Eleições

Em disputa acirrada, congressistas devem evitar 'voos altos' em 2022

Cientista político avalia que senadores não devem se viabilizar para disputa ao Palácio do Planalto

Por Heitor Mazzoco
Publicado em 30 de dezembro de 2021 | 08:00
 
 
 
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A maioria esmagadora dos 513 deputados federais disputará a reeleição em outubro de 2022 na tentativa de garantir a permanência no Poder Legislativo por mais quatro anos. Enquanto isso, no Senado, o movimento é mais badalado com pré-candidatos à Presidência da República e aos governos estaduais.

Na Câmara, a pré-candidatura mais citada é a do deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), que deve disputar o Governo do Rio de Janeiro no ano que vem. Entre deputados, Freixo é o nome mais forte para deixar o Legislativo Federal rumo ao Poder Executivo de seu Estado de origem.

Em pesquisa eleitoral no final de outubro, Freixo apareceu em segundo lugar num cenário que tem o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), na primeira colocação. Sem Paes, que diz não ser candidato no ano que vem, Freixo assume a ponta. O atual governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), apareceu na sondagem em terceiro e segundo lugares nos dois cenários.

Deputado federal eleito em 2018, Freixo nunca disputou o governo estadual. Em 2012 e 2016, ele ficou em segundo lugar na disputa pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Em 2006, 2010 e 2014, Freixo foi eleito deputado estadual pelos fluminenses.

Se de fato disputar e vencer a eleição no Rio de Janeiro, Freixo será o primeiro eleito ao governo estadual do RJ saindo da Câmara dos Deputados. Esta movimentação nunca ocorreu ao menos desde a redemocratização. Em termos de Legislativo Federal, Sergio Cabral deixou o Senado em 2006 para assumir como governador no Rio de Janeiro em 2007. Ele ainda foi reeleito em 2010 e permaneceu no cargo até 2014.

O deputado Birá do Pindaré (PSB-MA), eleito neste mês como líder do PSB na Câmara, lembra também o nome de Alessandro Molon (PSB-RJ), que também pode tentar deixar a Câmara.

Neste caso, no entanto, Molon tentará se eleito senador pelos fluminenses. Vale lembrar que a disputa pelo Senado Federal em 2022 é mais acirrada. Isso porque, apenas um candidato será eleito por Estados e Distrito Federal.

Ainda na Câmara, há a pré-candidatura de André Janones (Avante-MG) a presidente da República. Em uma pesquisa do IPEC, ele apareceu empatado com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com 2%.

O partido de Janones não tem tradição em lançar candidatura para presidente, mas nos bastidores o deputado demonstra satisfação com os números da pesquisa eleitoral. Janones tem um trabalho intenso nas redes sociais. Foi por aí, inclusive, que surgiu com força em 2018 e conseguiu quase 180 mil votos dos mineiros.

Com críticas e apoio, por exemplo, aos caminhoneiros na greve de 2018, conquistou um bom número de seguidores nas redes sociais.

Outro que pode tentar deixar a Câmara e seguir para o Senado é José Medeiros (Podemos-MT). O deputado já foi senador entre 2015 e 2019, ao assumir a cadeira de Pedro Taques, que deixou o Senado para governar o Mato Grosso.

Hoje, Medeiros é o candidato do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), para disputar a vaga de senador pelo MT. Bolsonarista ferrenho, Medeiros é apoiador e defensor do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Ele se apega a este fator para tentar voltar ao Senado.

Por enquanto, o partido Novo colocou dois nomes para disputas estaduais. Em São Paulo, o deputado federal Vinicius Poit é pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Já no Rio de Janeiro, o deputado federal Paulo Ganime pode ser o nome que o Novo lançará para disputado do governo.

No Senado, um ‘batalhão’ de pré-candidatos para 2022

Com mandato de oito anos, senadores, geralmente aparecem após quatro anos de trabalho no Senado para disputa da Presidência da República ou dos governos estaduais. No ano que vem, 27 vagas estão em jogo no Senado. Em 2022, a renovação será de um terço. Enquanto em 2026 será de dois terços. Isso ocorre porque os mandatos de senadores são de oito anos. Isso ocorre para garantir estabilidade ao país, principalmente em tempos de crises. Isso acontece desde a Constituição de 1946.

Eleito em 2018, o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), aparece como pré-candidato a presidente. Junto a ele, surgiram nomes de Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Simone Tebet (MDB-MS). Destes, apenas Tebet encerra os oitos anos de mandato em 2023. Caso, de fato, concorra e não seja eleita, ela ficará sem mandato a partir do ano seguinte a eleição.

Para governos estaduais, outros senadores se apresentaram para disputa até o momento. Segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais pode ter o senador Carlos Viana (MDB) como candidato ao Governo de Minas. Ele trocou o PSD pelo MDB para disputar o pleito.

Luis Carlos Heinze (PP-RS) é pré-candidato ao Governo do Rio Grande do Sul. Heinze se destacou com a ala bolsonarista durante a CPI da Covid, no Senado, ao defender o governo de Jair Bolsonaro e os depoentes que fizeram parte do governo federal em ações desde o começo da pandemia da Covid-19, em março de 2020.

O senador Jorginho Mello (PL-SC) já apareceu em segundo lugar em uma pesquisa feita pelo Instituto Paraná Pesquisas para o Governo de Santa Catarina. Este é outro parlamentar que ganhou holofotes com apoiadores de Jair Bolsonaro durante os trabalhos da CPI da Covid. Jorginho Mello e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) protagonizaram, inclusive, umas das cenas mais bizarras da política brasileira em 2021. Durante depoimento da CPI da Covid, Calheiros chamou Jorginho de “vagabundo” após ser interrompido pelo catarinense, que revidou: “Vagabundo é você, ladrão”.

Ainda no Sul do País, o senador Flávio Arns (Podemos-PR) apareceu em terceiro lugar em uma pesquisa recente do Paraná Pesquisas com 8,9%.

No Nordeste, o PT deve lançar os senadores Jaques Wagner (Bahia) e Rogério Carvalho (Sergipe) para disputas estaduais. Destes, Wagner já foi governador do Estado ao vencer em 2006 e 2010. Caso volte a vencer no Estado será a quinta vitória seguida do PT na Bahia. Já em Sergipe, caso seja candidato, Carvalho disputará o governo do Estado pela primeira vez.

Por fim, no Distrito Federal, o senador Izalci Lucas (PSDB) lançou a pré-candidatura ao Governo do Distrito Federal neste mês. Lucas nunca ocupou cargos no Poder Executivo. Ele já foi deputado distrital, deputado federal e, em 2018, foi eleito senador.

Congresso Nacional está muito mais poderoso, avalia cientista político

Carlos Ranulfo, cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cita que o Congresso Nacional ganhou poder nos últimos anos desde a gestão de Eduardo Cunha (MDB-RJ). Isso porque, os últimos governos federais foram fracos, como é o caso da gestão de Jair Bolsonaro (PL).

“O Congresso hoje está muito poderoso seja porque tem dinheiro, seja porque deputados avançaram ao Orçamento da União, porque o governo Bolsonaro é muito fraco. Os bons nomes para Câmara vão sair para Câmara, que é um centro de poder indiscutível. A Câmara se fortaleceu muito desde Eduardo Cunha para cá. As duas gestões, de Eduardo Cunha e Arthur Lira, fortaleceram muito a Câmara, porque pegaram governos fracos”, cita Ranulfo.

A fraqueza do Poder Executivo perante o Poder Legislativo é visível, segundo o cientista político, pelas votações no Congresso. Um exemplo é o auxílio emergencial durante a pandemia da Covid-19. O governo propôs ajuda de R$ 200. Mas o Congresso Nacional aumentou para R$ 600.

“Quem dirige o país hoje? O (Rodrigo Maia) e o Lira governaram muito mais que o Bolsonaro. Bolsonaro não faz nada, nunca fez nada. A maioria da legislação aprovada no Brasil foi aprovada por iniciativa da Câmara dos Deputados. Foram eles (Maia e Lira) que determinaram o que ia ser aprovado. O governo foi participante com menor peso”, aponta Ranulfo.  

Ranulfo também avalia que os partidos não podem lançar bons nomes para governos estaduais, por exemplo, porque sabem do peso e da importância da eleição para o Legislativo Federal, como definição de “tempo de televisão e fundo partidário”.

A renovação vista em 2018 também é criticada por Ranulfo. Segundo o cientista político, a situação piorou. “O Legislativo na eleição passada (2018) mudou. A gente teve na Câmara dos Deputados uma renovação de mais de 50%. E piorou, não é? O que devia nos ensinar que pelo menos renovação por si só não é remédio. O Senado também, a maioria dos senadores não se elegeu. Então, o Congresso Nacional passou por uma brutal renovação puxada pelo novo, pela onda bolsonarista. Esta onda já se revelou uma farsa”, disse.  

Sobre candidaturas de senadores, Ranulfo diz não acreditar que os nomes citados ganhem força até o começo da campanha eleitoral.

“Não se viabilizam como candidatos. Eles podem pensar em vice, para negociações, mas como candidatos competitivos é quase impossível. Pacheco nunca assumiu como candidato. Sempre escorrega. A Tebet assumiu, mas o MDB é famoso por lançar candidato e depois deixar na chuva. O último foi o (Henrique) Meirelles. O partido abandona seus candidatos. Se a Tebet sair candidata, vai ficar falando para o vento. Agora, o Senado nesta Legislatura é só uma vaga por Estado. Portanto, renovação menor. E não acredito que o Senado terá renovação tão intensa como na eleição passada. Acho que a coisa vai voltar aos eixos”, afirma o cientista político.

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