BRASÍLIA – O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) citou as duas bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos no Japão para defender que o governo Lula (PT) ceda aos Estados Unidos após a taxação de 50% sobre as exportações brasileiras, anunciada pelo presidente Donald Trump.
Entre outras coisas, Trump exige que Jair Bolsonaro, pai de Flávio, dispute as eleições de 2026, apesar de estar inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, por ter comandando uma reunião com embaixadores no Palácio da Alvorada, quando era presidente, em que atacou as urnas eletrônicas sem prova de irregularidade.
O ex-presidente ainda está sendo julgado no Supremo Tribunal Federal (STF) sob acusação de liderar uma suposta trama golpista. Ele lidera uma campanha por anistia que poderia beneficiá-lo em caso de condenação.
Em 2020, Trump perdeu a reeleição para o democrata Joe Biden, mas não reconheceu o resultado das urnas. Meses depois, estimulou um movimento para questionar o pleito, que culminou nos atos de 6 de janeiro de 2021.
Naquele dia, o presidente fez um discurso no jardim da Casa Branca para milhares de apoiadores e os convocou a lutar. Seus apoiadores invadiram o Congresso norte-americano para tentar impedir a certificação da vitória de Biden e entraram em confronto com a polícia. O prédio foi depredado e cinco pessoas morreram.
Nos meses seguintes, a Justiça dos EUA processou e prendeu centenas de manifestantes. No entanto, ao voltar ao poder por meio do voto, Trump perdoou os invasores do Capitólio.
Em anúncio feito por meio da sua rede social, na última quarta (9/7), Trump deixou claro que o tarifaço contra o Brasil é uma forma de retaliação ao Brasil devido ao julgamento de Bolsonaro. Na mensagem, também alegou que a relação comercial entre os país está desequilibrada, desfavorável aos EUA.
No entanto, a relação comercial entre o Brasil e os EUA é marcada por predominância da economia norte-americana. A balança comercial é positiva para os EUA desde 2009. Ou seja, o Brasil compra mais produtos do mercado norte-americano do que o oposto.
Já Flávio, em entrevista à CNN Brasil, na quinta-feira (10/7), alegou que o Brasil não tem “poder de barganha” para negociar com Trump. “Cabe a nós termos a responsabilidade de evitar que caiam duas bombas atômicas no Brasil, para depois anunciar que vamos fazer anistia”, disse o senador.
“A gente vai continuar com o nosso orgulho, né? Somos brasileiros? Todos nós temos orgulho de ser brasileiros, mas como é que se resolve essa situação? Se você olhar para a Segunda Guerra Mundial, o que os Estados Unidos fizeram com o Japão? Lança uma bomba atômica em Hiroshima para demonstrar força”, citou.
“Qual foi a reação do Japão naquela época? Falou: ‘Olha, nós aqui somos patriotas; isso é uma interferência dos Estados Unidos aqui no nosso país; nós aqui vamos resistir; fora ianques'. Qual foi a consequência três dias depois? Uma segunda bomba atômica em Nagasaki para, aí, depois, sim, haver, no dia 16 de agosto de 1945, portanto duas semanas da primeira bomba, haver uma rendição formal por parte do Japão”, prosseguiu.
“Então, essa situação tem que ser encarada como uma negociação de guerra, sim, onde nós não estamos em condições normais; nós não estamos em condições de exigir nada por parte do governo Trump; ele vai fazer o que ele quiser, independente da nossa vontade”, continuou.
“Cabe a nós termos a responsabilidade de evitar que caiam duas bombas atômicas aqui no Brasil para, depois, nós anunciarmos que vamos fazer anistia; para depois nós anunciarmos... Eu acho que é uma segunda coisa que ele vai querer também colocar na mesa de negociação porque é o que está na carta dele, que é a questão da liberdade de expressão nas redes sociais”, concluiu o senador brasileiro.
Ao contrário do que disse Flávio, o anúncio informal da rendição ocorreu em 15 de agosto de 1945 — nove dias, e não duas semanas após a primeira bomba, lançada no dia 6. A formalização aconteceu em 2 de setembro.
Até hoje, os EUA foram o único país a usar uma bomba atômica contra outra nação. Outros países desenvolveram esse tipo de arma, mas só a detonou em testes, em águas profundas ou sob a terra, no próprio território.
Na quinta-feira (10), Bolsonaro declarou "respeito e admiração" pelos EUA, em resposta ao tarifaço de Trump. No mesmo dia, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se mudou para os EUA para, segundo ele, lutar por sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, pediu que as autoridades brasileiras “evitem escalar” conflito com Trump. Ele é apontado como um dos principais responsáveis pelo tarifaço dos EUA contra o Brasil.