BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acusou o ex-presidente Jair Bolsonaro de ter mandado seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), para os Estados Unidos, e agir para que o presidente americano Donald Trump ameaçasse o Brasil com tarifas.
Em longo discurso em evento do Novo Acordo do Rio Doce em Linhares (ES), nesta sexta-feira (11), Lula chamou seu antecessor de “aquela coisa covarde”.
“Aquela coisa covarde, que preparou um golpe nesse país e não teve coragem de fazer, está sendo processado, vai ser julgado e ele mandou o filho dele pros EUA pedir para o Trump fazer ameaça. ‘Ah, se não liberarem o Bolsonaro, eu vou taxar vocês’”, disse o petista.
Lula direcionou boa parte de seu discurso para falar da tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos a todas as exportações brasileiras. Ele rebateu os argumentos de Trump de que os EUA teriam déficit com o Brasil.
“Quero dizer com todo o respeito ao presidente Trump: o senhor está mal informado. Os EUA não têm déficit comercial com o Brasil, é o Brasil que tem com os EUA. Eu que deveria taxar ele”, disse. Em seguida, respondeu o trecho em que o presidente americano acusa a Justiça brasileira de perseguir Bolsonaro.
“Qual é a lógica dele? ‘O processo do Bolsonaro, parem com isso imediatamente’. Porque a coisa mandou o filho que era deputado se afastar da Câmara para ficar pedindo ‘ô Trump, pelo amor de Deus Trump, solta meu pai, não deixa meu pai ser preso’. É preciso essa gente criar vergonha na cara, porque a coisa mais pequena de um homem é ele não ter caráter”.
Na sequência, Lula passou a criticar diretamente Eduardo Bolsonaro, que publicou um vídeo pedindo que as autoridades brasileiras “evitem escalar conflito” com Trump.
“Vocês viram ontem na internet o filho dele lendo uma carta? “Ô Trump, fala que você não vai taxar se meu pai não for preso’. Que homem que é esse, gente? Que tipo de homem que é esse, que não tem vergonha de enfrentar o processo dele de cabeça erguida e provar que foi inocente?”, questionou o presidente.
Ainda segundo Lula, se Trump fosse brasileiro e no país tivesse um episódio como o do Capitólio, no dia 6 de janeiro de 2017, em Washington (EUA), “ele também ia ser preso”.
Por fim, o presidente prometeu agir em “todas as esferas” para evitar que a tarifa seja implementada a partir do dia 1º de agosto, mas reforçou que pode acionar a Lei da Reciprocidade Econômica.
“Vou brigar na OMC [Organização Mundial da Saúde], conversar com meus companheiros do Brics. Agora, se não tiver jeito no papo, no tête-à-tête, vamos estabelecer a reciprocidade. Taxou aqui, a gente taxa lá, não tem o que fazer”.
Ministros de Lula engrossam o coro
No mesmo evento, ministros do governo Lula aproveitaram seus discursos para também fazerem críticas a Donald Trump e, principalmente, à família do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, disse que Lula “presta continência a uma única bandeira: a do Brasil", fazendo referência a um episódio em que Bolsonaro prestou continência à bandeira dos EUA. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, chamou os bolsonaristas de “traidores da pátria".
"Muitos carregavam em campanhas eleitorais a bandeira do Brasil nas costas para dizer que era brasileiro de verdade. Mas, agora, com o ataque dos Estados Unidos, nós sabemos quem são os brasileiros e quem são os traidores da pátria", disse.
Já o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, ironizou a situação jurídica de Bolsonaro no que chamou de “ataque à soberania nacional”.
“Se cada um que estiver para ser condenado na Justiça brasileira for pedir pro Trump aumentar as tarifas dos produtos brasileiros, vai para 5 mil, 50 mil, 500 mil a tarifa. [...] E dizer para o presidente dos EUA que é melhor andar em melhores companhias, porque ele anda mto mal acompanhado com alguns brasileiros que estão querendo fugir para os EUA”. declarou.