A trajetória da Espaçolaser, líder em depilação a laser no Brasil, é um caso emblemático de como decisões de gestão podem transformar uma promessa de expansão em um alerta para investidores. Em 2021, a empresa abriu capital na bolsa e levantou R$ 2,64 bilhões, vendendo a imagem de que estava pronta para acelerar crescimento e consolidar sua posição no setor.
Mas o destino do dinheiro revelou uma condução questionável. Quase R$ 1,5 bilhão foi direcionado para os bolsos de acionistas originais, enquanto R$ 1,2 bilhão financiou a recompra de franquias da própria marca, conhecido como refranchising. O que foi anunciado como um movimento estratégico de consolidação rapidamente se mostrou um equívoco: a companhia abandonou seu modelo asset-light, baseado em franqueados que arcavam com custos, e assumiu diretamente aluguéis, folha de pagamento e a gestão de centenas de unidades.
O peso da operação centralizada, somado à alta dos juros e à retração do consumo, resultou em um tombo histórico. O valor de mercado despencou 94%, de R$ 4,35 bilhões para pouco mais de R$ 260 milhões. Enquanto os fundadores deixaram o negócio com bilhões em caixa, investidores que acreditaram na promessa de crescimento amargaram enormes perdas. Foi a prova de que o IPO (estreia de uma empresa na bolsa) serviu mais como uma saída lucrativa para poucos do que como alavanca de longo prazo para a empresa.
Nova estratégia da Espaçolaser
Diante do naufrágio, a nova liderança tenta resgatar credibilidade e devolver eficiência ao negócio. A estratégia atual é justamente retomar o modelo que foi abandonado: o de franquias, que garante expansão rápida e diluição de custos. Os números recentes sugerem sinais de recuperação. No primeiro semestre de 2025, a margem EBITDA (lucro operacional sobre a receita) atingiu 26%, nível equivalente ao período pré-IPO. A alavancagem caiu para 1,97x, o menor patamar em três anos. O lucro líquido ajustado cresceu 72,8% no 1º trimestre e 82,3% no 2º, enquanto a receita líquida avançou mais de 5% no período.
Esses resultados indicam disciplina financeira e algum fôlego operacional, mas não apagam o histórico de escolhas que corroem valor e confiança. A recompra de franquias, tratada na época como passo estratégico, mostrou-se um erro de gestão que transformou a líder em um gigante pesado, caro e vulnerável. A retomada do modelo asset-light, apresentada agora como diferencial competitivo, é na prática um retorno forçado ao caminho original, depois de anos de desgaste.
O setor de estética e beleza segue em expansão, movimentando mais de R$ 120 bilhões ao ano, segundo a ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos). A Espaçolaser ainda é a maior rede do país, mas carrega as marcas de uma gestão que confundiu consolidação com centralização e crescimento com retirada imediata de capital.