A iniciativa da Energy Earthshots, do Departamento de Energia dos EUA (DOE), visa acelerar descobertas de soluções de energia limpa mais abundantes, acessíveis e confiáveis nesta década.
O governo americano pretende se inserir, com protagonismo, na crise climática e alcançar mais rapidamente a meta do governo Biden-Harris de emissões líquidas de carbono zero até 2050, ao mesmo tempo em que cria soluções avançadas e empregos bem-remunerados e faz a economia crescer.
Atualmente, estima-se que 1 kg de hidrogênio seja suficiente para mover um veículo de média cilindrada por 100 km, competitivo em relação ao petróleo. Faltam, entretanto, tecnologias competitivas para aplicação em veículos de passeio.
O Hydrogen Shot estabelece uma estrutura e uma base para a implantação de hidrogênio limpo nos EUA, que inclui o apoio a projetos inovadores. As indústrias já estão começando a usar hidrogênio para reduzir as emissões, mas ainda existem muitos obstáculos para implementá-lo em escala.
Atualmente, o hidrogênio custa cerca de US$ 5 o quilo. Alcançar a meta de redução de custo de 80% do Hydrogen Shot pode abrir novos mercados, como o de combustível, incluindo produção de aço e amônia limpa, armazenamento de energia e fabricação de caminhões pesados, substituindo outros combustíveis.
O primeiro Energy Earthshot, lançado em 7 de junho de 2021 – Hydrogen Shot – visa reduzir o custo do hidrogênio limpo em 80%, para US$ 1 por 1 kg em 1 década, que representaria a meta 1/1/1. Isso geraria forte impacto na redução de emissões de gases de efeito estufa e posicionaria os Estados Unidos para competir no mercado de energia renovável em escala global.
O fator positivo do hidrogênio é ser completamente renovável e com emissões de CO2 menores que as do próprio carro elétrico, que armazena a energia em baterias de lítio, de alto custo.
Em recente entrevista, o presidente da Volkswagen América Latina, Pablo Di Si, anunciou que a fabricante alemã, no Brasil, apostará na motorização etanol/hidrogênio. O executivo declarou recentemente em webinário promovido pela Fenasucro: “O Brasil deve ser um exportador de tecnologias de etanol, como a célula de combustível, tanto para países vizinhos como para o continente europeu e outros continentes... O Brasil precisa pensar grande, exportando tecnologia, e não só o etanol”.
Considerou ainda: “Temos que pensar no etanol, na célula de combustível, e exportá-la para a Europa, para a China...”.
Segundo Di Si, existe ambiente no Brasil para que se possa ocupar uma posição de protagonismo mundial em tecnologias e aplicações dos biocombustíveis: “O etanol pode ser uma tecnologia complementar para veículos a combustão, híbridos e elétricos; se funciona bem no Brasil, funcionará bem com algum componente misturado em outros países, embora a base seja sempre etanol”.
O executivo ainda falou da vantagem do etanol em relação aos carros elétricos quando o assunto é transição energética: “O etanol, se comparado com a gasolina, gera 86% menos emissões. A diferença é brutal. E a velocidade para continuar essa jornada (de conversão ambientalmente correta) é super-rápida se comparada com a implantação de postos para abastecimento de carros elétricos”.
A opinião do executivo vai ao encontro da proposta do governo federal com o programa Combustível do Futuro. Aprovado no final de abril pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), o programa indica rotas tecnológicas que o Brasil pretende seguir para descarbonizar a matriz de transporte, com destaque para o incentivo da célula de combustível a etanol de segunda geração.
Fora do Brasil, decorrente da dificuldade de se produzir etanol, aposta-se em outras rotas com emissões superiores. A situação privilegia apenas Brasil e Estados Unidos, que possuem capacidade e território para produção de etanol em larga escala, com baixo custo e competitividade.
No próximo dia 31 a DOE dos Estados Unidos lançará o primeiro summit sobre energia gerada por hidrogênio, oferecendo US$ 400 milhões para pesquisa que reduza custos da produção de hidrogênio, o componente mais abundante do universo.
A década de 20 do segundo milênio, aguardada como a mais importante da história na procura de energias sustentáveis, abundantes e corretas, pode representar uma grande oportunidade para o Brasil. Será preciso, entretanto, despender muita atenção, esforços e investimentos nessa direção.