O procurador geral de Justiça e chefe do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Jarbas Soares Júnior, afirmou, em entrevista exclusiva ao Café com Política da FM O TEMPO 91,7, que muitas das ameaças contra parlamentares mulheres vêm de criminosos que estão no exterior. Os problemas têm ocorrido com frequência no Estado e também fora dele, a partir de ataques misóginos recebidos via e-mail institucional das deputadas e vereadoras.
“O Ministério Público tem um compromisso com a democracia, as ameaças normalmente são para mulheres de esquerda, de partidos de esquerda, então, nós já sabemos mais ou menos disso. Agora, muitas coisas estão fora do Brasil, localizadas fora do Brasil, e, portanto, as investigações estão acontecendo. Nós temos um Gaeco, que é um grupo de acompanhamento de crimes, mais específicos, cibernéticos, que é o primeiro do Brasil, que é aqui de Minas Gerais. Nós estamos fazendo a investigação com a parceria com a Polícia Civil, Federal, todos aqueles órgãos de investigação”, disse Jarbas.
De acordo com ele, o trabalho do MP de Minas acontece principalmente por meio do Observatório da Democracia de Direitos de Liberdade. “Nós estamos vivendo num mundo virtual, então, todo dia tem algo novo no meio, e essas ameaças, elas acontecem nesse ambiente que nós consideramos o submundo. Às claras, é fácil repelir, identificar. As do submundo, elas são de difícil detecção, mas, nos casos concretos, nós já temos investigações, temos uma força-tarefa, nós já avançamos muito nos alvos, e temos o cuidado muito também de não ficar divulgando, porque, principalmente esses hackers, essas pessoas que vivem nesse submundo, eles se tornam heróis dos grupos de internet, e a partir da divulgação, ele teria atingido o alvo”, afirma o procurador geral.
Em agosto, as vereadoras de BH Iza Lourença e Cida Falabella, ambas do Psol, denunciaram à Polícia Civil uma série de ameaças. O primeiro e-mail chegou ao gabinete das vereadoras em 14 de agosto, por meio do endereço institucional usado pelos parlamentares. Porém, como a cidade estava em recesso devido ao feriado de Assunção de Nossa Senhora, só houve conhecimento do crime mais para o meio daquela semana.
Depois, mais quatro e-mails chegaram ao endereço institucional de Iza Lourença. Desta vez, as ameaças citavam a filha da vereadora, além de dados pessoais como telefones, endereços e o nome da mãe. A situação forçou a parlamentar a publicar uma nota para denunciar, além de pedir escolta da Guarda Municipal de Belo Horizonte.
Os casos de Iza Lourença e Cida Falabella não são isolados. Em Minas, as deputadas estaduais Bella Gonçalves, outra do Psol, Lohanna França (PV) e Beatriz Cerqueira (PT) também receberam ameaças semelhantes. O mesmo vale para a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG).
Outros alvos são as deputadas federal Daiana Santos (PCdoB-RS) e estadual de Pernambuco Rosa Amorim (PT). A vereadora do Rio Mônica Benício, mais uma do Psol, também recebeu o conteúdo violento, o que sugere uma ação coordenada dos criminosos.
Em todos os casos, os alvos são mulheres progressistas, que são ou defendem o movimento LGBTQIA+. A primeira a ser agredida foi a deputada Bella Gonçalves. Ela recebeu a comunicação criminosa em 8 de agosto, mas só denunciou após os casos de Iza e Cida virem a público.