A disputa pelo comando da Câmara Municipal de Belo Horizonte provocou estrago no primeiro escalão da prefeitura. O secretário de Governo, Anselmo Domingos, será demitido após articular apoio de parlamentares ao vereador reeleito Juliano Lopes (Podemos), candidato à presidência da Casa. A eleição acontece na próxima quarta-feira (1° de janeiro).

Sem a anuência do prefeito Fuad Noman (PSD), Domingos, conforme fontes da prefeitura e da câmara ouvidas por O TEMPO, vinha pedindo votos para Lopes oferecendo, em troca, cargos na prefeitura. Domingos e o vereador são aliados de longa data, ambos têm base eleitoral Barreiro e foram filiados ao PTC, que passou a se chamar Agir. O secretário, que terá a exoneração publicada nos próximos dias, já foi vereador e deputado estadual. Procurado, Domingos não retornou contatos feitos pela reportagem.

Álvaro Damião assume secretaria

O vereador e vice-prefeito eleito Álvaro Damião (União) substituirá Domingos no posto. O parlamentar já havia sido encarregado pelo prefeito para ajudar nas negociações para aprovação de projetos de lei no fim do ano, como a aprovação de empréstimos e a reforma administrativa. Damião é ainda o responsável pelos contatos com os vereadores sobre a sucessão na Casa.

As articulações de Domingos vinham ocorrendo junto aos vereadores ao mesmo tempo em que o líder de Fuad na Câmara, Bruno Miranda (PDT), articulava a sua candidatura à presidência da Casa, anúncio feito oficialmente no dia 24 de dezembro.

As promessas que vinham sendo feitas por Domingos sem o conhecimento do prefeito eram sustentadas pelo secretário com o discurso de que, uma vez no comando da Casa, Lopes teria forças para garantir o cumprimento do que foi acordado. A reportagem tentou contato com o candidato à presidência da Casa, mas também não houve retorno.

Segundo aliados de Fuad, as articulações de Domingos foram descobertas no momento em que o ainda secretário municipal de governo tentou contato com um vereador fiel a Fuad. Domingos é integrante do chamado núcleo duro da prefeitura, que tem ainda Célio Moreira, assessor especial da prefeitura, e Paulo Lamac, secretário de Assuntos Institucionais e Comunicação Social.

Após a demissão vir a público, Domingos teria feito contato com vereadores para tentar pôr panos quentes. O ex-deputado estadual teria ponderado que tem a confiança de Fuad, que lhe teria dito que ele seguirá na prefeitura, mesmo fora da Secretaria de Governo. Próximo ao presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD), Domingos foi alçado ao cargo em abril de 2024, quando substituiu Castellar Neto (PP).    

A indisposição entre Domingos e integrantes da prefeitura teria começado ainda no início da articulação para a presidência da Câmara Municipal. O secretário teria avalizado que Lopes se apresentasse a vereadores da base de Fuad como candidato de consenso entre a Família Aro e a prefeitura, o que teria levado parte dos parlamentares a apoiá-lo. Àquela altura, segundo interlocutores do Executivo, havia apenas conversas por uma composição, sem definição de quem seria o candidato.

Domingos, além de ocupante de cargo estratégico na prefeitura, teve ainda função de destaque na campanha de Fuad pela reeleição. Juntamente com Lamac e Moreira, formava a trinca de aliados responsáveis pelo comando do comitê. Os três são ex-deputados estaduais e assumiram a função com o afastamento do ex-deputado federal, Danilo de Castro, para tratamento de saúde.