BRASÍLIA - A delegação de senadores brasileiros nos Estados Unidos discutiu o fim do tarifaço de Donald Trump e a reabertura das negociações com o Brasil em reunião com o empresariado norte-americano na Câmara de Comércio nesta segunda-feira (28/7). 

O encontro terminou com a perspectiva da elaboração de uma carta assinada pelos empresários e dirigida à Casa Branca sugerindo que o presidente dos Estados Unidos facilite o diálogo com o Brasil, ou, pelo menos, adie o início da cobrança das tarifas sobre produtos brasileiros importados para o país.

"A gente sabe que é difícil [a prorrogação do prazo]. É algo que ocorreu em relação a outros países... A gente sabe que é dificil, mas, o 'não' nós temos. Vamos correr atrás do 'sim'", esclareceu Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal. A carta, segundo ele, será dirigida às autoridades do Executivo norte-americano, e o documento deve ser elaborado e entregue antes do início da vigência do tarifaço na sexta-feira (1º/8).

Trad explicou ainda que a avaliação dos empresários e da própria comitiva é que a aplicação da reciprocidade pelo governo brasileiro não é a melhor opção agora. "Esse é um caminho que não deve ser considerado nesse momento. Por ora, nós temos a convicção de que o melhor é um entendimento equilibrado", analisou.

Questionado sobre as críticas que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) dirigiu à operação da delegação nos Estados Unidos, Trad desconsiderou. "A gente não vai entrar batendo boca com ninguém, até porque não agrega em nada. Estamos buscando uma pacificação", disse.

Também membro da delegação, o senador Carlos Viana (Podemos-MG) afirmou que uma conversa entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi tratada no encontro. "Está na mesa. Foi proposto. Primeiro nós queremos separar a agenda econômica da agenda política", afirmou. "As empresas que têm negócio com o Brasil se manifestaram pelo adiamento diante do prejuízo que vai causar aos dois países", acrescentou.

Nesta terça-feira (29/7), o grupo se encontrará com congressistas norte-americanos filiados ao partido Republicano, sigla que também abriga o presidente Donald Trump. Seis parlamentares confirmaram presença no encontro até segunda-feira à tarde.

O que os senadores brasileiros querem nos Estados Unidos?

Os oito senadores que compõem a delegação são de partidos diferentes e, entre eles, estão nomes da oposição como o Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), e da base, como o líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), e o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA). Fecham o grupo. a líder da missão, Tereza Cristina (PP-MS), e os senadores Carlos Viana (Podemos-MG), Fernando Farias (MDB-AL) e Esperidião Amin (PP-SC). 

A composição do grupo pretende atribuir à delegação um caráter suprapartidário, e a participação de aliados diretos do Palácio do Planalto reforça o papel institucional da missão. A comitiva aposta em conversas com representantes da Câmara de Comércio dos Estados Unidos e parlamentares norte-americanos para melhorar o clima entre os países.  

Pela manhã, os senadores estiveram com a a embaixadora Maria Luiza Viotti e o diplomata Roberto Azêvedo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Os compromissos seguem até quarta-feira (30/7), quando há previsão de um balanço da viagem oficial aos Estados Unidos. O tarifaço é o foco da missão.

A sobretaxa de 50% imposta por Donald Trump ao Brasil entrará em vigor na sexta-feira, sem possibilidade de carência ou prorrogação, segundo o governo dos Estados Unidos. Trump justificou a sanção citando a ação por golpe de Estado que tem Jair Bolsonaro (PL) como réu no Supremo Tribunal Federal (STF).

Para autoridades brasileiras, há tentativa de interferência de Trump na Justiça brasileira. A sanção, porém, chegou a ser defendida por alas da oposição, inclusive alinhadas ao deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos EUA e declarou que o fim do tarifaço está condicionado à aprovação da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. 

Pelo menos 30 setores da economia brasileira que direcionam cerca de 25% de suas exportações aos EUA devem ser atingidos com a nova tarifa. É o caso de tratores e máquinas agrícolas (previsão de queda estimada de 23,6% nas exportações e retração de 1,86% na produção), aeronaves (recuo de 22,3% nas exportações e redução de 9,2% na produção) e carnes e aves (11,3% de queda nas exportações e impacto de 4,2% na produção nacional). 

Dados da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) estimam perdas de até R$ 175 bilhões nos próximos 10 anos pelas tarifas unilaterais dos Estados Unidos. A cifra representa uma redução a longo prazo de 1,49% do Produto Interno Bruto (PIB).