BRASÍLIA — O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), avaliou que a votação do requerimento de urgência para o projeto que pode levar à derrubada do decreto do IOF é um indício da insatisfação dos parlamentares com as posições da equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A perspectiva é que a urgência seja votada, e aprovada com facilidade, em sessão nesta segunda-feira (16). Há ainda a avaliação de que os deputados poderiam até votar o mérito, derrubando o decreto, nesta sessão — há clima para tal retaliação ao Palácio do Planalto.
"Essa votação de hoje será simbólica sobre o sentimento da Câmara. Vamos aguardar quais serão os próximos passos", afirmou Motta na chegada ao Congresso Nacional nesta segunda-feira à noite. Ele indicou que não há perspectiva de colocar o mérito para discussão; a posição do presidente da Câmara alivia os membros do governo Lula à frente da articulação, mas há consenso de que a paciência de Motta não se sustentará a longo prazo.
O pacote de medidas alternativas ao decreto que impõe um aumento do IOF gerou mais insatisfação ainda entre os deputados, que não parecem dispostos a acatar as propostas incluídas na medida provisória (MP) remetida ao Congresso Nacional. "Há um esgotamento com relação a medidas que venham a aumentar a arrecadação com o aumento de impostos. O governo é sabedor dessa insatisfação", analisou Hugo Motta. À frente do colégio de líderes, ele exige uma posição firme de Lula em relação ao corte de despesas da União.
No sábado (14), Motta esteve reunido com o presidente e com os ministros Gleisi Hoffmann, da articulação política, e Rui Costa, da Casa Civil. O encontro se repetiu nesta segunda-feira à tarde sem o presidente da República e diante dos líderes das bancadas.
"Houve uma conversa franca. Hoje pude reforçar com os líderes e com os ministros porque o trabalho do presidente da Câmara é verbalizar o sentimento dos deputados e das deputadas, que não estão à vontade para apoiar essa agenda de aumento de impostos. É o sentimento majoritário", disse Motta.
A inclusão do regime de urgência para o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que derruba o decreto com aumento do IOF é um aceno de Hugo à oposição, e ainda um recado ao governo Lula sobre a indisposição dos deputados com a agenda econômica petista.
Ainda que seja uma mensagem ao Palácio do Planalto, o presidente da Câmara não pretende colocar para votação o mérito da proposta — significa que, apesar da urgência, ela não deve avançar na prática. O futuro desse PDL depende diretamente de Hugo Motta e de como o presidente receberá as movimentações do governo Lula em relação a um eventual ajuste fiscal.