BRASÍLIA - Ao menos dez assessores parlamentares deram poder à chefe de gabinete do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), para receber, movimentar e sacar os próprios salários desde 2011. A informação foi dada pelo portal Metrópoles. A prerrogativa foi conferida a ela através de procurações registradas em cartórios na Paraíba, domicílio eleitoral de Motta.

Função de confiança, a chefia de gabinete de Motta é exercida por Ivanadja Velloso Meira Lima, ré na Justiça Federal por, supostamente, participar de uma “rachadinha” no gabinete do deputado federal Wilson Santiago (Republicanos-PB). Ivanadja está lotada no gabinete do presidente da Câmara desde 2011, quando ele assumiu o primeiro mandato como deputado federal.       

Durante o período em que estiveram lotados no gabinete de Motta, os dez assessores parlamentares receberam R$ 4,1 milhões em salários - o montante não diz respeito ao valor total movimentado pela chefe de gabinete. Dos dez assessores, dois ainda estão nomeados no gabinete do presidente da Câmara dos Deputados.

O primeiro é Ary Gustavo Soares, de 48 anos, nomeado ainda em 2011, logo depois de Motta assumir o primeiro mandato como deputado federal. De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, Ary é caseiro de uma fazenda de Motta em Serraria (PB), a 131 quilômetros de João Pessoa, embora o cargo onde esteja lotado exige dedicação exclusiva e jornada de 40 horas semanais.

Dois parentes de Ary estão lotados nos gabinetes de familiares de Motta. A esposa do caseiro, Isabella Perônico, trabalha para a deputada estadual Francisca Motta (Republicanos-PB), avó do presidente da Câmara. Já o irmão de Ary, André Guedes, é superintendente da PatosPrev, autarquia da Prefeitura de Patos, cujo prefeito é o pai de Motta, Nabor Wanderley (Republicanos).

A segunda ainda nomeada no gabinete de Motta é uma mulher, de 69 anos, vinculada ao deputado federal desde 2013, dois anos depois do início do primeiro mandato. Os outros oito assessores que assinaram procurações a favor de Ivanadja já deixaram o gabinete do presidente da Câmara dos Deputados nos últimos anos. 

Entre os oitos, está uma mulher de 47 anos que foi nomeada no gabinete do então deputado federal Wilson Filho (Republicanos-PB), filho de Santiago, para quem Ivanadja havia trabalhado, logo depois de deixar o entorno de Motta. A mulher trabalhou com o presidente da Câmara entre maio de 2011 e março de 2012.

As acusações contra a chefe de gabinete de Motta não são as primeiras a associá-lo a um suposto desvio de recursos públicos. Quando ainda era líder da bancada do Republicanos, em 2023, o deputado federal pediu um reembolso de aproximadamente R$ 27 mil por um jantar com o ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, e mais 30 correligionários, fora da agenda oficial.

O caso vem a público em meio à pressão da oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Câmara dos Deputados sobre Motta. Desde a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a oposição lhe pressiona para que paute o fim do foro privilegiado e a anistia aos condenados pelos ataques às sedes dos Poderes em 8 de janeiro de 2023.

O TEMPO Brasília tenta contato com Motta e com Ivanadja, mas, até a publicação desta reportagem, ambos não atenderam. Tão logo o presidente da Câmara dos Deputados e a chefe de gabinete se manifestem, os posicionamentos serão acrescentados. O espaço segue aberto. 

Durante a obstrução de 30 horas protagonizada pela oposição após o fim do recesso parlamentar, Motta chegou a ser impedido de ocupar a cadeira da presidência. A estratégia levou a base do governo do presidente Lula a pedir a suspensão de 14 deputados por quebra de decoro. Ele encaminhou as representações para a Corregedoria, irritando a base, que se queixa de morosidade. 

Diante da pressão da oposição e da base, Motta passou a priorizar a exploração sexual de crianças e adolescentes em conteúdos digitais, tema patente desde um vídeo gravado pelo influenciador Felca. O fim do foro privilegiado quanto a anistia foram deixados de fora da agenda de pautas prioritárias do presidente da Câmara dos Deputados e as representações seguem sob análise da Corregedoria.