BRASÍLIA – Em sua fala na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado, em vez de questionar a influenciadora digital Virginia Fonseca sobre suas relações com as bets, o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) teceu elogios à ela e ainda pediu para que interagisse, ao vivo, por meio de chamada de vídeo por celular, com sua esposa.
“Eu quero falar que a política não tem moral para falar da Virgínia, zero moral. A Virgínia é fonte de riqueza, nós somos fonte de despesa, nós trazemos despesa para a população brasileira. A Virgínia, não, ela traz fonte de riqueza, ela gera emprego”, afirmou o senador mineiro em pronunciamento na comissão.
Cleitinho disse que o assunto que deveria estar sendo debatido é o roubo a aposentados e pensionistas revelado em investigação da Polícia Federal (PF), e que fossem investigadas o uso indevido de emendas parlamentares e práticas como “rachadinha”.
Em sua fala na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado, em vez de questionar a influenciadora digital Virginia Fonseca sobre suas relações com as bets, o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) teceu elogios a ela e ainda pediu para que interagisse, ao vivo, por… pic.twitter.com/APw2ddfrqn
Em seguida, Cleitinho apelou para que a influenciadora deixasse de divulgar casas de aposta e focasse na divulgação de um suplementos alimentares da marca WePink, que é administrada por ela. O senador afirmou que usa um dos produtos e o elogiou.
“Eu queria falar para você, se tocar seu coração… como cristão… você não precisa mais disso. Acaba com isso, não faz mais esse tipo de propaganda e divulgação. Divulga seus pré-treino. Inclusive tomei seu pré-treino hoje. Maravilhoso”, disse.
Na sequência, Cleitinho, que não integra a comissão, pediu para Virginia mandar um abraço para a esposa dele. “ Inclusive, vou terminar aqui, pode mandar um abraço para a minha esposa?”, pediu o senador.
Cleitinho interrompeu a sessão e pediu e caminhou até a mesa onde estava a influenciadora, seus advogados e membros da CPI. Sorrindo, Virginia atendeu o pedido do senador e conversou com a esposa dele.
Virginia Fonseca foi convocada para depor, nesta terça-feira (13), sobre a atuação de empresas de apostas virtuais, as chamadas bets. O depoimento visaria esclarecer o envolvimento de influenciadores digitais na promoção de jogos de azar e apostas online.
A CPI das Bets foi criada para entender o papel dos influenciadores digitais na promoção de apostas online, especialmente entre públicos vulneráveis, como menores de idade. Virginia, com seus mais de 53 milhões de seguidores apenas no Instagram, tem sido apontada como uma das figuras centrais na divulgação dessas atividades.
A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), que é relatora da CPI, foi quem apresentou o pedido de convocação de Virginia. A parlamentar ressaltou que, devido à popularidade da influenciadora, é necessário compreender o alcance e as implicações éticas de suas ações, especialmente considerando os riscos associados à promoção de jogos de azar e apostas online.
Senadores questionam contratos com casas de apostas
Durante o depoimento, a nora do cantor Leonardo foi questionada pelos senadores da CPI sobre seu envolvimento na promoção de jogos de azar e apostas online por meio de suas redes sociais.
Em janeiro deste ano, a revista Piauí revelou que Virginia Fonseca firmou, em 2022, um contrato com a plataforma de apostas online Esportes da Sorte, no qual ela recebe 30% do valor perdido por seus seguidores que utilizam seus links promocionais. Por exemplo, se um apostador perde R$ 100, Virgínia embolsa R$ 30. Esse modelo de remuneração foi descrito como o “cachê da desgraça alheia”.
Na CPI, Virginia respondeu a perguntas do senador Izalci Lucas sobre o suposto ganho com o valor perdido por seus seguidores com apostas.
“O que aconteceu foi o seguinte: fechei meu contrato com a Esportes da Sorte e esse valor que eles pagavam, se eu dobrasse o lucro deles, eu recebia. Nunca teve isso de perda dos seguidores. Esse valor nunca foi atingido, nunca ganhei nada. Se eu dobrasse o lucro, eu recebia 30% a mais da empresa. Não cheguei a isso. Isso era um contrato padrão”, afirmou a influenciadora.
Ela também foi questionada se alerta seus seguidores sobre os riscos com apostas online.
“Quando posto, eu sempre deixo muito claro que é um jogo, que pode ganhar e perder, que menores de 18 anos não podem, coloco sempre as imagens exigidas pelo Conar. Sempre deixei isso claro. Nunca falei para entrar, que a pessoa vai fazer o dinheiro da vida dela”, garantiu.
Já Soraya Thronicke perguntou a Virginia qual foi maior valor que ela recebeu por uma campanha de apostas. “Me reservo ao direito de ficar calar”, respondeu a influenciadora digital. Em seguida, a senadora a questionou se todos os valores foram declarados à Receita. Virginia garantiu que sim.
Soraya Thronicke também perguntou à Virginia Fonseca se ela pensa em deixar de fazer publicidade para bet. Ela disse que pensaria, mas lembrou que vários influenciadores, clubes de futebol e veículos de comunicação são patrocinados por casas de apostas online.
“Vou pensar sobre. Não vou mentir, vou pensar. Mas gostaria que a senhora chamasse aqui todos os clubes de futebol, todas as emissoras, tudo que hoje tem bet. Eu vivo de publicidade. Tenho um contrato, não é fácil quebrar um contrato. Vou pensar sobre, não vou mentir para a senhora. Mas, hoje, o Brasil inteiro tem bet”, alegou a influenciadora.
Gilmar garantiu a Virginia o silêncio na CPI
Em decisão dada na segunda-feira (12), o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou que Virginia permaneça em silêncio em relação a fatos que possam incriminá-la durante o depoimento. A decisão atendeu parcialmente ao Habeas Corpus impetrado pela defesa da influenciadora, que alegava o risco de autoincriminação.
A medida, no entanto, não isentou de comparecer à CPI, uma vez que, como convocada, ela é obrigada a prestar depoimento. De acordo com a decisão de Gilmar Mendes, a influenciadora tem o direito de não se autoincriminar, mas será obrigada a responder a perguntas sobre outros investigados e não poderá mentir ou omitir informações sobre terceiros.