Por mais otimistas que queiramos ser, temos que admitir que tempos difíceis ainda estão por vir. Não por tarifaço ou por desequilíbrios de humor de Donald Trump – um problema real, temos que admitir –, mas sim pela qualidade da política brasileira atual. Aí nos recordamos de Ulisses Guimarães, lá nos anos 1980, quando, ao ouvir críticas ao Congresso, fez sua previsão do que estava por vir: “Estão achando ruim esta composição do Congresso? Esperem a próxima”.
Infelizmente ele estava certo. A crise internacional que estamos enfrentando agora nos dá a medida – ainda não sei se exata – da qualidade de nossos políticos. Mas numa primeira análise é realmente de assustar assistir a um Congresso aceitar a ingerência externa de um país que, não nos esqueçamos, patrocinou o último período ditatorial no Brasil.
Escutarmos um senador – um senador bem antigo, por sinal – acusar um ministro do Supremo Tribunal Federal de violação da Constituição dos Estados Unidos – isso mesmo, a Constituição norte-americana! – ao decretar a prisão domiciliar do ex-presidente. Isso sem contar os atos de selvageria praticados na Câmara e no Senado, na semana passada, impedindo o funcionamento das duas Casas.
Atos assim só desvalorizam a atividade parlamentar e, pior do que isto, geram em parte da população um sentimento de revolta e – não se assustem – de saudade dos regimes autoritários, que, para uma parcela da sociedade, colocavam ordem na casa.
Toda essa balbúrdia política provocada, não nos esqueçamos, por aqueles eleitos com nosso voto, tende a se radicalizar ainda mais com a aproximação do julgamento dos golpistas e das eleições de 2026.
O quadro eleitoral para a sucessão presidencial que se desenha será de alguém da chamada “direita” enfrentando Lula, que as pesquisas insistem em apontar como favorito, apesar de os levantamentos mostrarem também uma insatisfação não bem explicada com o seu governo.
A persistência desse quadro e o previsível esvaziamento político de Bolsonaro, caso se confirme sua condenação, devem provocar uma retração nas candidaturas da chamada “direita”, com muitos do que hoje se dizem postulantes, confiantes ainda na força política do bolsonarismo, desistindo da disputa, o que fortalece a candidatura petista. Um quadro real da disputa do ano que vem nós vamos ter a partir da condenação ou absolvição de Bolsonaro, desfecho previsto para daqui a um mês, no máximo.
Enquanto isto, a nós, eleitores, só resta o banquinho da arquibancada, de onde assistiremos às bravatas dos que, até aqui, têm se aproveitado do episódio Bolsonaro para se manterem como os valentes defensores do país.