O deputado federal pelo estado de São Paulo e liderança do Movimento Brasil Livre (MBL) Kim Kataguiri (União Brasil) diz não ter dúvidas de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve a um passo de dar um golpe de Estado no Brasil. O que só não aconteceu, segundo ele, ‘porque o comandante do Exército disse não’. Em entrevista ao Café com Política, exibido nesta sexta-feira (25) no canal de O TEMPO no Youtube, o antigo aliado do ex-presidente também apontou o que chamou de ‘ações autoritárias’ do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento da tentativa de golpe no país.
“Eu não tenho dúvida de que você tem provas robustas em relação a isso (tentativa de golpe). Agora, eu não vou defender a maneira autoritária e atropelando todas as garantias processuais que o Supremo Tribunal Federal tem conduzido”, afirmou. “Não existe razão para colocar a tornozeleira no Bolsonaro. Por que não esperar a condenação pelo rito comum? Ele já está sem passaporte. Não vai fugir para lugar nenhum. Não tem razão para fazer”, disse, em relação às medidas cautelares impostas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro pelo ministro Alexandre de Moraes. Entre as medidas, estão uso de tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar entre 19h e 6h e finais de semana, proibição de se comunicar com embaixadores e diplomatas estrangeiros, proibição de se comunicar com outros réus e investigados e proibição de acesso às redes sociais.
Kataguiri também comentou sobre o ‘tarifaço’ do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que anunciou uma taxa de 50% imposta para produtos brasileiros. Para ele, o governo norte-americano estaria usando o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro como uma “desculpa para impor uma tarifa que ele já queria impor há algum tempo”. “Ele (Trump) teve a estratégia de colocar o nome do Bolsonaro, porque se o Trump apenas levantasse a barreira comercial e não colocasse nada de Bolsonaro e nada de Lula, o país estaria unido”.
‘Presente para o Lula’ e Eduardo Bolsonaro ‘doido para ser presidente’
Para o parlamentar, a ‘confusão generalizada’ na direita brasileira sobre a ameaça de Trump de sobretaxar produtos brasileiros a partir de 1º de agosto foi um ‘presente’ para Lula. “Lula estava completamente abatido, com a popularidade em baixa, sem nenhum poder para avançar com as suas pautas dentro do Congresso Nacional, sem perspectiva de reeleição e vem a tarifa do Trump e resgata o Lula. Dá força para ele avançar com pautas dentro do Congresso Nacional e dá a desculpa perfeita dele jogar a responsabilidade pelo desastre econômico do seu governo 100% em cima das tarifas e vinculando essas tarifas ao Bolsonaro, quando, na realidade, na minha avaliação, as tarifas não são responsabilidade nem do Lula e nem do Bolsonaro”.
Um exemplo da ‘confusão generalizada’ da direita, segundo Kataguiri, é a falta de postura clara do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sobre a questão e os ataques que ele tem sofrido do deputado Eduardo Bolsonaro (PL). “O bolsonarismo está se perdendo com o Eduardo Bolsonaro desesperado para ser candidato a presidente da República e aí fazendo ataques dos mais baixos ao governador Tarcísio, que também não sabe a que senhor servir. Ao mesmo tempo em que tenta sinalizar para o bolsonarismo, bate no Eduardo Bolsonaro, mas precisa se equilibrar também no apoio que ele tem de presidentes de partidos do Centrão, como (Gilberto) Kassab (PSD), Valdemar da Costa Neto (PL), Marcos Pereira (Republicanos), o Ciro Nogueira (PP). Então ele também está numa corda bamba ali, que não sabe muito bem de que lado ficar”, avalia.
Disputa em 2026 e novo partido
Para o deputado Kim Kataguiri (União Brasil) o apoio de Bolsonaro vai determinar o nome da direita para enfrentar, possivelmente, o presidente Lula nas eleições de 2026. “Eu acho que o Tarcísio já deixou muito claro que ele só disputa a presidência se tiver apoio do Bolsonaro. E, agora, com Eduardo querendo ser candidato e atacando diretamente o Tarcísio, esse apoio está comprometido”, afirma.
Ainda segundo o deputado, nomes como os dos governadores Romeu Zema (Novo), de Minas, Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, e Ratinho Jr. (PSD), Paraná, não devem prosperar na corrida presidencial.
“Eu acho muito difícil o Zema disputar a eleição à presidência. Primeiro porque ele também é outro que precisaria do apoio do Bolsonaro. E se o Bolsonaro for apoiar alguém fora da sua família, o que já é um desafio gigantesco, vai ser o Tarcísio, que foi ministro dele, que deve mais obediência ao Bolsonaro do que o Zema, do que o Ratinho e do que o Caiado. Então não vejo Zema com menor chance de se quer ir para a urna de sequer disputar a eleição presidencial por não ter esse apoio do Bolsonaro sem apoio do Bolsonaro, a candidatura do Zema fica muito esvaziada”, disse. A entrevista com o deputado foi gravada antes de Romeu Zema anunciar o lançamento da sua candidatura pelo partido Novo em evento, em São Paulo, no dia 16 de agosto.
Por fim, o parlamentar falou sobre o processo de transformar o Movimento Brasil Livre (MBL) em um partido político. Questionado sobre a necessidade de se criar mais um partido político no país, Kataguiri respondeu que ‘existem poucos partidos políticos no Brasil’. “E por que eu digo isso? Porque a maior parte dos partidos são do chamado centrão e são ajuntamentos de pessoas para disputar o poder e sequestrar um pedaço do orçamento e levar esse dinheiro para suas bases eleitorais.
Não tem visão de país, não tem visão programática, não tem ideias, não tem uma visão de que onde esses partidos querem conduzir o país (...). Nós temos um programa, nós temos uma visão de mundo, nós temos uma visão de país”.