Uma decisão tomada pela Justiça do Distrito Federal sobre a disputa pela presidência do PT em Minas Gerais acirrou os ânimos entre os grupos políticos das duas principais candidatas ao pleito no estado e vai impactar a eleição da legenda no plano federal.

A expectativa era que os militantes do PT fossem às urnas em todo o Brasil neste domingo (6 de julho) para escolher os presidentes municipais, estaduais e nacional da legenda, no processo interno conhecido como Processo de Eleição Direta (PED). Em Minas, isso não ocorreu.

Uma das candidatas ao principal cargo da legenda no estado, a deputada federal Dandara Tonantzin, que havia sido retirada da disputa pelo comando nacional do partido, conseguiu uma decisão liminar na 17ª Vara Cível de Brasília para retornar à disputa. Sua retirada do pleito ocorreu por ter uma dívida de R$ 130 mil com a legenda. O estatuto do partido proíbe a participação na disputa de quem não esteja em dia com a legenda.

A decisão foi dada neste sábado (5 de julho). Imediatamente, a direção nacional do PT cancelou o PED em Minas, alegando impossibilidade logística de inserir o nome da deputada nas cédulas eleitorais que já haviam sido impressas e distribuídas aos cerca de 700 municípios de Minas que passariam pelo processo. O início da votação ocorreria às 9h deste domingo.

Ao mesmo tempo, a direção do partido marcou para terça-feira (8/7), uma reunião extraordinária do diretório para tratar sobre a suspensão da eleição e uma possível nova data para a eleição no estado. A decisão terá impacto na disputa nacional, já que não há votos dos militantes mineiros para serem contabilizados na soma geral da eleição nacional.

Os candidatos a presidente do PT nacional são Edinho Silva, nome defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Rui Falcão, que já comandou a legenda, Romênio Pereira, integrante da executiva nacional, e Valter Pomar, também dirigente do partido.

Em Minas, além de Dandara, os candidatos são a deputada estadual Leninha, o ex-presidente do PT em Juiz de Fora, Juanito Vieira, e o advogado Esdras Juvenal, do partido em Iturama. Dos três, um dos nomes mais competitivos é o da deputada Leninha, por contar com o apoio de integrantes históricos da legenda, como os deputados federais Patrus Ananias e Rogério Correia.

Já Dandara tem o apoio do presidente do partido em Minas, deputado estadual Cristiano Silveira, e também, do deputado federal Reginaldo Lopes. Com a decisão da justiça de Brasília, e a suspensão da eleição em Minas, Leninha e Dandara divulgaram posicionamentos sobre o cenário do partido no estado.

Dandara afirmou que acionou a justiça por não ter vislumbrado outra saída. "Em todo esse processo, nós buscamos o diálogo, a justiça e a verdade, procurando esgotar todas as discussões nas instâncias partidárias antes de recorrer à justiça. No entanto, devido à tentativa de indeferir a minha candidatura sob uma justificativa já comprovadamente infundada, não tivemos outra escolha. Não podemos tolerar a instrumentalização da burocracia para avançar em perseguições políticas", afirmou, em nota divulgada nas redes sociais.

A deputada vinha alegando que um problema bancário impediu o pagamento da dívida. Por sua vez, a candidata Leninha também se posicionou, via áudio disponibilizado por assessores. A deputada repudiou e disse ter ficado surpresa com a decisão da colega de partido de acionar a justiça. "Manifesto minha surpresa e meu repúdio à judicialização de um processo que é legítimo e transparente", disse. Conforme a parlamentar, a atitude da rival fragiliza o debate político.

Houve declarações também de integrantes dos grupos das duas candidatas, em tom mais duro que o das próprias concorrentes. Cristiano Silveira, disse que não reconhecerá o resultado da eleição, quando for realizada, caso Dandara não participe da disputa.

Silveira, que apoia Dandara para a sua sucessão, questionou a decisão do comando nacional do partido de retirar a deputada da disputa. Conforme o dirigente, houve, de última hora, troca de integrantes das instâncias nacionais do partido responsáveis pela análise da participação da parlamentar do pleito no estado.

"A direção do partido tem que fazer uma mediação para que haja pacificação. A justiça reconheceu que Dandara pode participar do pleito. Não reconheceremos nenhum resultado da eleição em Minas se a deputada não participar da disputa", declarou o dirigente partidário. Por sua vez, pelo lado da candidata Leninha, o deputado federal Rogério Correia afirmou que a medida tomada pela parlamentar foi um ato de força contra o próprio partido.

"A candidatura da Dandara foi impugnada pelo partido, e não foi só a dela, mas de quase 400 candidatos a diretórios municipais que não puderam concorrer por este mesmo motivo, o não pagamento da dívida com o partido", argumentou o parlamentar. Correia afirmou que o estatuto do partido tem que ser respeitado. "Eu não seria candidato à presidência do partido se eu devesse à legenda R$ 130 mil. Eu não teria coragem de olhar para os militantes (...)", acrescentou o deputado.

Repetição

Os grupos em conflito na eleição para o comando estadual do PT em Minas sãos os mesmos que rivalizaram internamente no partido na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte no ano passado. Leninha é defendida por Rogério Correia, que foi candidato ao cargo de chefe do Poder Executivo municipal. Já Dandara tem o apoio de Reginaldo Lopes, que defendeu a reeleição de Fuad Noman (PSD), vencedor do pleito, falecido em março.

Um outro confronto entre os dois grupos pode ocorrer nos próximos meses. O grupo de Rogério Correia ainda não definiu se defenderá uma candidatura própria ao governo do estado no ano que vem, ou se apoiará uma composição com partidos aliados. Já os filiados ao partido alinhados ao deputado Reginaldo Lopes querem que o partido no estado sustente a candidatura, ainda não confirmada, do senador Rodrigo Pacheco (PSD).