Poucos anos após Jurassic World: Domínio encerrar (de maneira bem criticada) a trilogia iniciada em 2015, a Universal retorna ao mundo dos dinossauros com Jurassic World: Recomeço. O título já entrega a proposta: trata-se de uma tentativa de soft reboot, com direção de Gareth Edwards (Godzilla, Rogue One), buscando renovar o fôlego da franquia sem descartar completamente os filmes anteriores.
Na teoria, parecia promissor: elenco novo, uma aventura inédita com pegada mais científica e menos reciclada, e um diretor acostumado a trabalhar com monstros gigantes. Mas, infelizmente, o que vemos em tela é uma colcha de retalhos mal costurada. O filme sofre com falta de foco, ritmo desgovernado e até mesmo efeitos visuais que ficam muito abaixo do esperado para uma franquia deste porte.
Leia também:
+ F1 – O Filme: Uma imersão hollywoodiana no automobilismo
+ Elio: A nova animação da Pixar tem boas ideias, mas escorrega no final
+ Como Treinar o Seu Dragão: live-action acerta ao manter essência da animação original
Premissa promissora... na teoria
Na trama, seguimos um grupo de mercenários contratados por uma empresa farmacêutica. A missão deles é coletar amostras de DNA dos maiores dinossauros do planeta (o Mosassauro no mar, o Titanossauro em terra firme e o Quetzalcoatlus nos céus) para viabilizar o desenvolvimento de um novo medicamento revolucionário, que pode expandir o tempo de vida da humanidade.
E a tarefa, que a princípio parece bem complicada, é facilitada por dois fatores:
- A presença de um paleontólogo na equipe, que desenvolveu uma forma de coleta “mais segura” desse material genético, e;
- As atuais condições climáticas terem isolado a população restante de dinossauros nas regiões próximas ao paralelo do equador, garantindo que os três espécimes sejam encontrados no mesmo local.
Porém, o que parecia o início de uma nova abordagem rapidamente se transforma em uma narrativa sem ritmo, personagens ruins e subtramas que só atrapalham o desenvolvimento da história central.
Três filmes em um (nenhum deles funciona)
O maior problema de Recomeço é a sua estrutura. São três núcleos diferentes disputando espaço no mesmo filme, e nenhum deles é tratado com o cuidado necessário.
O primeiro (e mais interessante) é o do grupo de mercenários e cientistas tentando cumprir a missão. Com um pouco mais de atenção, esse núcleo poderia render um bom filme de aventura com pitadas de ficção científica.
Mas logo ele é interrompido para apresentar uma nova trama, desta vez focada em uma família que, durante uma viagem de férias, acaba se envolvendo com os dinossauros e indo parar na mesma ilha da equipe inicial.
Esse segundo núcleo destoa completamente do primeiro. Os personagens são desinteressantes, pouco desenvolvidos e ocupam tempo demais na narrativa. Suas ações e conflitos são rasos e parece que nem o roteiro sabe ao certo qual mensagem quer passar com eles.
E como se já não fosse o suficiente, existe um terceiro filme: o dos dinossauros mutantes. Eles aparecem até antes, num prólogo promissor, com clima de terror que até empolga. O problema aqui é que essa trama some da história por quase duas horas.
Quando retorna no terceiro ato, já estamos envolvidos com os outros dois arcos, o que torna sua aparição muito deslocada. Pior: eles não contribuem em nada para a resolução da trama e criam cenários de conflitos que outros dinossauros “normais” já haviam ocupado em entradas anteriores na franquia.
É impossível não perceber que a presença desses verdadeiros monstros só servem para o material promocional e, provavelmente, para vender novos brinquedos.
O resultado final é um Frankenstein narrativo, feito de pedaços que não conversam entre si, sabotando qualquer chance de impacto emocional ou imersão.
Roteiro preguiçoso, trilha sem alma e efeitos decepcionantes
Com um roteiro bagunçado, o filme ainda tropeça em áreas que costumavam ser ponto forte da franquia. A trilha sonora, por exemplo, reaproveita os temas icônicos de John Williams, mas os insere em cenas sem impacto, como se tentasse forçar emoção onde não há.
As soluções do roteiro também deixam a desejar. Personagens escapam de situações mortais com uma facilidade absurda, abusando do famoso “plot armor”, e mesmo as ameaças dos dinossauros parecem desprovidas de tensão.
E aí chegamos a um dos pontos mais frustrantes: os efeitos visuais. Os dinossauros não convencem. Parecem digitais demais, os fundos verdes são gritantes, e há momentos de redublagem visível que tiram qualquer sensação de realismo. Em uma franquia que sempre se orgulhou por criar criaturas críveis, esse deslize é imperdoável.
Um detalhe que merece ser dito: é claro que é possível perceber problemas semelhantes em todos os filmes da franquia. Mas o que difere aqui é a falta de imersão que as falhas citadas causam. Sem sentir que os dinossauros e os perigos são reais, não há suspensão de descrença que sustente a fragilidade do roteiro para a construção das cenas.
Jurassic World: Recomeço tem cena pós-créditos?
Na contramão de muitas produções recentes, mas seguindo o padrão da franquia, Recomeço não possui nenhuma cena pós-créditos.
Vale a pena?
Sinceramente? Não. Jurassic World: Recomeço talvez seja o pior filme da franquia até agora. Mesmo com boas ideias na premissa, ele falha em execução, ritmo, visual e emoção. Se você já cansou de sofrer com filme de dinossauro, é melhor passar longe.
Mas, se é daqueles que assiste só pra reclamar (ou se essa é uma franquia que você sente que precisa ver todos), o filme está em cartaz nos cinemas. Boa sorte.
Conteúdo relacionado:
+ Prime Video estreia Jurassic World antes da chegada de Rebirth nos cinemas
+ Estrela de 'Jurassic World' revela ter recebido muito menos do que Chris Pratt
+ ‘Jurassic World: Domínio’ resgata o trio de protagonistas da produção de 1993
+ Filme de 1993 é o mais assistido no Max
+ Fóssil que seria de Titanossauro é encontrado em obra na BR-050 em MG
+ Marlene Mattos planeja construir 'Ilha dos Dinossauros' em resort no RJ
Confira também nossa análise em vídeo: