O historiador americano e brasilianista Thomas Skidmore disse que o senador Antonio Carlos Magalhães era "o último e o melhor exemplo" de coronelismo e vai deixar um "legado fragmentado", sem continuidade do poder político que ele já teve. "Será um legado fragmentado, afetado pelo conservadorismo tradicional de um sistema agrícola. Ele era uma espécie de lenda, poderoso demais", afirmou Skidmore em entrevista à BBC Brasil. ACM morreu ontem, em São Paulo, de falência múltipla dos órgãos.
Com a morte do filho Luís Eduardo Magalhães, em 1998, ele diz que a sucessão política de ACM fica prejudicada, apesar de o deputado ACM Neto, neto de Antonio Carlos e sobrinho de Luís Eduardo, que está em seu segundo mandato na Câmara dos Deputados. No Senado, o suplente de ACM é seu outro filho, Antonio Carlos Magalhães Júnior, que assume o mandato que vai até 2011. Skidmore, que escreveu livros sobre a História do Brasil a partir de 1930, diz que ACM "foi uma barreira a qualquer reforma progressista mais profunda no país".
"Mas ele também foi muito inteligente ao se aliar ao desejo dos políticos progressistas de modernizar o Brasil, e fez pequenas mudanças, que não afetaram de fato seu poder", diz o historiador. Na avaliação de Skidmore, a fonte do poder de ACM - que continuou mesmo após o fim do regime militar, quando ele foi ministro das Comunicações e depois presidente do Senado - vem da sua sólida base política na Bahia, onde ele foi governador, inicialmente indicado pelo governo militar e depois conseguiu vencer várias eleições.
Skidmore diz que, apesar de resistir à modernização do Brasil, ACM ironicamente abriu os olhos do país para a necessidade de regionalizar esse crescimento. "Só que ele fez isso da maneira de um caudilho. Ele estava interessado em manter o poder da região, especialmente no seu Estado", disse.