BRASÍLIA — A tensão entre o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o prefeito candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), escalou nesta segunda-feira (14) à tarde com a politização do apagão que se arrasta por três dias e deixa mais de 530 mil clientes sem energia elétrica na Grande São Paulo.

Escalado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para uma ação emergencial na metrópole, Alexandre Silveira participou de uma reunião com as distribuidoras de energia nesta segunda-feira e, à frente da crise, atacou o prefeito de São Paulo.

"Rede social não foi feita para brincadeiras, para se aproveitar de forma oportunista e fazer politicagem de baixo calão", disparou. "Está na hora de falar sério quando se trata de energia, de saúde, de educação, de segurança. Está na hora de cobrar dos governantes que tratem dos problemas com clareza e franqueza", disse. 

A declaração é uma resposta a uma publicação feita pelo prefeito de São Paulo neste domingo (13). "É lamentável. No dia do apagão, o ministro de Minas e Energia falou durante um evento com o diretor da Enel, em Roma, na Itália, da possibilidade de renovação dos contratos da Enel no Brasil. São Paulo não merece que a Enel continue prestando seus serviços aqui", postou. 

Silveira nega: "O que vi ontem [domingo, 13] foi uma fake news oficial feita pelo prefeito da maior metrópole do Brasil. Vi com tristeza, porque recebi ele no meu gabinete a pedido da bancada do MDB. Quando recebi, as providências [sobre o apagão anterior] já estavam tomadas. E ele sabe disso", afirmou.

Ele também acrescentou que Nunes "aprendeu a mentir" com Pablo Marçal, que se candidatou à prefeitura de São Paulo pelo PRTB e terminou a corrida em terceiro lugar. 

O ministro ainda disse que a gestão do atual prefeito é ineficiente. "O prefeito precisa compreender que, de agora até dezembro, ele tem muita árvore para cortar, muitas coisas para corrigir para que, no verão, diminuam os problemas energéticos", avaliou. 

O ofício citado por Alexandre Silveira é um processo movido contra a Enel, que distribui energia para São Paulo, por um apagão de grandes proporções registrado em novembro do ano passado. A ação pode levar à caducidade do contrato de concessão assinado com a distribuidora.

Declaração em Roma iniciou indisposição entre Silveira e Nunes 

A declaração de Alexandre Silveira sobre a renovação do contrato da Anel à que se referiu Ricardo Nunes em um tuíte contra o ministro aconteceu durante uma conferência do grupo Esfera, em Roma, na Itália, nessa sexta-feira (13).

"No ramo da distribuição, está aqui a Enel, permitimos a antecipação dos contratos de renovação de distribuição para preparar a distribuição no Brasil, para digitalizar e para recepcionar mais energia renovável com segurança", diz o ministro no trecho publicado pela colunista Raquel Landim no Uol. 

Aneel na mira de Silveira 

O ministro de Minas e Energia também criticou a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) por falhas na fiscalização das operações da Enel. Os ataques de Alexandre Silveira à agência são recorrentes. 

"As agências reguladoras não podem ser soberanas. Elas têm que ter responsabilidade com a aplicação e a formulação de políticas públicas", disse. "Venho denunciando há muito tempo o boicote da agência reguladora quanto à implementação das políticas públicas", concluiu. 

A agência também é alvo de ataques do quadro do PT. Os diretores que hoje estão à frente da Aneel foram nomeados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Silveira, aliás, citou esse fato para rebater críticas feitas a ele pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em meio ao apagão. 

"Gostaria de lembrar ao governador que a atual composição da Aneel, entidade responsável pela fiscalização da Enel, foi nomeada com mandato pelo governo anterior. Não faltou ao MME [Ministério de Minas e Energia] e ao nosso governo cobrança à agência para garantir punição adequada à distribuidora", escreveu no X. "A Aneel bolsonarista não deu andamento ao processo de punição, nem mesmo a uma fiscalização adequada", acrescentou.