O governador Romeu Zema (Novo) e o vice-governador Mateus Simões (Novo) participaram da inauguração do estúdio audiovisual com tecnologia de ponta do jornal O TEMPO na manhã desta segunda-feira (19 de agosto). Pela primeira vez em dois anos de mandato, os dois dividiram uma bancada de entrevista juntos, no Café com Política da FM O TEMPO 91,7. Os jornalistas Guilherme Ibraim e Thalita Marinho conduziram a conversa com os representantes do Executivo estadual.

Confira a íntegra da entrevista.

Guilherme: Eu queria uma consideração a respeito, exatamente, do papel da comunicação atualmente. Tanto o governador quanto o vice-governador têm, por princípio, adotar as viagens ao interior de Minas, em uma participação muito direta com o eleitor. Mas nem sempre dá para fazer isso. Então, imagine que os canais de comunicação, as redes sociais, têm um papel importante, e pergunto sobre mais esses que a gente está inaugurando aqui: o que pode contribuir de alguma maneira para ampliar, para dar mais voz aquilo que o eleitor gostaria de saber, aquilo que o cidadão gostaria de saber?

Romeu Zema: Eu sempre falo que a imprensa, os meios de comunicação são o Quarto Poder, são um alicerce da democracia. Tanto é que, em todo país autoritário, a imprensa, os meios de comunicação são sempre controlados pelo ditador, pelo tirano. Então, eu vejo que o trabalho de vocês é fundamental para dar transparência ao setor público, para fazer denúncias, e o papel dos meios de comunicação tem de ser considerado como essencial à democracia. Muitos escândalos, muitas correções que nós já tivemos no Brasil, foi devido, muitas vezes, a algum trabalho iniciado dentro de um meio de comunicação.

Mateus Simões: E por outro lado, governador, dificilmente a gente conseguiria que as pessoas soubessem o que a gente precisa discutir com elas, efetivamente, acompanhar o dia a dia do governo, não fosse através dos meios de comunicação. E temas mais complicados, como é o caso, por exemplo, do nosso Regime de Recuperação Fiscal ou, como é o caso, da Reforma Tributária, para falar de um tema nacional, se não tivesse um tratamento jornalístico, não iam chegar nunca a ponta final, ao destinatário, que é o cidadão. Então, no final das contas, os meios de comunicação exercem dois papéis importantes: o primeiro é o de difundir a informação, mas também de tratar aquela informação de uma maneira que, às vezes, temas técnicos, temas mais difíceis possam ser compreendidos por cada uma das pessoas que vão ser afetadas por ele e a política afeta a vida de todo mundo.

Thalita: Era uma meta também do governo de Minas, comandado pelos senhores, que essa proximidade com os meios de comunicação e, consequentemente, com os eleitores, com os mineiros, acontecesse de uma forma mais natural?

Romeu Zema: Eu vou naquela velha linha que quem não deve não teme. Então, um governo que dá total transparência, que não tem o que esconder, fica muito mais fácil até de você atender qualquer jornalista. Concordam? Eu não preciso ficar pisando em ovos, não preciso ficar manipulando nenhuma informação. Minas Gerais, quando nós assumimos, de acordo com o ranking da Controladoria Geral da União, era o vigésimo estado em transparência da gestão pública. Hoje, nós somos o primeiro. Então, isso me dá e dá também ao professor Matheus um conforto muito grande. O que você pergunta, nós vamos responder de acordo com a realidade e não distorcendo aquilo que é feito.

Mateus Simões: A imprensa ainda nos ajuda a manter uma meta do governador, desde o primeiro mandato, que é a de ter proximidade com o eleitor. O governador está sempre, pelo menos, dois dias por semana no interior, e a minha tarefa que ele me deu foi de fazer o mesmo. A imprensa é a outra parte desse esforço, no esforço de estar do lado de quem confiou o voto para garantir a eleição do governador em primeiro turno na última eleição, a imprensa e a nossa forma de estar presente, inclusive na casa das pessoas, discutindo com elas os problemas no dia a dia.

Guilherme: Governador, nós tivemos, neste ano, na Lei de Diretrizes Orçamentárias, apresentado na Assembleia, uma redução bastante expressiva do déficit que estava previsto. Imaginava-se algo em torno de R$ 8 bilhões, que foi do ano anterior, e caiu para R$ 3,7 bilhões. É um número muito significativo. Eu pergunto do ponto de vista de trajetória, porque, claro, está todo mundo olhando para o Estado com uma perspectiva de que Minas saia do seu momento mais difícil, no caso, do pagamento da dívida. Hoje o senhor enxerga que o Estado está se tornando sustentável para zerar esse déficit em algum momento, e pode acontecer, seja na gestão do senhor, seja na gestão de Mateus Simões, a depender do que a política reserva?

Romeu Zema: Nós temos melhorado os números constantemente, apesar da dívida ter crescido, devido aos juros ao serviço da dívida. Eu sempre menciono que, antes, nós devíamos tipo 20 salários, como se eu fosse uma pessoa física e devesse 20 salários, hoje já caiu para 17. Então, a dívida hoje é mais pagável do que era quando nós assumimos e nós assumimos com déficit realizado em 2018, de R$ 11 bilhões. Esse déficit foi caindo ano a ano e, nos últimos três anos, nós tivemos praticamente equilíbrio. Mas é uma situação muito frágil ainda, devido ao volume que nós temos de pagar para o governo federal. Eu gosto de dizer que Minas era como se fosse um paciente na UTI, quase que desenganado, e hoje é um paciente que já anda no corredor do hospital. Mas o que nós queremos é ser um atleta olímpico, então nós ainda temos um longo caminho pela frente, mas nós estamos na direção correta e temos melhorado constantemente. Isso é que é o importante, milagre não existe. Você consertar um estado do tamanho de Minas com aquela situação gravíssima em dois anos, em cinco anos, é trabalho talvez para mais dez anos ainda, mas Minas tem futuro se essa disciplina continuar.

Mateus Simões: Nós conseguimos ter, nos últimos três anos, um pequeno superávit. Apesar da previsão da Lei Orçamentária de déficit, a gente passa o ano todo apertando as contas para fazer com que ela caiba dentro da previsão orçamentária do que a gente está arrecadando. E aí é muito importante a decisão do governador de não focar em aumentar imposto. Nós não aumentamos nenhum tributo ao longo desse período. Focar em melhorar a condição de produção da economia, gerando mais emprego, a gente tem mais riqueza circulando. Minas hoje comemora a situação de Estado com menor índice de desemprego do Sudeste, situação de pleno emprego considerada assim pelo governo federal. Na trajetória de leitura histórica de desemprego, o desemprego nunca foi tão baixo em Minas Gerais quanto ele é hoje em toda a série histórica de medida de desemprego no Brasil. Então, uma parte considerável da decisão do governo é não mexer na linha de aumento de arrecadação por aumento de impostos, mas em equilibrar na conta pela lógica de melhorar a condição econômica que está acontecendo efetivamente.

Thalita: Eu lembro que, em uma das primeiras entrevistas que o senhor, governador, concedeu aqui para a FM O Tempo, ainda a Rádio Super, há alguns anos, o senhor falava muito sobre desburocratizar para que empresas chegassem. E depois, também o professor Mateus, quando se apresentava no governo e depois, quando candidato eleito, também falava disso, que era uma meta continuar a desburocratização do Estado para que novos investimentos chegassem. A gente consegue dizer, hoje, que Minas está no centro das atenções de grandes empresas, que querem, que procuram espaços para investir?

Romeu Zema: Com toda certeza, Thalita. Minas tem recebido um volume recorde de investimentos. Desde que nós assumimos, nesses cinco anos e sete meses, foram R$ 440 bilhões. Para efeito de comparação, o governo anterior ao meu atraiu 26. Então nós saímos de 26 para 440, é um crescimento que dá 1.000%. E a atividade econômica em Minas fica mais diversificada, dependendo cada vez menos da mineração, o que é muito bom. A mineração tem data para acabar, pode ser daqui a 30 ou 100 anos, mas vai acabar. E nós precisamos ter um substituto. E, além disso, temos, hoje, um Estado que é sinônimo de credibilidade, porque quem investe aqui sabe que vai ter energia elétrica, que se nos comprometermos a realizar uma obra de infraestrutura para ter acesso, essa obra será realizada. E estamos agora caminhando para aquela marca que mais vai me dar orgulho no meu governo, que é de 1 milhão de empregos formais gerados. Penso que até o final do ano que vem ou início de 2026, nós vamos superar essa marca de 1 milhão de mineiros que conseguiram trabalho com carteira assinada. Isso faz diferença em um país. Em um Estado, então, nem se fala. É o que o professor Matheus falou: hoje, na maioria dos municípios, nós temos pleno emprego, só não trabalha quem não quer.

Mateus Simões: Ontem eu fui na Stock Car para fazer a entrega do troféu de primeiro lugar, e até não tive a oportunidade de falar isso ainda com o governador, mas achei interessante que fui abordado em dois dos estandes por empresas que aproveitaram a Stock Car para fazer visitas oficiais com seus presidentes e dirigentes, uma empresa chinesa e uma empresa inglesa, que estão aqui olhando que oportunidade de vir para Minas Gerais. Minas Gerais está, inclusive, se internacionalizando. A gente tinha desaparecido do cenário internacional enquanto destino para investimento e a gente voltou ocupar uma posição importante em setores tradicionais, como é o caso da mineração, mas inovando, como é o caso do Vale do Lítio. O governador tem promovido, pessoalmente, inclusive com duas idas aos Estados Unidos para captar investimento que estão lá já operando, mas também setores em que era insuspeita a nossa participação. Para mim, o mais interessante a se olhar para o agronegócio e ver que Minas é campeã em produção de vinho, campeã em produção de azeite. Porque a gente é o maior produtor de café do mundo, a gente já sabia; que a gente é maior produtor de queijo do Brasil, a gente já sabia. Mas não é só nisso. Então, a gente está conseguindo diversificar a economia de forma que todo mundo seja incluído. A gente não está mais falando só do crescimento do Sul ou do Triângulo Mineiro, como muita gente durante muito tempo ficou com medo de que fosse isso o destino de Minas, crescer perto de São Paulo e crescer no Triângulo, nós estamos conseguindo fazer todo mundo andar de braço dado.

Guilherme: O que está faltando ainda para (o Propag) ser uma proposta ajustada aos interesses e às necessidades de Minas?

Mateus Simões: Eu acho que a proposta está dentro daquilo que nós esperávamos. Poderia ser melhor, essencialmente se em dois pontos. Ela não trata do passado e nós, hoje, temos uma dívida de R$ 160 bilhões, que começou com 16 bilhões. Se ninguém pegou empréstimo nesse meio do caminho, é sinal de que o juro estava errado, não tem condição esse juro de agiotagem que foi praticado contra os Estados pelo governo federal. Mas o que é uma decisão política, inclusive, uma exigência do governo federal, que a gente não mexesse no passado. Segunda coisa: a gente não vai conseguir ter aquele desconto para cada R$ 1 de federalização, 0,50 centavos de desconto, que tinha sido discutido inicialmente. Superando esses dois pontos, o texto está dentro daquilo que a gente esperava. Ele é, sim, capaz de nos colocar nessa trajetória que o governador insistiu aqui agora mesmo, a trajetória de recuperação do equilíbrio econômico de Minas Gerais. Nossa preocupação é o timing de tramitação agora na Câmara, porque a expectativa é que, durante o período eleitoral, não haja condição de discussão desse tema dentro da Câmara. Ele estava muito maduro no Senado, mas lá dentro da Câmara ele ainda é novidade, começando essa semana, e nós temos um prazo até dia 28. Agora faltam nove dias para que a gente ou aprove uma alternativa ou vote aqui em Minas Gerais o antigo Regime de Recuperação Fiscal. Nós estamos buscando junto ao ministro Nunes Marques uma audiência de conciliação com a União. Nossa sugestão, até para o ministro, é que também sejam chamados Senado, Câmara e Assembleia Legislativa, para que a gente possa aguardar a votação do Propag antes de obrigar a nossa Assembleia a votar um tema que vai morrer se o Propag for aprovado. As pessoas não entendem por que eu fico tão aflito de obrigar os deputados a votar o RRF se não faz diferença. Por que não vota se não faz diferença? Para que eu vou gerar o desgaste para os deputados de votar um projeto se esse projeto morre na sequência com aprovação do Propag e se eu já estou pagando a minha dívida? Não vou me render aqui não, mas eu fico bravo quando eu vejo alguém falando que Minas Gerais está buscando a suspensão do pagamento da dívida. Minas Gerais já está pagando a dívida. Nós já pagamos R$ 2 bilhões esse ano da dívida, mas já pagamos mais de R$ 5 bilhões se a gente contar esse segundo mandato do governador. O que nós estamos querendo é só adiar a votação na Assembleia. Nós já estamos pagando como se estivesse no regime de recuperação fiscal, porque foi assim que o STF determinou que a gente fizesse e é assim que a gente gostaria de continuar fazendo até que o processo seja analisado lá na Câmara. Mas acho que está em bom tamanho, respondendo sua pergunta diretamente. Se for aprovado desse jeito, não resolve a injustiça histórica praticada contra Minas Gerais, mas nos coloca na condição de devolver as contas.

Thalita: Em qual nível está hoje a preocupação que os senhores já falaram com a gente aqui, inclusive em outras oportunidades do Café com Política, de não conseguir pagar mais o funcionalismo em dia, de impactar as questões das finanças do Estado de forma direta, essa não resolução da dívida do Estado?

Romeu Zema: Se nós tivéssemos de pagar na modalidade ordinária, que é o que vinha sendo feito até nós termos obtido a liminar há alguns anos atrás, o Estado estaria com três, quatro, cinco meses de atraso do funcionalismo e nós simplesmente não temos condição de pagarmos a dívida na modalidade prevista antigamente, que deve ser mudada agora que é IPCA mais 4%. O IPCA mais 4 significa o quê? Como se uma pessoa, todo ano, tivesse de pagar a prestação da casa e todo ano a prestação subisse, além do reajuste salarial, mais 4%. Durante um ano, dois, três, quatro, cinco, você vai tolerando, absorvendo aquilo, mas chega num ponto que a prestação pode se passar a significar a metade, 70% da remuneração da pessoa. Isso acontece em 30 anos. Esses 4% ao ano fazem uma diferença gigantesca no longo prazo. E nós temos de lembrar que em 2015 e 16, nós tivemos recessão. A arrecadação de Minas, em vez de subir, caiu, e a prestação com o governo federal só aumentou. A partir daquele ponto, o Estado passou a desandar e o governo federal tem de entender o que, dois pontos: não adianta ele quebrar vários estados além de Minas, nós temos o Rio de Janeiro, o Rio Grande do Sul e Goiás, que também enfrentam dificuldades e ainda por cima, depois têm que ajudar. É melhor você fazer alguma coisa para viabilizar, é o que se faz com empresa que está em recuperação judicial, é o que se oferece para a empresa que está totalmente endividada, então é muito mais barato do que uma intervenção federal. E lembrando que Minas é um Estado que manda muito mais recurso para Brasília do que recebe. Nós mandamos aproximadamente R$ 150 bilhões por ano para Brasília e, pelo que eu sei, recebemos alguma coisa como 60, 70, a metade disso. Então, o Brasil ganha com Minas Gerais como estado viável. Nós temos de entender isso.

Guilherme: Como é que os senhores, governador e vice, encararam uma nova apresentação que foi feita pelo MP do TCU, questionando a participação de Minas dentro do Regime de Recuperação Fiscal, fazendo uma vinculação ao reajuste salarial que foi feito e que está sendo popularmente dito, o reajuste dos 300%? Você viu alguma questão ou algum ponto de vista que tenha sido político?

Romeu Zema: Eu vejo que tem aí um fator político muito grande. Nós temos de lembrar que esse reajuste que ficou tão famoso, foi feito para corrigir uma distorção. Imagine que na Polícia Militar, um coronel ganhasse menos do que um tenente. Ele ia querer ser promovido a coronel? Não ia. Ele ia querer chegar até um ponto que ele falasse ‘não quero ter queda’. E no Estado, nós estávamos enfrentando uma questão que já estava há 20 anos sendo empurrada com a barriga. E eu, como eu disse, eu sou um governador que gosta da transparência. Em vez de ficar dando cargos para secretários, vamos fazer o certo. O secretário de Minas, hoje, não ganha diferente a mais do que a dos outros estados. Não, ganha igual. E, antes, nós tínhamos um secretário de Estado, como o de Educação, que lidera mais de 200 mil  funcionários, ganhando menos que um secretário de educação de um município pequeno. O que eu fiz foi corrigir, e para corrigir o salário de secretário, eu tive de corrigir o meu, porque o salário dele é vinculado ao meu. Então, estão fazendo muito barulho em cima de um tema muito pequeno. Agora, ninguém fala que eram 23 secretarias, 21, e nós reduzimos para 13. Ninguém fala isso, ninguém fala que o ex-governador tinha 32 empregadas pagas pelo estado no Palácio e que eu moro na minha casa e não tenho nenhuma empregada. Se alguém me provar que eu sou um governador que custa mais do que o meu anterior, eu aposto aqui, eu pago R$ 100 mil se alguém me provar que eu custo mais do que o anterior. Todo mês eu economizo.

Mateus Simões: Além disso, eu fico tentando entender o timing, porque nós estamos falando de uma discussão de dois anos atrás e, agora, ela aparece como se fosse um impeditivo para a adesão ao Plano de Recuperação Fiscal. Tem, obviamente, um movimento político por trás disso. Mas eu espero só que isso não tumultue a verdade. A verdade é que Minas Gerais entrou numa trajetória sob o governo do governador Romeu Zema de equilíbrio de contas e tentar distorcer isso, fazendo populismo com joguete de números. O governador estava chamando atenção para o fato da diminuição do número de secretarias e o fato de que nós não temos mais secretários que ocupem quatro, cinco conselhos, como acontecia antigamente, que faziam uma complementação por fora da remuneração. Não estão lembrando disso porque nós tínhamos secretários do governo anterior que ganhavam mais de R$ 150 mil e basta procurar por mês. Basta procurar na imprensa. Nós não temos ninguém e nem próximo disso. Os nossos secretários estão, hoje, com a remuneração que é dada a eles, que é a remuneração menor do que a de um deputado, menor do que a de um desembargador, uma remuneração adequada para a atividade que eles exercem. Agora, não tinha cabimento eles estarem com o salário congelado há 20 anos, como eles estavam por conta de um manobra populista que foi feita lá atrás, que trocou os reajustes deles por esses penduricalhos que iam sendo dados, que o governador, hoje em dia, não permite mais que aconteça.

Thalita: Os senhores imaginavam o impacto desse reajuste quando ele foi dado? E agora, nessa retomada desse assunto?

Romeu Zema: Quem não gosta de ver as coisas darem certo sempre vai pegar e procurar cabelo em casca de ovo. Como eles não encontram nada de grave no meu governo, eles estão usando isso. Você concorda? É um governo que não tem corrupção, que não tem escândalo, que tem gente competente. Eu queria que alguém provasse que secretário, que governador de Minas, ganha mais do que em outros estados. Se me provar, é igual falei, é aposta, tá aí, eu pago R$ 100 mil se alguém me provar que nós estamos diferentes dos outros.

Mateus Simões: E também é difícil por que vai criticar o que na educação? Melhores índices do IDEB históricos. Vai criticar o que na saúde? Maior volume de investimento da história? Vai falar o que é de infraestrutura, com mais três mil quilômetros recuperados. Falar o que de segurança com a polícia mais efetiva do Brasil? Então, aí vamos procurar alguma poeira pra gente jogar para cima. Faz parte.

Romeu Zema: Lembrando que nós corrigimos uma distorção, mas aí, o que aparece aí, agora, que reduzimos gasto, ninguém mostra. No total, eu tenho certeza que os gastos são menores. Tanto é que nós saímos de um déficit de 11 bilhões em 2018 para equilíbrio no último ano do governo, quer dado melhor do que esse?

Mateus Simões: Os governadores iam de helicóptero trabalhar todos os dias. O senhor já foi trabalhar de helicóptero alguma vez na vida? Ninguém nunca usou helicóptero.

Romeu Zema: Esse feriado fui para minha cidade de carro, fui e voltei. Eu poderia até ir de avião. Isso não aparece em lugar nenhum.

Guilherme: Ainda há muitos ecos da decisão do partido Novo de estar junto numa candidatura do Republicanos, e no Republicanos turbinado com a presença de Alexandre Kalil. A minha pergunta é muito simples, governador: como é que a mesa vai sentar - Romeu Zema, Alexandre Kalil, Luísa Barreto, Mauro Tramonte -, todo mundo vai sentar, em algum momento, para discutir, ou as coisas são completamente separadas e cada um toca sua questão?

Romeu Zema: Eu continuo alinhado. Eu não mudei nada os meus princípios, as minhas propostas, continua alinhado. Eu continuo na mesma religião e no mesmo time. Agora, se alguém veio para a torcida e veio para o templo que eu frequento, tem que perguntar para ele. Eu não mudei nada, entende? Então, nós vamos continuar levando adiante a nossa proposta. Em 2022, na minha reeleição, estávamos juntos com Republicanos. Republicanos, lembrando aqui, é o partido do Mauro Tramonte, é o partido do governador Tarcísio, com quem eu me relaciono muito bem. É o partido do senador Cleitinho. Agora, se veio alguém de fora, você tem que perguntar para ele.

Mateus Simões: Me perguntaram ontem, mas como é que foi cumprimentar o Kalil? Eu falo: gente, eu, o governador, ganhamos a eleição. Não cumprimentar quem perdeu seria até falta educação. Então, nós estamos aqui, continuamos trabalhando do mesmo jeito que a gente trabalhava antes. Se ele quiser ajudar, a gente não recusa ajuda de ninguém, não.

Romeu Zema: Quem está numa torcida não tem controle sobre quem vem torcer junto, não é isso?

Thalita: Ainda em relação às eleições, governador e vice, esse foi o assunto mais comentado da semana passada. Nós falamos sobre isso aqui algumas vezes e como é que foi dentro do Partido Novo, principalmente em relação à Luísa? A gente tinha uma posição muito forte da Luísa, secretária de Governo de Minas, se ela queria ser a cabeça de chapa para disputar a eleição de Belo Horizonte, ela tinha esse desejo. Ela falava isso com a gente e acabou compondo uma chapa com Mauro Tramonte. Foi tranquila essa decisão dentro do Partido Novo?

Mateus Simões: Vou falar na posição de vice. O governador me permite participar da gestão dele sob o comando dele, mas com atuação efetiva. Eu tenho certeza que o Mauro vai ter uma relação parecida com Luísa e a chapa Mauro-Luísa tem uma vantagem. Luísa é o nome técnico mais capacitado dentro do Estado hoje para governar uma cidade. Eu não tenho dúvida nenhuma. Não há ninguém no tíquete eleitoral com a condição técnica de Luísa para conduzir Belo Horizonte. Mas Mauro tem uma capacidade de escuta, de empatia, por ter ficado mais de 15 anos à frente de um programa como o Balanço Geral, ouvindo os problemas da cidade no dia a dia, que Luísa obviamente não tem. A junção dessas duas coisas, a empatia do Mauro, a capacidade de conhecer e entender a cidade, e a capacidade de realização de Luísa, vão fazer a diferença por Belo Horizonte. Mais importante que é ser cabeça de chapa, é garantir que a gente vença essa eleição para que Belo Horizonte se livre de 32 anos de governos medíocres que fizeram com que a cidade andasse para trás, caminhando na direção de uma esquerda não produtiva. A cidade está cada dia mais suja, mais feia, mais pobre, mais perigosa há 30 anos, e a gente quer quebrar esse ciclo. Os dois juntos vão ser capazes de fazer essa virada de momento histórico em Belo Horizonte.

Guilherme: Teve uma manifestação específica do Partido Novo, na sua direção nacional, foi no dia seguinte à decisão das convenções, e ela estava evidentemente direcionada ao Alexandre Kalil, dizendo “esperamos que alguém não tenha tido oportunismo político”. Eu lhes pergunto: a direção nacional tem dois membros que são de Minas Gerais e que, imagino, conheçam essa realidade ou foram pegos de surpresa com a decisão? Ela estava guardada a sete chaves e só depois que aconteceu o desenrolar disso é que eles foram comunicados?

Romeu Zema: Eu não sei exatamente como que foi a velocidade lá dentro, depois o Matheus pode dizer, mas eu posso te dizer o seguinte: o Partido Novo tem amadurecido muito na gestão do Eduardo Ribeiro. Quando eu tive a minha reeleição, em 2022, fazer alianças com outros partidos foi uma resistência que nós tivemos de vencer, e vejo que, agora, essa questão de ser vice, mais uma vez, então é um partido que está aprendendo. É o único partido no Brasil que foi criado por não políticos. Então nós estamos numa curva de aprendizado e temos aprendido e pode ter havido, aí o Matheus acompanhou mais de perto, alguma questão de não avisar, comunicar adequadamente, internamente. Como que foi, Matheus, você que estava mais próximo?

Mateus Simões: Eu fui surpreendido pela filiação do Kalil, afinal de contas, a gente estava até a véspera vendo o comando do PSB comemorando que o Kalil estaria na campanha de Fuad e a gente já estava, àquela altura, com as nossas conversas finalizadas com o Republicanos. A conversa nossa com o Republicanos fechou três semanas antes da convenção, porque a gente tem um timing político de fazer anúncio. Uma semana, antes aparece Kalil, eu acho que o Novo, de alguma forma, não vou falar que foi surpreendido porque o Republicanos está no direito de receber lá nos seus quadros quem quiser. Mas é um pouco também aquela questão de respirar fundo antes de escrever. Eu não, eu não sou tuiteiro. Então eu respiro fundo antes de falar. Porque quando você fala sem ter tempo de reflexão ou de analisar, você corre o risco de, às vezes, exagerar um pouquinho no tom da sua manifestação. Acho que talvez tenha acontecido um pouquinho isso, mas o Novo tem razão numa coisa e a gente não pode permitir oportunismo político. E tem certeza que isso não aconteceu da parte de Mauro e da parte de Luísa. Então, o importante é garantir que a cidade fique livre de traumas como Maria Caldas. Eu vi alguém falando de Maria Caldas aí outro dia. Ninguém merece, né, gente? Essa mulher atrapalhou a cidade durante duas décadas. Eu espero que, eu não sei onde ela está, mas que ela permaneça onde ela estiver.

Thalita: Ainda falando sobre a questão das eleições 2024, um pouquinho de esquerda e de direita. Parecia um pouco óbvio que Partido Novo e o PL conversassem nessa eleição aqui em Belo Horizonte, principalmente, para a capital mineira e outras cidades importantes. Também houve uma tentativa?

Romeu Zema: Nós tivemos várias conversas. Estamos caminhando com o PL em diversas cidades Nós estaremos juntos, disputando o pleito municipal, dando apoio.

Mateus Simões: Mais de 40, mais de 40 de cidades e algumas grandes, como Contagem, com Junio Amaral, com Flávio. Em Uberlândia estamos todos falando de Paulo Sérgio.

Romeu Zema: Então são muitas cidades importantes, mas pesou também a decisão da Luisa Barreto, que tem de ser levada em conta. Ela é a candidata e ela disse que uma química melhor, uma combinação melhor seria com o Mauro Tramontina. É isso, professor?

Mateus Simões: É, acho que, de qualquer forma, falando de direita e esquerda e nós não nos juntamos a ninguém que não seja da centro-direita. Pesquisa divulgada hoje mostra Tramonte com 30% dos votos, Bruno Engler com 15% dos votos. E aí o resto do pessoal abaixo de 10%. Então isso mostra que nós provavelmente teremos uma vitória no primeiro turno de Mauro ou um segundo turno com dois candidatos de centro-direita. O Novo continua colocado do lado do partido do governador Tarcísio. O governador lembrou bem e que o Republicanos com quem nós estamos juntos, que é o Republicanos de Tarcísio, e o partido que esteve conosco já na nossa candidatura. E o fato da gente não estar no PL em todas as cidades não muda o fato que nós estamos em várias e o PL está conosco em várias. Como é em Divinópolis, por exemplo, PL conosco lá com Gleydson. Então nós estamos caminhando junto no estado quase todo.

Thalita: Pensando nessa linha do tempo: 2022, partido do Tarcísio, do governador Romeu Zema; 2024, partido do Tarcísio, do governador Romeu Zema. Em 2026, a gente pode ter Tarcísio governador, Romeu Zema em alguma esfera política, governador?

Romeu Zema: Falar do passado e do presente é fácil. Do futuro, nem entanto, precisava de uma bola de cristal aqui. Mas o que eu posso te assegurar é que nós, governadores de centro-direita, eu, governador Tarcísio, governador Ratinho, governador Caiado, até mesmo Eduardo Leite, Mauro Mendes, do Mato Grosso, temos tentado construir um grupo para viabilizarmos um nome em 2026, com apoio de todos. Isso vai ter de superar questões de egos, questões partidárias. Não é fácil, mas a centro-direita precisa aprender a trabalhar mais unida, que ela ficaria muito mais forte e teria, inclusive, condição de ganhar uma eleição até em primeiro turno. Então, espero que esse trabalho continue e frutifique. E eu já falei que terá meu apoio incondicional. Eu quero ajudar o Brasil, ou sendo candidato, ou ajudando um candidato, ou varrendo a sujeira de Brasília, entende? Para mim, como foi para ser governador de Minas, eu quero é contribuir, independentemente de como.

Guilherme: Em nome exatamente desse ponto que eu mencionei, dessa mirada para o seu campo político, governador, descarta por completo a hipótese de se candidatar ao Senado, por exemplo, daqui algum tempo?

Romeu Zema: O legislativo não é comigo. Eu sou muito mais de fazer do que de falar, entende? Então eu não seria, na minha opinião, um parlamentar muito produtivo e acho que não teria paciência também de ficar lá. Lembrando que o meu histórico, eu fiquei 30 anos inaugurando lojas em todo o estado e mais de 400 cidades. Meu negócio é pôr a mão na massa. Tem gente que gosta de debater, etc, respeito. É necessário, mas eu gosto é de fazer acontecer.

Mateus Simões: Eu sou mais eclético. Tive minha passagem pela Câmara Municipal, que para mim foi importante. Agora eu aprendo muito com o governador a respirar fundo antes, porque no mundo parlamentar, a gente está acostumado a responder. Na velocidade que veio, você devolve. O governador é muito mais refletido que isso. O Executivo demanda mais isso. Você tem que ter, inclusive, consciência de que você é um só e que você tem que acomodar o estado inteiro e, portanto, te obriga muitas vezes a ter conversas que você não gostaria de ter exatamente daquele jeito ou de adotar procedimentos um pouco diferente daqueles que você precisaria, porque você precisa formar maioria dentro da Assembleia, dentro do Congresso. Então, essa tranquilidade com que o governador toca os assuntos no Executivo vem me ensinando que o parlamento é muito bom. A discussão é muito boa, mas a gente precisa ter certeza que as coisas aconteçam. Então, em algum momento, tem que parar de discutir, realizar.

Guilherme: A nossa pesquisa mostrou, evidentemente, que um em cada quatro eleitores está ali, de alguma maneira, sujeito a influência da sua participação, do seu governo, da sua opinião e de Alexandre Kalil, para escolher o próximo prefeito de Belo Horizonte. Diante desse número, queria perguntar de que maneira vai participar na eleição de Mauro Tramonte? É participar subindo no palanque com ele uma vez por semana? Já definiu exatamente como vai fazer isso, porque me parece muito evidente que a participação da figura do senhor nisso pode gerar um ativo positivo para ele?

Romeu Zema: Vou participar ativamente, sim, Guilherme, subindo no palanque, indo em eventos, é só questão de nós estarmos ajustando essas agendas aí. É o meu compromisso com ele, com a Luísa Barreto.

Thalita: Professor, quantas prefeituras ou o que o Novo pretende nessa eleição de 2024? Há uma expectativa de números para fazer o partido crescer hoje, principalmente nessa eleição?

Mateus Simões: O fim dos registros na semana passada mostrou que o Novo é o quarto partido com maior número de candidatos no Estado de Minas Gerais. Nós temos candidatos a vereadores em mais de 100 cidades e candidatos a prefeito ou vice-prefeito em mais de 40. A nossa expectativa é que a gente tenha um crescimento muito considerável, saindo dos nossos dois atuais prefeitos, prefeito de Patos de Minas e de Divinópolis, para a gente chegar a pelo menos 20 cidades entre prefeituras e vice-prefeitos, e tentar passar de 60 cidades com presença de vereadores. Como o governador disse, é um partido jovem e que foi formado por não políticos e que está ganhando velocidade ao longo do tempo. É uma curva de aprendizagem. Eu, o governador, comungamos de uma opinião de que nós perdemos um ciclo eleitoral municipal a quatro anos atrás. A direção nacional era outra naquele momento, nos atrasou pouco, mas respirando fundo e olhando para frente em vez de olhar para trás. É um ano muito positivo para o Novo em Minas Gerais e no Brasil. Minas Gerais e Santa Catarina são os dois estados em que o Novo desponta com mais força e onde ele está presente em mais cidades, em mais volume. E a gente tem certeza que isso vai continuar acontecendo na hora que a gente apurar as urnas esse ano.

Romeu Zema: E eu queria completar dizendo que onde tem gestão do Novo, o índice de aprovação é muito acima da média. O prefeito Falcão não vai ter concorrente lá em Patos de Minas. Aparentemente, a última candidatura vai ser retirada, então ele deve ser candidato único em uma cidade de 160 mil habitantes. Isso demonstra a aprovação do governo dele e o receio de alguém entrar e levar uma goleada. Em Joinville não é diferente. Temos lá um prefeito em uma cidade enorme, com índices de aprovação que beira os 90%. Isso é porque nós temos regras de gestão e o que nós estamos fazendo em Minas. O que nós fazemos é gente competente e gente comprometida, metas, acompanhamento e acabar com ineficiência, com desperdício, combater corrupção, combater privilégios e sobrar dinheiro para aquilo que é importante: educação, saúde, segurança pública e receber investimentos. Então, é uma regra simples, mas que no Brasil não se aplica. Aqui você precisa estar sempre distribuindo privilégio para poder ganhar cabos eleitorais. E nós temos quebrado essa regra, graças a Deus.