BRASÍLIA – Hoje em lados opostos, os líderes do PT e do PL na Câmara dos Deputados já foram fortes aliados. Militando no movimento estudantil, Lindbergh Farias (PT) e Sóstenes Cavalcante (PL) se uniram contra o então presidente Fernando Collor de Mello, que sofreu um impeachment em 1992.
À época, Lindbergh era presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), que liderou as manifestações dos caras-pintadas – jovens iam às ruas com rosto pintado de verde e amarelo. Já Sóstenes presidia a União Estudantil de Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, onde morava e liderava atos, de cara-pintada, contra Collor.
Foi justamente esse movimento que catapultou Lindbergh na política nacional. Após deixar a queda de Collor, filiado ao PCdoB, ele foi eleito deputado federal por dois mandatos. Já no PT, foi eleito e reeleito prefeito de Nova Iguaçu (RJ). Em 2010, elegeu-se senador pelo Rio de Janeiro.
Eleito deputado federal em 2022, hoje Lindbergh é o líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados. Em comum com Sóstenes, além da liderança de partido na mesma casa legislativa e da militância no movimento estudantil, está o fato de ambos serem nordestinos mas representarem o Estado do Rio de Janeiro.
Hoje com 55 anos, Lindbergh nasceu em João Pessoa (PB), onde passou a infância com os pais e três irmãos. Aos 17 anos, começou a estudar medicina na Universidade Federal da Paraíba. Em 1990, começou a estudar direito na mesma instituição. Não concluiu nenhum curso. Mudou-se para São Paulo para ocupar o cargo na UNE.
Já Sóstenes, que tem 50 anos, nasceu em Maceió (AL). Em 1982, quando ele tinha 7 anos, os pais se mudaram para Ituiutaba. A família ficou até 1987 na cidade do Triângulo. Sóstenes voltou a morar lá entre 1989 e 1994. virou liderança estudantil nos colégios que frequentou, assumindo a União Estudantil de Ituiutaba.
Lindbergh se aproximou de Lula e Sóstenes, de Malafaia
Lindbergh e Sóstenes recordaram essa época em entrevista que deram na quarta-feira (5) no programa Estúdio I, da Globonews. Ambos confirmaram terem ido juntos às ruas contra Collor. Mas Sóstenes alegou que militou em movimento com bandeira de esquerda porque era um jovem e, depois, mudou de posição político-partidária.
Enquanto Lindbergh, na condição de jovem líder da esquerda, se aproximou de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Sóstenes, como pastor da Assembleia de Deus, atraiu a atenção de outro pastor, Silas Malafaia, com quem trabalha desde 2010. Foi Malafaia quem o incentivou a abraçar a política e a se filiar no PSD, o partido de seu irmão Samuel Malafaia, que era deputado estadual no Rio de Janeiro.
Desde então, Sóstenes foi eleito três vezes seguidas para a Câmara dos Deputados, todas pelo Rio de Janeiro. A primeira foi em 2014, pelo PSD. Votou pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), a favor da PEC do teto dos gastos públicos e a reforma trabalhista. Em 2017 votou a favor da investigação do presidente Michel Temer MDB).
Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), Sóstenes era considerado um representante de Malafaia, votando conforme orientação do líder evangélico. Crítico do isolamento social na pandemia, Sóstenes foi internado em UTI de um hospital do Rio de Janeiro após ser diagnosticado com Covid-19.
Líder da bancada evangélica, já no governo Lula, Sóstenes tornou-se armamentista, afirmando que o cidadão brasileiro deveria ter o direito de comprar armas de grosso calibre, como fuzis.
Em 2024, ele apresentou projeto de lei que equipara o aborto após 22 semanas de gestação ao homicídio simples e o proíbe, inclusive, em casos de gestação decorrente de estupro, casos em que aborto é permitido pela legislação atual.
Agora como novo líder do PL, o maior partido da oposição, Sóstenes Cavalcante afirmou que em 2025 a bancada vai buscar apoio para fazer avançar na Câmara o projeto que concede anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. Beneficiaria, entre outros, Jair Bolsonaro.