Uma marca histórica pode deixar os candidatos de partidos de centro e de direita mais animados a disputar as duas vagas de Senado disponíveis nas eleições de 2026. Minas Gerais nunca elegeu um concorrente de legendas de esquerda para a Casa desde a redemocratização do país, ocorrida em 1988, com a promulgação da Constituição.
A eleição para o Senado, que é majoritária, ocorre a cada quatro anos junto com a disputa pela Presidência da República e pelos cargos de deputados federais e estaduais. A primeira após a redemocratização foi em 1990. Cada estado tem direito a três vagas na Casa, para mandato que é de oito anos. A disputa é alternada em relação ao número de vagas. Em 2026, duas cadeiras estarão em jogo. Na eleição de 2030, apenas uma, e assim sucessivamente.
No ano que vem serão encerrados os mandatos de Rodrigo Pacheco, eleito em 2018 pelo Democratas, hoje no PSD, e Carlos Viana, que conquistou a cadeira pelo PHS e migrou para o Podemos. O outro senador é Cleitinho (Republicanos), cujo mandato se encerra em 2030. Por partidos da esquerda, já demonstraram interesse em disputar as vagas a deputada federal Duda Salabert (PDT), o deputado federal Reginaldo Lopes (PT) e a ex-deputada federal Áurea Carolina, que tentaria pelo PSOL.
Já por partidos de centro e direita se colocam como candidatos o deputado federal Domingos Sávio (PL), presidente estadual da legenda, e o deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL). A tendência, no entanto, é que apenas uma das duas vagas da chapa na qual estará o partido seja reservada para a legenda. “O ideal é que a outra fique com um partido coligado”, afirma Domingos Sávio. A sigla ainda não definiu se terá candidato próprio ao governo ou apoiará nome de outro partido, o que também pode alterar o planejamento sobre as vagas para o Senado.
No Republicanos, que tem Cleitinho como pré-candidato ao governo, já há a definição de que uma das vagas da chapa na disputa para o Senado ficará com o presidente da legenda no estado, Euclydes Pettersen, que é deputado federal. O parlamentar tem relação próxima com Cleitinho. Os dois foram eleitos para os seus respectivos mandatos pelo PSC, partido que também já teve Pettersen como presidente. Os dois migraram juntos para o Republicanos em 2022.
Tentativas
Mais do que nunca ter elegido um candidato de partido de esquerda para o Senado, Minas não chegou a dar nem mesmo uma votação expressiva para concorrentes dessas legendas. Os melhores resultados foram terceiros lugares, que ocorreram entre 1994 e 2014, com candidatos de PT, PDT e PSB. A pior votação ocorreu exatamente com um dos nomes mais fortes do PT, a ex-presidente da República Dilma Rousseff.
A candidata concorreu em 2018, em disputa que envolvia duas vagas, e ficou em quarto lugar. Os dois eleitos foram Rodrigo Pacheco e Carlos Viana. O terceiro lugar ficou com Dinis Pinheiro, ex-deputado estadual, hoje prefeito de Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A esquerda teve outro resultado ruim, repetindo um quarto lugar na disputa de 2022, com Sara Azevedo (PSOL).
O PDT chegou a ter uma senadora mineira, Júnia Marise. A parlamentar, eleita em 1990, no entanto, era filiada a outra legenda, o PRN, do ex-presidente Fernando Collor de Mello, quando venceu a disputa para a Casa. A mudança para o PDT ocorreu em 1993. Após oito anos no cargo, tentou a reeleição pela legenda em 1998, mas foi derrotada por José Alencar (1931-2011), que à época pertencia ao PMDB.
‘Combo’ de fatores explica resultados, dizem especialistas
O professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Moacir de Freitas Júnior afirma não haver um ponto específico que explique por si só o resultado de uma disputa majoritária, como no caso do Senado. O especialista avalia que questões como o próprio candidato, o momento em que a eleição acontece e apoios recebidos pelo concorrentes, analisadas conjuntamente, é que podem ajudar a entender um resultado.
Neste sentido, o professor citou as eleições para o Senado dos ex-chefes do Poder Executivo estadual, Aécio Neves (PSDB), hoje deputado federal, e Antonio Anastasia, que também foi do PSDB, migrou para o PSD e atualmente é ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
“No caso da eleição de Aécio, em 2010, e Anastasia, em 2014, ambos haviam sido governadores, tinham um recall muito grande no eleitorado mineiro e saíram para suas eleições quase que eleitos”, diz o professor. “Em 2018, por outro lado, as circunstâncias políticas nacionais pesaram mais na decisão do eleitorado, e a ex-presidente Dilma, que liderou a corrida até poucos dias da eleição, acabou derrotada”, acrescenta.
Já o cientista político Robson Sávio Reis Souza, coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), avalia que a fraca performance do PT nas disputas pelo Senado ocorreu porque o partido nunca priorizou as eleições para a Casa. O professor cita especificamente o PT por ser a única legenda no campo da esquerda com musculatura no estado para disputar um cargo majoritário, na visão do especialista.
“A prioridade do partido nas coligações que fez sempre foi reforçar o candidato ao governo”, afirma Souza. O PT teve candidatos próprios ao governo de Minas em 2002, 2006, 2014, a única que venceu, com Fernando Pimentel, e 2018. Em outras duas disputas, 2010 e 2022, indicou o vice. Souza lembra ainda que a única vez em que a legenda apostou em uma candidatura ao Senado foi com a ex-presidente Dilma Rousseff, em 2018. (LA)
Saiba mais
ELEIÇÕES PARA O SENADO
Histórico. As primeiras eleições após a redemocratização foram em 1990.
Regras. Cada estado tem direito a três vagas na Casa, com mandato de oito anos. A disputa é alternada em relação ao número de vagas.
Próximas eleições. Em 2026, duas cadeiras estarão em jogo. Na eleição de 2030, apenas uma, e assim sucessivamente.
Pré-candidatos em Minas. Pela esquerda já colocaram seus nomes Reginaldo Lopes (PT), Duda Salabert (PDT) e Áurea Carolina (PSOL). Direita e centro têm Domingos Sávio (PL), Cristiano Caporezzo (PL) e Euclydes Pettersen (Republicanos).
SENADORES ELEITOS POR MINAS GERAIS DESDE 1990
1990
Junia Marise (PRN)
1994
Francelino Pereira (PFL)
Arlindo Porto (PTB)
1998
José Alencar (PMDB)
2002
Eduardo Azeredo (PSDB)
Hélio Costa (PMDB)
2006
Elizeu Resende (PFL)
2010
Aécio Neves (PSDB)
Itamar Franco (PPS)
2014
Antonio Anastasia (PSDB)
2018
Rodrigo Pacheco (DEM)
Carlos Viana (PHS)
2022
Cleitinho Azevedo (PSC)