Deputados da base do governador Romeu Zema (Novo) na Assembleia Legislativa (ALMG) não estão nada satisfeitos com a postura do deputado Bartô (Novo). Parlamentares ouvidos pela reportagem dizem que, apesar de publicamente se alinhar a setores mais conservadores e de se posicionar contra o PT, o político teria se articulado junto a deputados petistas para aprovar um requerimento contra os interesses do governo.
O imbróglio começou na última quarta-feira, quando a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da ALMG convocou audiência pública para debater o fechamento de turmas do ensino fundamental e do médio no Instituto de Educação de Minas Gerais. A secretária de Estado de Educação, Julia Sant’Anna, foi convocada, mas não compareceu, porque já tinha ido ao Legislativo na segunda-feira, quando detalhou a previsão de nomeação de aprovados em concursos.
Ao final da audiência pública, dois requerimentos para convocar membros do governo foram feitos. Nenhum dos dois traz o nome do correligionário de Zema, mas teriam sido articulados por Bartô. Oficialmente, os pedidos foram apresentados pelos deputados petistas Beatriz Cerqueira e Betão e por Professor Cleiton (PSB). Eles solicitaram as presenças da diretora do Instituto de Educação, Alexandra Aparecida Morais, e do secretário adjunto de Educação, Edelves Rosa Luna.
O interlocutor da base governista disse que Bartô articulou nos bastidores, mas não se apresentou oficialmente como um dos requerentes para não haver impactos à imagem política que o parlamentar possui perante o público de direita. “O Bartô, que se apresenta como um caçador de petistas, articulou com a Beatriz Cerqueira e o Betão, que são do PT, para que alguém da secretaria comparecesse à Assembleia. Achei bastante curioso que um deputado do Novo, que se intitula antipetista, tenha articulado com deputados do PT”, revelou, afirmando que o assunto tomou conta dos corredores da Casa ontem.
Procurado pela reportagem, Bartô negou que tenha articulado junto a deputados petistas. “Na verdade, a Beatriz comentou comigo: ‘Pô, o pessoal (da secretaria) não veio...’ Eu comentei com ela que não ficaria na audiência porque não seria um debate, mas um monólogo. Aí ela disse que era falta de respeito e que iria convocar (a ida do representante da Secretaria de Educação à ALMG). Eu disse que, por mim, ela faria o que quisesse”, argumentou o correligionário de Zema, reforçando a insatisfação com Julia Sant’Anna. “Ainda mais com a secretária de Educação, que eu não curto muito”.
Bartô disse que houve apenas essa conversa. “Não tem isso de articular, não. Eu comentei, teve essa conversa por alto. Daí a articular são outros quinhentos. Acho que o pessoal inventa demais de vez em quando, gosta de aumentar muito”. O deputado Betão negou a participação de Bartô na elaboração do requerimento. Beatriz Cerqueira não tinha respondido à reportagem até o fechamento desta edição.
Aliado
Outro deputado da base do governo ouvido pela reportagem confirmou a articulação do deputado Bartô (Novo) nos bastidores para a elaboração do requerimento. O desentendimento público do correligionário de Romeu Zema com a secretária de Educação, Julia Sant’Anna, é apontado como a questão central. “Para ele, vale a pena até se alinhar ao PT para derrubar a secretária”, avaliou o governista.
De acordo com o parlamentar, o que se comenta nos corredores da Assembleia Legislativa (ALMG) é que a sugestão para a apresentação do requerimento partiu mesmo de Bartô. “Ele chegou dizendo que não tinha ninguém da Secretaria de Educação nem do Instituto de Educação e que deveria ser feita uma convocação dos representantes das duas instituições”.
Uma mensagem que tem circulado entre os deputados da ALMG e obtida por O TEMPO aponta que o deputado do Novo teria acusado a pasta de Educação de enganar os deputados. “Não vem ninguém da Secretaria de Educação. Estão nos enganando. Você deveria convocar a secretária... Devia mesmo era botar fogo naquela secretaria”, teria dito o parlamentar à deputada Beatriz Cerqueira (PT), momentos antes de ela conceder entrevista à imprensa.
A insatisfação de Bartô com a atual secretária de Educação não é novidade. Em junho, durante audiência na ALMG que contou com a presença de Júlia Sant’Anna, o deputado disse publicamente que ela era “mal-intencionada” e defendeu que a gestora deixasse o cargo. “Vir aqui acusar deputado de fazer gravação ilegal só demonstra o quão mal-intencionada essa senhora é, e não deveria estar no cargo que está”, disparou.
Esquerda
O fato de a audiência pública convocada pela Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas ter sido acompanhada por representantes de movimentos de esquerda também foi ironizado pelo interlocutor do bloco governista.
O encontro contou com a participação de entidades tradicionalmente alinhadas à esquerda e ao PT. Estiveram presentes integrantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Sindicato Único dos Trabalhadores em Minas Gerais (Sind-UTE) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). “Ou seja, o deputado antipetista se articulou com deputados do PT para forçar o governo do partido dele a dar explicações para um público que é do PT”, queixou-se.