Se você, assim como eu, estava ansioso para ver a história dos Mamonas Assassinas nas telonas, é melhor segurar (e muito) as expectativas. Dirigido por Edson Spinello, o longa tenta homenagear o grupo que marcou os anos 1990 com irreverência e ousadia, mas entrega um projeto confuso e sem direção clara.
Uma história difícil de contar… e mal contada
Retratar os Mamonas é uma tarefa complicada. A banda começa como rock progressivo (nos tempos de Utopia), muda radicalmente de estilo, estoura com um humor escrachado e morre tragicamente em pouco mais de um ano. Encontrar o tom certo entre irreverência e tragédia exigiria uma estratégia cuidadosa, o que o filme claramente não tem.
A montagem é o principal problema: parece um recorte mal feito de uma novela juvenil (no estilo Malhação), com ritmo atropelado e cenas soltas, com o objetivo de atingir a duração de uma hora e meia.
Isso se explica, em parte, pela intenção original da Record (produtora junto da Sony e da Total Filmes) de transformar o longa em série de TV, gravando cenas adicionais para complementar a história.
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Muitos tons, nenhum foco
O filme tenta ser várias coisas ao mesmo tempo, e falha em todas. Em uma confusão de tons, o primeiro fica o de uma biografia clássica de superação, com artistas incompreendidos que provam seu valor. Mas essa abordagem não encaixa bem com o estilo escrachado que fez os Mamonas estourarem.
Para compensar, entra um segundo tom: o da comédia caricata, centrada no Dinho de Ruy Brissac. Ele exagera em caras e bocas, humor físico e até quebra da quarta parede, tentando arrancar risos a qualquer custo.
E, para completar, o filme ainda recorre a trilhas genéricas, efeitos sonoros de comédia pastelão e complementos gráficos (como vinhetas visuais) que entram e saem de tela sem nenhum padrão aparente. A mistura de estilos torna a narrativa incoerente e fragmentada.
Trama apressada, personagens mal explorados
O filme tenta apresentar cinco protagonistas, formar a banda, mostrar desafios, inserir romance, recriar performances e ainda lidar com o desfecho trágico. O resultado? Subtramas longas demais ou mal resolvidas e encerramentos apressados (inclusive de alguns arcos que nem haviam sido introduzidos.
Apesar disso, o elenco tem seus méritos. Rhener Freitas e Adriano Tunes interpretam os irmãos Sérgio e Samuel Reoli com algum carisma. Robson Lima (Júlio Rasec) e Beto Hinoto (sobrinho e intérprete de Bento Hinoto) aparecem com menos destaque. O tempo de tela, aliás, é mal distribuído: os irmãos ganham desenvolvimento, enquanto os demais são quase figurantes de luxo.
Um brilho que só aparece nos palcos
O único ponto realmente positivo do filme está nas cenas musicais. As performances no palco são bem executadas dentro das limitações orçamentárias, e recriam com carinho o espírito dos shows e clipes da banda. Muito disso se deve ao fato de Ruy Brissac já interpretar Dinho na peça teatral dos Mamonas, o que lhe dá domínio da presença cênica, embora não necessariamente do tom adequado para o cinema.
Problemas técnicos que não passam despercebidos
O baixo orçamento compromete o visual: perucas exageradas, cenários vazios e repetitivos, objetos fora de época e poucos figurantes. A direção de arte é descuidada, e a direção em si falha em quase tudo, da condução de elenco ao enquadramento das cenas.
O roteiro, por fim, recorre a clichês batidos e apaga o frescor da história real da banda. Em vez de explorar a originalidade dos Mamonas, entrega conflitos amorosos rasos e diálogos genéricos.
Um filme genérico sobre uma banda única
Contar a trajetória dos cinco jovens que saíram da banda Utopia para virar um fenômeno nacional exigia mais cuidado, ousadia e inventividade. No lugar disso, o filme soa genérico, apressado e mal resolvido.
Não é uma experiência nada recomendável, nem para fãs, nem para quem quer conhecer sobre a banda. Ainda assim, se a curiosidade bater ou se você for daqueles que gostam de assistir filmes ruins pelo prazer de criticar, Mamonas Assassinas – O Filme está disponível na Max e agora também na Netflix.
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