assuntos em dia. Na porta, é divertimento da amizade. No sofá, é responsabilidade. Na porta, são as perguntas sobre conhecidos em comum. No sofá, perguntas sobre a pessoa visitada.

Todos nós sabemos que o mineiro gosta de uma boa trova. O que ninguém sabe é que ele odeia adeus.

Tem uma grande dificuldade para virar as costas e se desvencilhar da acolhida. Mineiro não tem costas, é um anjo com as asas voltadas para o interior da casa.

Não quer ir embora, pois acha que será custoso voltar. Então, aproveita para prolongar o convívio ao máximo possível e fazer estoque de afeto num único encontro. Assim, ninguém reclamará da demora para se ver no futuro. 

Já acredito que a saideira do bar foi inventada pelo mineiro. Uai, você encerra a conta para pedir mais cerveja. E a última vira a penúltima, que vira a antepenúltima, e não há um vivente capaz de se levantar. As melhores risadas e as mais acaloradas discussões vêm quando um dos presentes diz que tem que partir e jamais parte. É um fingido fim de noite e um verdadeiro início da madrugada. 

Desenlaces são quebrados pela urgência das lembranças. 

Os garçons ficam perdidos, pois avisam a quem está esperando na fila que uma mesa logo será desocupada, que os frequentadores pediram para encerrar. Só que eles não largam os copos, convictos, por dentro do coração, de que foi um alarme falso.

A saideira significa mais duas horas de trololó etílico. Não confie na aparência definitiva da caderneta preta com a fatura.

Em Minas, não há como prever quem realmente decidiu levantar voo – as movimentações são sempre ruidosas, peculiares daqueles que acabaram de pousar.

Os motoristas de táxi e aplicativos sofrem com os atrasos. Precisam de paciência para entender que mineiro não aparece sem antes realizar comício e chuva de abraços com os seus familiares e amigos.

Qualquer desfecho é palanque emocionado de confissões e agradecimentos.

O carro ficará parado na frente do local de partida por mais de cinco minutos. O até logo, aqui, não será rápido, é o planejamento minucioso do próximo contato.

Nas lojas, o mesmo frenesi acontece. É natural aquele consumidor que comprou no local comprar de novo. Pagou e reinicia as investidas nas araras. Em vez de parcelar as compras no cartão, parcela o cartão nas compras. 

A característica me conforta. Casado com uma mineira, parto da perspectiva de que o nosso casamento nunca se acabará. Quando ela tentar se despedir, ainda teremos mais 30 anos juntos pela frente. Com beijos demorados segurando a maçaneta.