Apesar das ações realizadas pelo governo federal em Minas Gerais e no Espírito Santo, tentativa de popularizar a adesão de vítimas do rompimento da barragem do Fundão, em 2015, ao acordo de Mariana, os atingidos ainda demonstram insatisfação com os rumos da repactuação. Representante do quilombo da Gesteira, destruído pelo mar de lama, Simone Silva destacou a sensação de que os atingidos foram "traídos" pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Conforme relatado à reportagem de O TEMPO, o quilombo foi excluído do Anexo 3 do acordo, que trata de Povos Indígenas, Quilombolas e Tradicionais. O grupo nega ter participado das discussões envolvendo o acordo desenvolvido pelo Ministério Público, os governos de Minas, Espírito Santo e federal. "Que justiça é essa? Que governo dos pobres é esse? Estou falando isso porque nós votamos em Lula. Elegemos Lula, organizamos nossas bases", relembrou Simone.
"Tivemos uma reunião com o pessoal da caravana (interministerial, que passará por municípios para informar a população sobre os termos do acordo). Fiz uma pergunta para a representante do governo federal: 'Você tem noção de quantos atingidos são hoje na bacia?' Pelos números da ação de Londres, são cerca de 800.000 atingidos. Então eu respondi: 'Desses 800.000 atingidos, nenhum votará nesse governo que nos traiu. Esse governo que fala tanto de golpe, mas que golpeou os atingidos'", desabafou.
Simone ainda enfatizou o desconforto com uma fala do presidente Lula em defesa das mineradoras do país. O chefe do Executivo federal e o CEO da Vale, Gustavo Pimenta, se reuniram no fim de janeiro em Brasília. Pouco tempo depois, o CEO da mineradora declarou que há "enorme convergência" entre os projetos da empresa e do governo federal.
Indenizações
O Programa Indenizatório Definitivo (PID), que prevê o pagamento para os atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, fica aberto até 26 de maio, com a previsão de que os pagamentos se iniciem ainda no primeiro semestre de 2025 - para as cidades afetadas, o prazo já foi encerrado. Previsto no acordo de repactuação e disponível desde fevereiro, o ele oferece o pagamento de uma parcela única e individual de R$ 35 mil para requerentes elegíveis, incluindo pessoas físicas e jurídicas.
De 24 a 28 de março, o Governo Federal realiza uma caravana interministerial em municípios inseridos no Novo Acordo do Rio Doce para "informar e esclarecer dúvidas da população local sobre os termos do acordo". As ações ocorrem de forma simultânea em 22 territórios de Minas Gerais e Espírito Santo, tendo o início marcado com a presença do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, em Belo Horizonte.