A ida do vice-governador Mateus Simões (Novo) à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para apresentar os termos de adesão ao Programa de Pleno Pagamento da Dívida dos Estados (Propag) foi marcada por diversas referências ao ministro Fernando Haddad, por afagos aos deputados da base de Romeu Zema (Novo) e por uma comitiva com sete secretários de Estado. Pré-candidato ao governo de Minas em 2026, Simões passou cerca de cinco horas na Casa nesta quinta-feira (8 de maio).

Logo depois de se referir ao Propag como uma “solução estruturante”, Simões provocou Haddad, dizendo que gostaria de não pagar a dívida assim como fez o ministro quando era prefeito de São Paulo. “Eu já falei isso pra ele”, disse o vice de Zema. “Eu queria que ele negociasse por Minas Gerais como ele negociou a dívida de São Paulo. Ele, quando prefeito de São Paulo, conseguiu zerar a dívida. Entregou o Campo de Marte etc.”, emendou.

Simões tentou vincular o indexador atrelado à dívida dos Estados, formado pelo IPCA mais uma taxa de 4 pontos percentuais de juros, ao ministro da Fazenda. “Eu pago hoje 4% de juros. Haddad exige, a lei federal do governo Lula 2 exige que a gente pague 4% de juros além da inflação. Em uma dívida de R$ 170 bilhões, isso significa desembolsar R$ 6,5 bilhões por ano para pagar juro. Esse é o mecanismo de agiotagem oficial mais perverso que eu já vi”, criticou.

O vice-governador voltou a citar Haddad ao ressaltar que o Estado de Goiás já teria desistido de aderir ao Propag e que os Estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul sequer estão negociando a adesão. “O único Estado que está negociando o Propag neste momento é Minas Gerais. As reuniões da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) são só conosco. Haddad só conversa conosco. Nós somos os únicos interessados no programa”, apontou ele.

Simões ainda ressaltou que o Propag, da forma como foi sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é “pior” do que aquele aprovado pelo Congresso Nacional. “O Propag que nós estamos discutindo com os senhores hoje não é o Propag defendido pelo presidente (Rodrigo) Pacheco, aplaudido pela ALMG em dezembro de 2024 e comemorado pelo governo de Minas. É um outro Propag”, destacou o vice de Zema, que ainda questionou as “restrições” do programa.

A interação com os deputados também chamou a atenção. Desde o início, Simões fez questão de chamá-los pelos próprios nomes ao longo da apresentação. Ao pontuar que Minas Gerais tem as “contas comprimidas”, o vice-governador se dirigiu ao líder do bloco “Avança Minas”, Noraldino Júnior (PSB), por exemplo, para citar as dificuldades em investimentos na saúde de Juiz de Fora, Zona da Mata, cidade onde é o domicílio eleitoral do parlamentar.

Mais tarde, antes de apresentar uma retrospectiva da renegociação da dívida do Estado com a União, Simões citou o deputado Raúl Belém (Cidadania), que, segundo ele, se lembraria que o pedido do Estado para aderir ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) foi encaminhado à ALMG ainda em 2019. Na ocasião, lembrou o vice-governador, Belém era líder do governo Zema, posto que viria a deixar em fevereiro de 2021.

O mesmo foi feito com o presidente da Comissão de Saúde, Arlen Santiago (Avante), quando Simões ironizou a previsão do Propag de zerar a taxa de juros. “Quando você bate o olho na lei, você tem uma alegria incontida. Se você não ler ela com mais cuidado, você acha que nós ganhamos na loteria, porque a lei fala que o juro é zero a partir de agora. Deputado Arlen Santiago, o senhor imagina se a gente tivesse zero de juro…”, disse o vice-governador.

Durante a reunião, Simões foi acompanhado por sete secretários, mais o advogado geral de Estado, Sérgio Pessoa de Castro, que não se manifestaram. Estiveram lá as secretárias de Planejamento e Gestão, Sílvia Litsgarten, e de Desenvolvimento Econômico, Mila Corrêa da Costa, e os secretários da Fazenda, Luiz Claudio Gomes, de Educação, Igor de Alvarenga, de Infraestrutura e Mobilidade, Pedro Bruno, de Justiça e Segurança Pública, Rogério Greco, e o secretário geral, Marcel Beghini.

Desde o início do segundo mandato de Zema, em 2023, Simões tem ganhado protagonismo. Em outubro de 2024, o governador repete que quer fazer o sucessor em Minas, se referindo ao vice-governador, quem define como “meu braço-direito”. O ex-vereador de Belo Horizonte concilia alterna agendas no interior com o próprio Zema e participa do lançamento de programas ou, então, de entregas de obras e viaturas.

Após a apresentação de Simões, a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) avaliou a ida do vice em vez de Zema à ALMG como uma “decisão política”. “Eu classificaria a vinda do governador como uma gentileza ao Poder Legislativo, é um simbolismo e simbolismo são importantes, mas também é um marketing para demonstrar uma pessoa preparada, que tem um conteúdo e que sabe explicar as coisas. Só que tem informações que não são reais”, criticou ela.

O líder da minoria na ALMG, Cristiano Silveira (PT), questionou por que a apresentação de Simões ocorreu sem que os deputados tivessem acesso aos projetos protocolados nessa quarta. “Pedimos: ‘Nos dê um prazo para analisar e faça a apresentação adiante para a gente já começar a fazer um debate mais qualificado’. Insistiram de que imediatamente queriam fazer a apresentação”, criticou ele, que também é presidente estadual do PT.

Questionado, Simões pontuou que, desde 2020, quando assumiu a Secretaria Geral, ele é responsável pela condução técnica do governo. “Lamento que alguém fique incomodado. Queria que a gente visse com tranquilidade e normalidade. Na verdade, o que me incomoda é o contrário. Por que isso não acontece mais? Pra mim, toda vez que mando um projeto pra cá, deveria vir à ALMG e ter a oportunidade de explicar por que eu estou mandando”, apontou o vice-governador.

Ele ainda afirmou que, quando vai à ALMG, reclamam de ter ido, e que, se ele não fosse, iriam lhe acusar de não ter diálogo. “Prefiro pecar pelo excesso”, disse Simões. “Claro, tem uma provocação ou outra, mas fiz o meu possível, apesar de ser uma pessoa mas sanguínea, para não cair em nenhuma das provocações. Não participei de nenhuma baixaria. Tentei ser delicado com os que foram delicados e tentei não me ofender com aqueles que tentaram me espezinhar de alguma forma”, concluiu.