Israel Alves Freitas é CIO, CTO e executivo de TI e membro do Open Mind Brazil
Vivemos um momento em que a Inteligência Artificial (IA) deixou de ser apenas uma promessa tecnológica para se consolidar como protagonista na tomada de decisão estratégica das empresas. Se antes os executivos confiavam em relatórios extensos, planilhas e projeções estáticas, hoje é possível transformar dados em insights dinâmicos, precisos e preditivos, capazes de remodelar setores inteiros.
Na alta gestão, a IA não se limita a otimizar processos: ela redefine a forma de liderar. Ferramentas de análise preditiva já são capazes de antecipar movimentos de mercado, prever riscos regulatórios e até sugerir cenários de expansão. Em conselhos de administração e diretorias executivas, a tecnologia vem sendo utilizada para apoiar decisões que, tradicionalmente, dependiam apenas da experiência acumulada dos gestores. A diferença é que, agora, os líderes contam com uma visão ampliada por algoritmos que cruzam milhares de variáveis em segundos.
Esse avanço, no entanto, traz uma mudança cultural inevitável. A gestão corporativa deixa de ser centralizada no “feeling” do executivo para incorporar uma governança de dados mais transparente, auditável e orientada por evidências. Isso não significa substituir a intuição humana, mas combiná-la com a objetividade algorítmica. As organizações que souberem integrar esses dois pilares terão mais chances de prosperar em cenários de alta complexidade.
Um exemplo prático está no setor financeiro, em que modelos de IA já apoiam decisões de crédito e investimentos, oferecendo aos conselheiros análises com margens de risco bem-definidas.
Por outro lado, a alta gestão também precisa lidar com dilemas éticos e regulatórios. Como garantir a transparência das decisões tomadas com apoio de algoritmos? Até que ponto um conselho pode terceirizar sua responsabilidade a uma máquina? Essas questões exigem a criação de políticas de governança digital e de comitês internos dedicados a supervisionar a ética na utilização de dados e IA.
Nesse contexto, o papel dos executivos se transforma: líderes deixam de ser apenas gestores de resultados para se tornarem curadores da tecnologia. Eles precisam compreender minimamente como os modelos funcionam, quais são seus vieses e quais impactos podem gerar na sociedade. Não se trata de formar diretores programadores, mas de formar diretores conscientes, preparados para orquestrar a integração entre pessoas, negócios e algoritmos.
O futuro das empresas dependerá menos da capacidade de prever o imprevisível e mais da agilidade em responder a ele. Nesse jogo, a inteligência artificial não é apenas uma ferramenta, mas um divisor de águas entre as companhias que vão liderar a próxima década e aquelas que ficarão para trás.