BRASÍLIA - A vitória da oposição na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que vai apurar fraudes nos descontos de aposentadorias do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) marcou uma derrota não só para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas também para os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).  

Em manobra de última hora, a oposição emplacou tanto o presidente quanto o relator do colegiado. Os próprios aliados de Lula atribuem o resultado à falta de articulação do governo.

O senador Omar Aziz (PSD-AM), nome indicado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), foi derrotado por três votos nesta quarta-feira (20/8), na disputa pela presidência da CPMI. A oposição conseguiu eleger o senador Carlos Viana (Podemos-MG), em um revés político para a base do Planalto e para Alcolumbre. 

A votação é secreta, portanto, não é possível mapear de onde vieram as traições, mas titulares governistas não compareceram à sessão. Entre eles, os deputados Mário Heringer (PDT-MG) e Rafael Brito (MDB-AL).

Assim, parlamentares da oposição puderam votar, como Fernando Rodolfo (PL-PE), na contramão da articulação feita por Alcolumbre. Isso, porque os três primeiros suplentes da comissão são do PL. O líder do partido na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), foi um dos articuladores da operação que desembocou na vitória da oposição. 

Planalto aumenta pressão sobre líderes 

No início da tarde, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, convocou líderes da base para uma reunião emergencial depois da derrota na CPMI do INSS. 

Pressionado, o líder do governo no Congresso Nacional, Randolfe Rodrigues (PT-AP), assumiu a culpa da derrota e reconheceu que a base de Lula subestimou a capacidade de mobilização da oposição. “Eu assumo a minha máxima culpa enquanto líder do governo no Congresso. Responsabilidades minhas, eu não terceirizo para ninguém”, frisou o senador em coletiva à imprensa nesta mesma quarta-feira. 

De acordo com Randolfe, ele já assumiu a culpa para Gleisi e para Lula em reunião logo após a instalação da CPMI. “Comuniquei isso à ministra e ao presidente da República, me coloquei à disposição para os melhores encaminhamentos e, agora, vamos tentar nos reorganizar”, pontuou o senador.  

Questionado se entregou o cargo, o líder do governo no Congresso Nacional desconversou. “O cargo que exerço não pertence a mim, pertence ao presidente da República. Todos os dias que exerço este cargo, eu procuro servir a este cargo. Todos os dias que ocupo este cargo, ele estará à disposição do governo”, disse Randolfe. 

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (RJ), admitiu a ausência de mobilização da base do governo e afirmou que houve, “claramente”, um problema de articulação.  

“O governo vai ter que se reorganizar. [...] Eu estou vendo problema de mobilização da base. Houve alguma subestimação”, reconheceu o líder do PT em entrevista na Câmara dos Deputados logo depois de deixar a reunião no Palácio do Planalto.   

Segundo ele, os líderes do governo já foram cobrados por Gleisi. “Todo mundo tem que estar mais ligado. Os líderes têm que estar mais ligados. Tem que ter uma articulação entre Senado e Câmara dos Deputados mais forte”, reforçou Lindbergh.   

Derrota também para Hugo Motta 

O senador Carlos Viana, presidente eleito para a comissão, também rejeitou o nome do deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO), indicado pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, como relator. No lugar, Viana escolheu o deputado Alfredo Gaspar (União-AL), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). 

A derrota na CPMI do INSS marcou mais episódio que abala a liderança do presidente da Câmara. Motta chegou a postar nas redes sociais o nome do relator que indicou antes da reviravolta.