Depois de passar dois anos demonstrando disposição para entrar em todas as polêmicas e brigas, o presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Gabriel Azevedo (MDB), deu uma guinada em seu comportamento e decidiu assumir o silêncio como regra. O interesse do parlamentar seria deixar a presidência no estilo “diplomata”, evitar brigas e criar bases para futuras alianças em 2028, quando ele pretende disputar a prefeitura de Belo Horizonte novamente. Em 2024, ele acabou derrotado, na quarta colocação.

No entorno do presidente da Câmara, o sigilo também tem prevalecido. Nem os assessores mais próximos de Gabriel Azevedo arriscam dizer quais serão os próximos passos do vereador após deixar o legislativo. Nas agendas, os encontros com autoridades seguem acontecendo, como a reunião com o deputado estadual e ex-adversário na disputa pela prefeitura, Mauro Tramonte (Republicanos). Oficialmente, no entanto, a intenção de Gabriel é investir na carreira de professor universitário.

Desde a eleição municipal, Gabriel vive um momento de “relaxamento”, com viagens planejadas pelo Brasil e pelo exterior, e teria planos para abrir um novo bar na capital mineira. O presidente da Câmara garante diz que não pretende disputar cargos nas eleições de 2026 e pretende se consolidar como liderança nos bastidores para construir uma candidatura a prefeito em 2028.

A tarefa não será fácil. O último vereador que saiu da Câmara Municipal para comandar a prefeitura da capital foi Patrus Ananias (PT), em 1992. Em 1996, o então vereador e presidente do Legislativo, Amilcar Martins, no PSDB, tentou e até chegou ao segundo turno, mas terminou derrotado por Célio de Castro (PSB), que era vice-prefeito.

Entre os últimos cinco antecessores de Gabriel na presidência da Câmara de Belo Horizonte, apenas Nely Aquino (Podemos), que comandou o Legislativo entre 2019 e 2023, terá um cargo eletivo em 2025. Ela é deputada federal e tem mandato até 2026. Os demais, pararam de disputar cargos eletivos ou não conseguiram reeleição nos espaços em que estavam.

Henrique Braga (MDB), que comandou a Câmara no biênio 2017 e 2018, ainda é vereador, mas não conseguiu a reeleição e, após oito mandatos, deixará a Câmara no próximo ano para ficar na primeira suplência do MDB, que elegeu Loíde Gonçalves e Cleiton Xavier.

Wellington Magalhães, que antecedeu Henrique Braga e comandou a Câmara de Belo Horizonte em 2015 e 2016, teve o mandato cassado em 2019 por quebra de decoro e acusações de improbidade e ainda responde a denúncias no judiciário; ele já teve uma condenação em primeira instância por lavagem de dinheiro e por integrar uma organização criminosa.

Outro ex-presidente da Câmara que se afastou da Câmara após denúncias de práticas ilegais foi Léo Burguês, que ocupou o comando da Casa Legislativa por dois mandatos consecutivos, entre 2011 e 2015. Atualmente, o ex-vereador da capital mineira vive no Rio de Janeiro e conversou com a reportagem de O TEMPO. “Realizei um antigo sonho que era morar na praia, com uma vida mais próxima da família, do meu amor e focado na minha saúde. Aqui no Rio de Janeiro voltei a trabalhar com eventos e na intermediação de negócios. Com relação a me candidatar sinto que minha missão em BH foi cumprida”, disse.

Léo Burguês disse que seu afastamento do cargo foi por razões pessoais e que saiu do Legislativo com mandatos que devolveram R$ 180 milhões aos cofres da prefeitura e vitórias, como a aprovação da Lei da Ficha Limpa em Belo Horizonte. Léo Burguês ainda acrescentou que em suas passagens respeitou a pluralidade da Câmara e conseguiu dois mandatos construídos com muito diálogo e que esse deve ser o exemplo para os próximos chefes do Legislativo.

Luzia Ferreira (Cidadania), primeira mulher eleita presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, com mandato entre 2009 e 2011, deixou o cargo para se eleger deputada estadual, depois foi suplente de deputada federal e atualmente está com um cargo na regional Oeste da capital. “A escolha pela vida pública, por trabalhar pela sociedade, é algo que eu fiz e não mudo. Mas já contribuí no legislativo e disputar outra eleição é algo que não está nos planos”. Ela destaca a capacidade de diálogo e acredita que esse tem que ser o esforço e o exemplo que os futuros presidentes da Câmara deveriam seguir.