O prefeito Fuad Noman (PSD) alfinetou, nesta quinta-feira (18/1), o governo do Estado sobre a organização do Carnaval em Belo Horizonte. Nas redes sociais, o chefe do Executivo municipal disse que até “quem antes nunca ajudou agora quer aproveitar”, em referência às ações feitas pelo Executivo estadual.

Mais cedo, em coletiva de imprensa, o vice-governador, Mateus Simões (Novo), justificou os investimentos de R$ 4,5 milhões do Estado no sistema de sonorização de alguns blocos como uma estratégia do governo para não deixar o Carnaval se “apequenar” em Belo Horizonte. Segundo ele, a festa se afastou da prefeitura da capital, o que atraiu um número menor de foliões e diminuiu as arrecadações durante o período festivo de 2023.

“Como é bom ver todo mundo querendo participar do Carnaval de BH. Quem antes nunca ajudou agora quer aproveitar. Isso é bom. A nossa festa é sucesso há mais de uma década e se tornou grande e disputada por ser popular, democrática e inclusiva. A festa é do povo”, escreveu Fuad no X, (ex-Twitter).

Desde o ano passado, prefeitura e governo do Estado têm se estranhado em relação à organização do Carnaval em Belo Horizonte. Conforme publicado por O TEMPO, uma “disputa” de patrocínios foi o ponto de partida para o mal-estar nos bastidores entre Executivos municipal e estadual. De um lado, interlocutores argumentavam que a gestão e o modelo adotado pela Empresa Municipal de Turismo da capital (Belotur) para captação de recursos eram ineficientes e impunham muitos empecilhos para atração de investidores. 

Do outro lado, há quem acredite que os editais de incentivo à cultura lançados pelo governo do Estado para o patrocínio de projetos artísticos desde o último Carnaval geraram concorrência para que a prefeitura de BH conseguisse atrair patrocinadores. O argumento seria que, com o mecanismo estadual, as empresas obtêm incentivos fiscais para pagar tributos. 

Fato é que, após dois editais sem interessados, somente no terceiro certame, após modificações, a Prefeitura de BH conseguiu patrocinadores. 

O patrocínio master ficou por conta do governo do Estado, que investirá R$ 4 milhões na infraestrutura. Vão patrocinar a folia também o Sistema Fecomércio-MG, Sesc e Senac em Minas, além dos Sindicatos Empresariais, a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) e a rede de supermercados Mart Minas.

Enquanto ocorrem as trocas de farpas para ver quem ganha mais crédito político pelo Carnaval, outras situações expõem a rivalidade dos gestores. No último fim de semana, durante o ensaio do sistema de sonorização implantado pelo governo de Minas nas avenidas dos Andradas e Amazonas, os desfiles dos trios elétricos foram atrasados por uma viatura da Guarda Municipal, que ficou estacionada em frente ao caminhão. 

Procurada, a Prefeitura de Belo Horizonte negou o ocorrido e afirmou que "os agentes saíram do veículo, mas assim que receberam a informação de que um trio elétrico passaria pelo local, a viatura foi retirada sem causar maiores transtornos". 

Multas. No Carnaval do ano passado, já houve mal-estar entre algumas marcas e até mesmo com o governo do Estado após a Prefeitura Belo Horizonte multar blocos e notificar empresas estatais que patrocinaram algumas agremiações na cidade. O presidente da Belotur, Gilberto Castro, na época se defendeu e disse que a PBH continuará atenta ao chamado “marketing de emboscada” na festa deste ano.

Castro também havia admitido a O TEMPO na ocasião que havia conflitos para a prefeitura na atração de patrocínio em decorrência da lei de incentivo estadual. “Não diria que seria empecilho (a lei de incentivo do Estado), mas a gente entende que gera uma dificuldade, uma concorrência, infelizmente. Um patrocínio não exclui o outro (... ) a lei de incentivo pode ser usada, mas essas empresas têm faturamento bilionário durante o período do Carnaval. Acho que o investimento deveria ser feito na mesma proporção e com o mesmo olhar para a cidade, esse recursos deveriam vir também junto com investimento direto para viabilizar toda a estrutura que a cidade merece ter para o Carnaval”, pontuou Castro à época. 

Na ocasião, o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira, disse que o governo buscava somar esforços para auxiliar o Carnaval e os grupos da cidade e que houve demandas dos grupos carnavalescos que procuraram o Estado em busca de mais recursos. Para o secretário estadual, o que o Estado fez não é concorrência, mas sim parceria. "Não é intenção do governo de Minas concorrer e sim somar para termos um belo Carnaval, onde prevaleça a cidade de Belo Horizonte na expressão cultural que já é a maior festa do nosso Estado. O Governo de Minas quer união com os municípios visando, no caso do Carnaval gerar emprego, renda e a cultura da paz", pontuou. 

Em novembro do ano passado Oliveira havia elogiado a postura do prefeito Fuad Noman (PSD), contrastando com a posição do vice-governador, Mateus Simões, na coletiva desta quinta-feira. “Nesse momento de crise é importante falar, eu gostei muito da postura do prefeito, ele está preocupado e pediu que caminhássemos juntos para a festa dar certo, é o momento do Estado e da prefeitura se unirem para que esse seja um espírito único", disse o secretário à época.