Nos dois discursos que proferiu durante a cerimônia de posse realizada nesta terça-feira (1º), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) adotou, mesmo quando tratou do mesmo assunto, tons distintos em cada um deles.
No primeiro, feito no Congresso Nacional, ele foi mais moderado e solene ao se dirigir aos parlamentares. Já no segundo, quando esteve no Palácio do Planalto para receber a faixa presidencial, a oratória foi outra. Mais aguerrido e com palavras duras, falou diretamente a seus apoiadores que ocuparam em grande número a Praça dos Três Poderes, utilizando uma retórica semelhante à da campanha eleitoral.
O discurso feito no Congresso caminha mais para o lado da conciliação entre brasileiros, divididos politicamente nos últimos anos, e de um pacto para tirar o país da crise econômica adotando "reformas estruturantes". No Palácio do Planalto, Bolsonaro defendeu o combate a ideologias como o socialismo e a inversões de valores éticos e morais, sem se referir em momento algum a união do Brasil.
Na abertura dos dois discursos, fica clara a diferença de tom usado pelo presidente. No primeiro, Bolsonaro faz um aceno ao Congresso Nacional. "Com humildade, volto a essa Casa, onde por 28 anos me empenhei em servir a nação brasileira. Travei grandes embates e acumulei experiências e aprendizados que me deram a oportunidade de crescer e amadurecer".
Enquanto no segundo ele se dirige a seus eleitores. "Amigas e amigos de todo o Brasil, é com humildade e honra que me dirijo a todos vocês como presidente do Brasil. E me coloco diante de toda a nação, neste dia, como o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto", discursou.
Nos dois momentos, Bolsonaro fala em respeitar a vontade das urnas e ouvir a voz do povo. Mas novamente o discurso é diferente. "Estou certo de que enfrentaremos enormes desafios, mas se tivermos a sabedoria de ouvir a voz do povo alcançaremos êxito em nossos objetivos", disse no Congresso Nacional.
Já no Palácio do Planalto, Bolsonaro foi mais enfático ao tratar do assunto. "As eleições deram voz a quem não era ouvido. E a voz das ruas e das urnas foi muito clara. E eu estou aqui para responder e, mais uma vez, me comprometer com esse desejo de mudança". E conclamou seus eleitores: "Temos uma grande nação para reconstruir e isso faremos juntos".
Bem ao estilo adotado durante a campanha presidencial, Bolsonaro usou um discurso duro ao se referir aos opositores. "Não podemos deixar que ideologias nefastas venham a dividir os brasileiros. Ideologias que destroem nossos valores e tradições, destroem nossas famílias, alicerce da nossa sociedade. E convido a todos para iniciarmos um movimento nesse sentido", afirmou.
No Congresso, ele foi mais comedido ao tratar do mesmo tema. “O Brasil voltará a ser um país livre das amarras ideológicas”. Lá também Bolsonaro adotou um discurso conciliador ao falar da divisão política no país. "Reafirmo meu compromisso de construir uma sociedade sem discriminação ou divisão", disse. "Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã", acrescentou em outro trecho.
Em sua fala no Palácio do Planalto, o presidente não fala em unir a população, mas em promover mudanças e reestabelecer a ordem no país. "Vamos propor e implementar as reformas necessárias. Vamos ampliar infraestruturas, desburocratizar, simplificar, tirar a desconfiança e o peso do governo sobre quem trabalha e quem produz".
"Nossa bandeira jamais será vermelha. Só será se for preciso nosso sangue para mantê-la verde e amarela", afirmou Bolsonaro, ao repetir um slogan de sua campanha eleitoral, que deixa bem claro os dois lados que dividem o Brasil.