Justiça

EUA pedem ao Brasil últimos documentos para fazer extradição de Allan dos Santos

O blogueiro bolsonarista, que mora no estado da Flórida, é considerado foragido da Justiça brasileira desde outubro de 2021, quando teve a prisão determinada pelo STF

Por Renato Alves
Publicado em 03 de março de 2023 | 13:50
 
 
 
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O governo dos Estados Unidos pediu ao governo brasileiro os últimos documentos necessários para dar prosseguimento ao processo de extradição de Allan dos Santos. 

O blogueiro bolsonarista, que mora no estado da Flórida, é considerado foragido da Justiça brasileira desde outubro de 2021, quando teve a prisão determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Ele é investigado em dois inquéritos na Corte: um sobre a propagação de fake news e outro sobre participação em milícias digitais que ameaçavam a democracia brasileira, segundo investigação da Polícia Federal.

Nesse segundo caso, o blogueiro é apontado como integrante de uma organização criminosa ao lado de outros aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, como Filipe Martins e Olavo de Carvalho – o guru do bolsonarismo que morreu em decorrência da covid-19, doença que ele chegou a negar a existência. O grupo usava as redes sociais para atacar ministros do STF e a democracia, conforme a PF. 

Segundo relatório policial sobre a participação de Allan no caso, ele tentou influenciar Bolsonaro a dar um golpe e “provocar um rompimento institucional”, que incluía o fechamento do STF e do Congresso, com prolongamento do mandato do então presidente, que acabou derrotado nas urnas no ano passado por Luiz Inácio Lula da Silva – Bolsonaro viajou para a Flórida dois dias antes de terminar o mandato e continuou nos EUA sem dizer quando e se volta ao Brasil.

Já Allan dos Antos, após sair do Brasil de forma ilegal e aparecer em vídeos feitos por ele mesmo debochando do STF e atacando ministros da Corte, em especial Alexandre de Moraes, teve o nome colocado em um pedido para inclusão na lista de procurados da Interpol, o que ainda não foi feito. Sem esse requisito, os EUA não podem emitir o alerta máximo que faz com que autoridades busquem os investigados.

Além da inclusão na lista da Interpol, a extradição do blogueiro depende da atuação do Ministério da Justiça brasileiro e da cooperação do governo dos Estados Unidos. O pedido formal para envio de documentos foi feito à pasta comandada por Flávio Dino.

O Ministério da Justiça informou ao O TEMPO que a documentação pedida pelo governo norte-americano está sendo finalizada pelo Departamento de Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), órgão da pasta brasileira. Não há prazo para resposta do ministério.

Só após receber e conferir os documentos é que o governo dos EUA vai decidir sobre a extradição de Allan dos Santos. Assim que ela se confirmar e o blogueiro seja trazido de volta ao Brasil, ele será levado para uma penitenciária.

Sem passaporte, blogueiro continua a provocar justiça brasileira

Além de ter o passaporte cancelado e a prisão decretada, Allan dos Santos não se intimidou. Sempre fez vídeos zombando das decisões do STF e participou de encontros com lideranças da direita brasileira em território norte-americano, o que incluiu eventos públicos.

Impedido por decisão da Corte de ter contas nas redes sociais, ele abriu seu 31º perfil e postou recentemente um vídeo segurando um suposto visto de trabalho nos Estados Unidos com a legenda: “Chora, Xandão”.

O vídeo foi publicado em 16 de fevereiro e apagado dias depois após ampla repercussão. O perfil segue ativo.

Não está claro se de fato o blogueiro tem a autorização para trabalhar nos EUA. Para conseguir renovar o documento, é necessário preencher um formulário que exige tanto o número quanto a data de validade do passaporte. No caso de Allan dos Santos, por decisão de Moraes, o passaporte foi cancelado em novembro de 2022.

Em junho do ano passado, Allan dos Santos esteve presente em passeio de moto do presidente Jair Bolsonaro com apoiadores em Orlando, na Flórida.

Ele fez uma transmissão ao vivo pelas redes sociais com apoiadores do então presidente, antes da chegada de Bolsonaro ao local. Por pouco mais de seis minutos, o foragido tirou fotos e gravou vídeos com bolsonaristas.

Allan dos Santos foi condenado em julho do ano passado

Um mês depois, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul condenou Allan dos Santos a um ano e sete meses de detenção, em regime aberto, por calúnia contra a cineasta Estella Renner, produtora da Maria Farinha Filmes.

O processo começou após a publicação de um vídeo pelo blogueiro bolsonarista no YouTube, em dezembro de 2017, em que ele cita Estella como responsável por “destruir a família e a vida de nossas criancinhas” e por “botar maconha na boca dos jovens”.

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