O vereador Pedro Rousseff (PT) criticou a atuação da direita na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) e cobrou uma postura mais ativa do presidente da Casa, Juliano Lopes (Podemos). Segundo ele, é necessário que o presidente intervenha para que haja debate sobre os projetos apresentados pela esquerda. O parlamentar falou sobre a atuação da CMBH durante entrevista ao programa Café com Política, exibido nesta segunda-feira (28 de julho) no canal no YouTube de O TEMPO.
Na avaliação de Rousseff, os vereadores da direita estariam usando o Legislativo para pautar apenas textos ideológicos, para produzir conteúdo para as redes sociais e receber “likes”. Conforme o parlamentar, os textos que dizem respeito à cidade de Belo Horizonte estariam ficando em segundo plano.
“A Câmara de Belo Horizonte, até o dado momento, muito por conta da bancada bolsonarista, só fala e só propõe abobrinha”, afirmou o parlamentar.
Ele cita, por exemplo, projetos que restringem o funk em festas, eventos públicos e escolas, e o texto, já aprovado pela Casa, que institui o "Dia Municipal dos Métodos Naturais", que pretende incentivar o uso de formas contraceptivas que não sejam a pílula, a camisinha ou o DIU.
“A camisinha não serve, a pílula do dia seguinte não serve. Tem que ser o ‘goza fora’, a tabelinha. Ou seja, a nossa Câmara, que deveria estar falando sobre a cidade, está falando só sobre projeto de ‘like’. Isso, sinceramente, está acabando com Belo Horizonte.”
Para Rousseff, a Comissão de Legislação e Justiça (CLJ) tem sido usada para barrar propostas progressistas com justificativas ideológicas. Enquanto os projetos da bancada da esquerda estariam sendo travados, os da direita avançam no colegiado, presidido pelo vereador Uner Augusto (PL).
Por conta disso, Rousseff cobra medidas do presidente da Câmara, Juliano Lopes, para que os textos propostos pela esquerda possam ser debatidos.
“O diálogo com o presidente Juliano é sempre muito bom, todas as semanas ele recebe a gente. Só que ele tem que atuar mais. Ele é o presidente da Câmara, não pode interferir na CLJ, mas tem que ajudar, porque a Câmara não pode ser legalmente, juridicamente, toda voltada para a direita. Tem que ter debate. Por isso, eu peço ajuda para que possamos, pelo menos, debater as ideias”, afirmou.
'Fui eleito para puxar Álvaro Damião para a esquerda', diz vereador
Ao ser questionado sobre a atuação do prefeito Álvaro Damião (União Brasil), Pedro Rousseff avaliou que o chefe do Executivo municipal está aberto ao diálogo com a esquerda, mas ponderou que sua missão é puxar o prefeito “o máximo possível para a esquerda” e convencê-lo da importância da parceria com o presidente Lula (PT).
“O melhor para Belo Horizonte é a parceria com o Lula. Não pelo PT, não pelo Lula, mas pelas obras que a cidade precisa”, pontuou o vereador, citando investimentos federais em obras como o Anel Rodoviário e o Aeroporto Carlos Prates. “O prefeito não é de esquerda. E o meu trabalho como parlamentar do PT é pegar o prefeito e puxar ele o máximo pra esquerda. O nosso trabalho diário é mostrar para o prefeito que ele tem que apoiar o Lula”, completou Rousseff.
Conforme o vereador, a principal demanda com o prefeito é a sanção de projetos. Entretanto, ele reforça que, por conta das pautas estarem sendo travadas na Câmara Municipal, ainda não foi possível debatê-las com Damião.
Vereador justifica voto a favor de Zema e nega mal-estar com a bancada
Após divergir da bancada da esquerda na Câmara ao votar a favor do projeto que transfere para o governo de Minas Gerais o terreno do antigo Hospital Galba Veloso, em Belo Horizonte, o parlamentar minimizou qualquer mal-estar com os colegas. Conforme publicado por O TEMPO, o caso extrapolou os corredores da Câmara e repercutiu nos bastidores da política petista, trazendo à tona resquícios da disputa interna pelo comando estadual do partido.
Adversários do grupo de Rousseff, do qual também faz parte o deputado federal Reginaldo Lopes (PT), vincularam o voto favorável do vereador a uma suposta “retribuição” e “prova de lealdade” ao prefeito Álvaro Damião (União), que teria contemplado aliados do vereador em nomeações feitas na semana que antecedeu a votação. Rousseff, por sua vez, nega qualquer acordo ou troca de favores.
“Eu sou contra a privatização, mas esse projeto não falava de privatização. Como eu ia voltar no bairro e explicar que votei contra a criação de um hospital público?”, justificou. “Eu, sinceramente, acho que houve uma falta de comunicação com a bancada, porque esse projeto é muito resumido. Independentemente se foi o Zema que mandou, se foi o Álvaro que mandou, se foi o Papa que mandou, se foi o Trump que mandou, se for para votar a favor da criação de um hospital 100% SUS, eu voto a favor”, completou o vereador, que também minimizou os conflitos internos ocorridos durante o Processo de Eleições Diretas (PED) do PT em Minas.
Conforme Rousseff, a relação com a bancada do PT na Câmara é “tranquila”, considerando que os vereadores têm autonomia para posições diferentes em relação a projetos na Casa. “A gente vota vários projetos juntos - a grande maioria -, mas, às vezes, um vota contra, outro vota a favor, mas isso é super normal, é tranquilo”, ressalta.