Análises diferentes sobre o mesmo fato. Dois cientistas políticos ouvidos por O TEMPO divergiram sobre o balanço das falas do governador Romeu Zema (Novo) ao Estadão, em entrevista no formato perguntas e respostas publicada nesse sábado (5/8). Entre outros assuntos, Zema defendeu um fortalecimento do Consórcio Sul-Sudeste (Cossud) ante as políticas públicas assistencialistas voltadas ao Norte e Nordeste, o que motivou uma carta de repúdio por parte do Consórcio Nordeste, assinada pelo governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB).
Para a cientista política Juliana Fratini, a fala de Zema pode atrapalhá-lo politicamente, principalmente pensando no futuro do governador em 2026; “De modo mais assertivo, politicamente falando, ele poderia sugerir a integração do Sudeste aos interesses do Norte, como modo de se beneficiar dessas riquezas e expandi-las para todo o país. Ocorre, no entanto, que o Norte não possui um colégio eleitoral significativo também, que faz com que a percepção seja quase bairrista, bem como demonstre, em certa medida, um estilo de política oligárquica, na qual apenas os governadores do Sudeste parecem aptos a mandar no país”, explica a especialista.
Por outro lado, o cientista político Adriano Cerqueira pensa que Zema foi mal interpretado. Para ele, isso aconteceu porque os governadores do Sul-Sudeste hoje são oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "A ideia do Cossud é para que a oposição no Brasil mostre sua força, porque Lula teve sua vitória garantida praticamente pelo Sudeste. Nessa entrevista, o Zema dá indicações que está pensando na presidência da República em 2026. Ele sabe da força que a direita tem hoje no Brasil. É uma força crescente. Ele sabe que a oposição a Lula e aos petistas, se bem feita, pode render muitos votos", diz o professor do Ibmec.
Alvos das declarações de Zema, os nove estados do Nordeste tinham 42 milhões de pessoas habilitadas a votar na eleição do ano passado, conforme o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para efeito de comparação, o presidente Lula venceu Jair Bolsonaro (PL) com 60,3 milhões de votos no ano passado. O maior colégio eleitoral do País é o Sudeste com 67 milhões de eleitores.
As falas de Zema
Na entrevista publicada nesse sábado, Zema anseia por políticas públicas mais voltadas aos Sul e ao Sudeste. “Está sendo criado um fundo (contra a desigualdade social) para o Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Agora, e o Sul e o Sudeste não têm pobreza? Aqui todo mundo vive bem, ninguém tem desemprego, não tem comunidade...Tem, sim. Nós também precisamos de ações sociais. Então Sul e Sudeste vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta?”, declarou o governador ao Estadão.
Na sequência, Zema criticou a política assistencialista aos estados mais pobres do Brasil com uma metáfora. “Isso não pode ser intensificado, ano a ano, década a década. Se não você vai cair naquela história, do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito. Daqui a pouco as que produzem muito vão começar a reclamar o mesmo tratamento”, afirmou.