Há cinco anos, o Senado afastava a então presidente Dilma Rousseff (PT) do mandato e aprovava a abertura de processo de impeachment contra ela. Dos 78 senadores presentes à sessão de 12 de maio de 2016, 55 votaram a favor do relatório pró-impeachment do senador mineiro Antonio Anastasia (PSD, mas na época no PSDB), relator da denúncia na comissão especial. 

Outros 22 foram contrários, e dois estavam ausentes. O então presidente do Congresso, Renan Calheiros (MDB-AL), não votou.

O processo durou 273 dias até a cassação do mandato de Dilma e causou impactos que foram muito além do próprio governo. 

“O impeachment é um processo tão desgastante para a classe política brasileira, porque envolveu a disputa de uma narrativa que no final das contas foi ruim para quem ganhou: a ideia do ‘golpe’ pegou e era vista nas pesquisas de opinião como algo real. Então, foi tão desgastante para todo mundo que hoje políticos estão pagando o preço por terem exagerado na dose na hora de colocar fim àquele momento, que era no fundo um momento econômico muito ruim mas também era uma oportunidade de tirar o PT do poder”, explica o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Felipe Nunes.

Atores

A maioria dos personagens que tiveram destaque no processo de impeachment hoje estão fora da política e perderam o poder e a influência que tinham à época.

O responsável por aceitar a denúncia contra a ex-presidente e que na época presidia a Câmara, o deputado Eduardo Cunha (MDB), por exemplo, teve seu mandato cassado no mesmo ano do impeachment e acabou preso e condenado pela Lava Jato. Diferentemente de Dilma, ele perdeu os direitos políticos e, se não houver revisão em suas condenações, deve ficar afastado da política por mais alguns anos.

Mas outros personagens, como o próprio Michel Temer (MDB), que era vice e assumiu a presidência após a queda de Dilma, terminou o mandato com a pior avaliação de governo da história do país e nem sequer concorreu à reeleição. 

O relator da denúncia contra Dilma Rousseff na comissão especial da Câmara, Jovair Arantes (PTB-GO), tentou reeleição em 2018 e, após seis mandatos, não conseguiu se reeleger, bem como o então deputado federal por três mandatos e atual presidente do PSDB, Bruno Araújo, que foi um dos principais líderes do movimento pelo impeachment e perdeu a eleição para o Senado em 2018. </CW>
Araújo, porém, diz que não houve perda de capital político, mas sim estratégia. Ele garante que já tinha a decisão de não mais disputar eleições, mas acabou concorrendo ao Senado apenas para encerrar sua carreira. “Fui convencido pelas pessoas de, ao invés de simplesmente parar, sair vivendo uma experiência para cima, mandato majoritário. Então, eu fui candidato para uma eleição em que eu começava praticamente sem chance, mas era uma forma de poder usar o tempo para poder fazer um balanço do que foi a minha vida política”, relembra.

Já pelo lado do governo, José Eduardo Cardozo (PT), que foi ministro da Justiça, advogado geral da União e atuou como advogado de Dilma no impeachment, resolveu deixar a vida pública.

“Eu já tinha uma propensão a não disputar mais eleições, mas o processo de impeachment reforçou a minha convicção numa dimensão de que eu deveria cuidar de outros aspectos da minha vida a partir de um componente de decepção. Eu não imaginava que, depois de 1988, eu teria que voltar a lutar pela democracia. Eu achava que a democracia era um fato dado no Brasil”, disse.

Apesar da decepção, Cardozo não descarta voltar à política em algum momento. “Acho que há momentos na vida em que você tem que fazer aquilo que não fez antes que fique tarde demais. E não cuidei da minha advocacia nem cuidei da minha vida acadêmica, que é ao que hoje eu me dedico”, disse.

A reportagem tentou ouvir Michel Temer, mas sua assessoria informou que ele não teria agenda para entrevista até dia 15. Já a assessoria da ex-presidente Dilma Rousseff não respondeu. A reportagem não conseguiu localizar as assessorias dos ex-deputados Jovair Arantes e Eduardo Cunha.

Personagens do impedimento

DILMA ROUSSEFF
Afastada do cargo em 12 de maio de 2016, a crise que levou ao impeachment teve início ainda nas eleições de 2014, quando o candidato rival Aécio Neves (PSDB) questionou o resultado das urnas. No ano seguinte, iniciou uma série de manifestações contra a presidente, endossadas pela crise na economia. Em 2 de dezembro de 2015, Eduardo Cunha deu prosseguimento a um dos pedidos de impeachment. O caso se encerrou em 31 de agosto de 2016, tendo como resultado a cassação do mandato, mas sem a perda dos direitos políticos de Dilma. Nas eleições de 2018, Dilma concorreu ao Senado em Minas Gerais e perdeu.

MICHEL TEMER
Vice-presidente de Dilma em seus dois mandatos, Temer é apontado como um dos articuladores do impeachment, embora ele sempre tenha negado qualquer conspiração contra a petista. No entanto, dias antes da votação de abertura do processo de impedimento na Câmara, foi vazado um áudio com um discurso de 13 minutos de Temer falando como se Dilma já não fosse mais a presidente. Terminou o governo com reprovação recorde e não tentou reeleição. Foi preso preventivamente em março de 2019 em investigação relacionada à estatal Eletronuclear, mas foi solto dias depois. Nos últimos dias, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, anulou decisão do juiz Marcelo Bretas.

EDUARDO CUNHA 
Presidente da Câmara à época, Cunha foi responsável por autorizar a abertura do processo de impeachment. No ano seguinte, teve seu mandato cassado por 450 votos a 10 sob acusação de manter contas secretas no exterior e ter mentido em depoimento à CPI da Petrobras. Ele foi preso preventivamente em 2016 e condenado em 2017 por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Em 2018, a condenação foi confirmada e, em 2020, recebeu uma segunda condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em razão da pandemia, ficou em prisão domiciliar. Na última semana ele foi libertado após as prisões preventivas serem revogadas.

JOVAIR ARANTES
Foi o autor do relatório de 128 páginas que recomendou a abertura de processo de impeachment contra Dilma na comissão especial. Apesar da visibilidade, ele foi um dos 157 deputados que não conseguiram se reeleger em 2018. Arantes estava na Câmara havia seis mandatos consecutivos.

JOSÉ EDUARDO CARDOZO 
Era advogado geral da União até 12 de maio de 2016, quando o Senado aceitou a denúncia contra Dilma. Nessa data, Cardozo deixou a AGU e assumiu a defesa da presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment no Senado Federal. Antes disso, esteve à frente do Ministério da Justiça por cinco anos (2011-2016). Também foi deputado federal por dois mandatos, vereador e procurador do município de São Paulo. Agora, deixou a vida pública e voltou a dar aulas e advogar. 

BRUNO ARAÚJO
O ex-deputado federal foi um dos principais líderes do movimento pelo impeachment no Congresso Nacional. No dia da votação na Câmara, ele deu o voto decisivo – de número 342 – pela cassação do mandato da presidente. Em seguida, foi ministro das Cidades no governo de Michel Temer (MDB). Mas, apesar de toda a visibilidade, perdeu as eleições para o Senado por Pernambuco em 2018 e, atualmente, é presidente nacional do PSDB.