BRASÍLIA – Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta quarta-feira (6/8), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que vai continuar atuando nos Estados Unidos pelo aumento das sanções contra o Brasil. Ele disse ainda que só deixará o país comandado por Donald Trump se conseguir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e que não pretende renunciar ao mandato.
Na primeira entrevista após seu pai, Jair Bolsonaro (PL), ter a prisão domiciliar decretada por Alexandre de Moraes, Eduardo Bolsonaro, reforçou que o tarifaço de Trump contra produtos brasileiros está relacionado ao julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo. O ex-presidente é acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado após perder as eleições de 2022.
Ao falar sobre o tarifaço, que entra em vigor nesta quarta-feira, o deputado brasileiro elogiou Trump e afirmou que “há um sacrifício a ser feito”. Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro pode ter um impacto negativo de R$ 19 bilhões, e que as exportações brasileiras podem cair US$ 54 bilhões.
“O presidente Trump colocou que essa era uma questão envolvendo a perseguição a Jair Bolsonaro, seus familiares e apoiadores. Ele apontou para uma crise institucional. Para resolver essa crise, a gente tem que dar uma sinalização aos americanos. A melhor maneira, na minha sugestão, é a anistia ampla, geral e irrestrita. Isso colocaria o Brasil numa boa condição na mesa de negociações junto ao governo dos EUA. Não sou eu que levo a mensagem que sou responsável por essas tarifas, mas sim o conjunto da obra feito no Brasil que é liderado pelo ministro Alexandre de Moraes”, afirmou Eduardo Bolsonaro.
O deputado afirmou que vai à Casa Branca toda semana para conversar com auxiliares de Trump. Busca mais sanções contra autoridades brasileiras, em especial Alexandre de Moraes. Ao ser questionado se chegou a fazer alguma gestão junto ao governo dos EUA para tentar reverter ou amenizar esse tarifaço, alegou que nada pode fazer para mudar a posição do presidente norte-americano.
“A gente leva um pouco dessa perspectiva econômica, mas não me sinto na posição de desautorizar o Trump. Entendo que ele é muito mais qualificado do que eu para escolher quais armas utilizar nesta briga, até porque tem uma carreira de muito êxito empresarial, é um excelente negociador. Mesmo como político, ele tem tido sucesso em 100% das empreitadas em que exigiu um bom resultado para os Estados Unidos. Dou graças a Deus que ele voltou suas atenções para o Brasil. Acho que tem valido a pena”, afirmou o deputado.
Eduardo Bolsonaro falou ainda que não recebeu reclamação de nenhum empresário brasileiro sobre as tarifas impostas por Trump em função das ações do STF contra o pai dele. Afirmou que, ao contrário, tem recebido elogios, em especial de fazendeiros, que são os mais atingidos pelo tarifaço.
“Até agora nenhum fazendeiro ou produtor agrícola me ligou para dizer que eu deveria parar com as minhas ações. Pelo contrário. Tenho recebido parabéns e tido muito apoio nas redes sociais. As pessoas entendem que há um sacrifício a ser feito e que o pior mal é essa ditadura de toga comandada pelo ministro Alexandre de Moraes”, disse o deputado.
“Confesso que antes disso tudo acontecer, eu e (o ex-apresentador de Jovem Pan) Paulo Figueiredo, que tem me acompanhado nessas reuniões, assumimos o risco de talvez até, momentaneamente, aumentar o prestígio do Lula, aumentar a sua popularidade. Mas o que a gente viu, de acordo com as pesquisas, foi uma oscilação do Lula. E a gente tem certeza que, quando o resultado definitivo vier, com a anistia, isso vai ser revertido a nosso favor em termos de popularidade. Mas isso daí é secundário. Nosso cálculo não é eleitoral”, completou.
O filho de Jair Bolsonaro ressaltou trabalhar para que os EUA aumentem as sanções sobre o Brasil após Alexandre de Moraes decretar a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro. Disse ainda que os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), podem sofrer sanções se não atenderem às reivindicações dos parlamentares de oposição.
“Trabalho sim, neste sentido. Estou levando a prisão ao conhecimento das autoridades americanas e a gente espera que haja uma reação. Não é da tradição do governo Trump receber essa dobrada de aposta do Alexandre de Moraes e nada fazer. O que eles vão fazer, eu não sei. Não sei se isso vai passar pela mesa do Trump ou pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. Espero que haja uma reação nos próximos momentos”, disse.
“Uma vez que não é pautado o impeachment do ministro Alexandre de Moraes no Senado, uma vez que o presidente da Câmara não pauta uma anistia, eles estão entrando no radar das autoridades americanas. As pessoas que estão em posição de poder têm responsabilidades e estão sendo observadas pelas autoridades americanas. Todos eles estão no radar”, emendou.
Eduardo Bolsonaro disse que não pensa em voltar ao Brasil. “Se eu retornar, sei que vou ser preso. Primeiramente, tenho que tirar o Alexandre de Moraes dessa equação, anular ele, isolá-lo. A gente tem que aprovar uma anistia para que alcance todos os perseguidos por Moraes. Os meus planos aqui são: ou tenho 100% de vitória, ou 100% de derrota. Ou saio vitorioso e volto a ter uma atividade política no Brasil, ou vou viver aqui décadas em exílio. É o que eu estou assumindo, estou aceitando esse risco, porque eu acho que vale a pena.”
Lula disse que não vai ligar para Trump para falar de tarifaço
O tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros teve, entre outras justificativas, o julgamento de Jair Bolsonaro no STF. O ex-presidente é acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado após perder as eleições de 2022. Para Trump, existe uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro, seu aliado no cenário internacional.
Em resposta, Lula disse ver nisso interesse eleitoral. “O pretexto (para a taxação) não é nem político, é eleitoral”, afirmou o petista. Ao participar de reunião na terça-feira (5/8), do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, Lula disse que não ligaria para Trump porque o presidente norte-americano não quer conversar.
“Não vou ligar para o Trump para negociar nada (sobre o tarifaço), porque ele não quer”, discursou Lula, para afirmar em seguida: “Mas pode ficar certa, Marina (Silva, ministra do Meio Ambiente). Vou ligar para o Trump para convidá-lo para vir para a COP (a reunião global sobre mudanças climáticas, que desta vez vai acontecer em Belém); quero saber o que é que ele pensa da questão climática”.
Lula voltou a reclamar que o presidente norte-americano poderia ter ligado antes para ele ou para o vice-presidente Geraldo Alckmin, já que haveria disposição de diálogo em relação à imposição de novas tarifas. O tarifaço foi divulgado por meio de carta publicada em rede social. “O presidente americano não tinha direito de anunciar taxações como anunciou ao Brasil”, reclamou Lula.
Em resposta a uma pergunta de uma jornalista da TV Globo, Trump disse que “ele (Lula) pode falar comigo quando quiser”. Lula reagiu horas depois. Na rede social X, ele escreveu que sempre esteve aberto ao diálogo e, no momento, trabalha para dar resposta às medidas tarifárias anunciadas por Trump. “Sempre estivemos abertos ao diálogo. Quem define os rumos do Brasil são os brasileiros e suas instituições.”
Produtos foram poupados de tarifaço
Na semana passada, Trump assinou a medida que afeta 35,9% das mercadorias brasileiras enviadas ao mercado norte-americano, o que representa 4% das exportações brasileiras. Por outro lado, quase 700 produtos do Brasil ficaram fora do tarifaço.
Café, frutas e carnes estão entre os produtos que passam a pagar uma sobretaxa de 50%. Ficaram de fora dessa taxa suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes e aeronaves civis, incluindo seus motores, peças e componentes, polpa de madeira, celulose, metais preciosos, energia e produtos energéticos.
O tarifaço imposto ao Brasil faz parte da nova política da Casa Branca, inaugurada por Donald Trump, de elevar as tarifas contra parceiros comerciais na tentativa de reverter a relativa perda de competitividade da economia americana para a China nas últimas décadas.
Em 2 de abril, Trump iniciou a guerra comercial impondo barreiras alfandegárias a países de acordo com o tamanho do déficit que os Estados Unidos têm com cada nação. Como os EUA têm superávit com o Brasil, foi imposta, em abril, a taxa mais baixa, de 10%.
Porém, no início de julho, Trump elevou a tarifa para 50% contra o Brasil em retaliação a decisões que, segundo ele, prejudicariam as big techs estadunidenses e em resposta ao julgamento de Bolsonaro.