A decisão do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil de se desfiliar do PSD e apoiar a pré-candidatura de Mauro Tramonte (Republicanos) evidencia o desentendimento entre ele e seu ex-vice e agora prefeito, Fuad Noman (PSD). A relação entre eles, segundo fontes ligadas ao partido, começou a desandar quando Kalil renunciou ao cargo de prefeito em 2022 e decidiu concorrer ao governo de Minas, empreitada que, na sua visão, não teve apoio do seu sucessor.
Os dois começaram a trabalhar juntos em 2017, quando Fuad assumiu o cargo de secretário Municipal de Fazenda. Em 2020, ele foi convidado a compor a chapa do Kalil e, na época, a escolha foi justificada pelo seu comprometimento à frente da pasta e pela sua “lealdade” ao prefeito. Kalil chegou a afirmar ao Café com Política, da FM O TEMPO 91,7 que Fuad foi o seu “baluarte” (alicerce) na Prefeitura de Belo Horizonte durante o primeiro mandato.
Essa lealdade, entretanto, começou a ser questionada por Kalil em 2022, quando ele decidiu deixar a Prefeitura de Belo Horizonte e investir da disputa pelo governo de Minas. Segundo interlocutores próximos ao ex-presidente do Galo contaram à reportagem, Kalil teria sentido que Fuad não o apoiou na empreitada pelo cargo, o que teria gerado um ressentimento por parte de Kalil.
Logo que assumiu o cargo de prefeito, em junho de 2022, em uma entrevista à FM O TEMPO 91,7, Fuad afirmou que não iria fazer campanha para seu antecessor e padrinho político. "Tenho muita coisa para fazer, a cidade é muito grande", justificou na época. Perto das eleições gerais, o prefeito declarou apoio à candidatura de Lula à Presidência e, por consequência, à de Kalil ao governo, já que os dois estavam aliados nas eleições. Na época, o novo prefeito de BH afirmou que "se nós tivermos um governo com o presidente Lula, Alexandre Kalil, e Belo Horizonte alinhados, nós vamos ter recursos para fazer muitas obras pela cidade".
Depois disso, entretanto, não houve mais acenos públicos de Fuad à candidatura de Kalil, que acabou não decolando. O governador Romeu Zema foi reeleito ainda em primeiro turno, com 56,18% dos votos, enquanto Kalil conseguiu 35,08%.
Mudanças na prefeitura
Algumas decisões de Fuad Noman (PSD) à frente da Prefeitura de Belo Horizonte também teriam contribuído para o desgaste da sua relação com Kalil. O ex-prefeito teria se incomodado com algumas mudanças feitas por Fuad em planos articulados por ele, quando ainda estava à frente do Executivo, além da demissão da maior parte dos seus antigos secretários. Em janeiro deste ano, Fuad exonerou três pessoas próximas Kalil, duas delas por decisão própria.
O que Kalil já disse sobre Fuad
Em junho de 2023, Kalil se reuniu com o Fuad para discutir as eleições municipais, mas um eventual apoio à reeleição do seu ex-vice não avançou. Em dezembro, com as discussões sobre o pleito do ano seguinte começando a tomar forma, Kalil concedeu entrevista exclusiva a O TEMPO, em que disse que não tinha candidato à PBH. "Eu não tenho obrigação com nenhum político desse Estado, porque eu tive uma caminhada quase solitária", afirmou fazendo referência à sua disputa pelo governo.
Quando PSD formalizou a intenção de lançar Fuad à reeleição à prefeitura, Kalil não participou do evento. Em maio, durante nova entrevista exclusiva a O TEMPO, o ex-prefeito voltou a falar que não tinha certeza sobre quem apoiaria nas eleições.
"Ninguém pode exigir que eu apoie alguém quando o próprio partido não exigiu que o PSD me apoiasse na minha eleição (para governador)". Kalil, entretanto, descartou que estiver magoado: "Se tivesse mágoa, eu já descartaria o apoio ao Fuad de imediato e todo mundo saberia, porque eu não sei guardar mágoa em segredo".
A pré-campanha seguiu e, sem o apoio de Kalil, Fuad tentou amenizar a situação. Ele garantiu que é um "grande amigo" do ex-prefeito, mas que não iria forçá-lo a nada. "É uma grande liderança em Minas Gerais e tem todo direito de fazer a opção dele, de apoiar ou não apoiar quem quer que seja", declarou na semana passada, durante convenção do PSD em Belo Horizonte.