BRASÍLIA - Membros da atual gestão da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) atuaram para obstruir as investigações sobre o suposto esquema de espionagem ilegal de autoridades e jornalistas no órgão, aponta o relatório da Polícia Federal (PF).

O diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, está entre os 35 indiciados pela PF no caso, que ficou conhecido como “Abin paralela”. Entre os indiciamentos, também estão o de Luiz Carlos Nóbrega, chefe de gabinete de Corrêa, e do corregedor-geral José Fernando Chuy.

Conhecido de longa data do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Luiz Fernando Corrêa é delegado aposentado da Polícia Federal. Em gestões anteriores do petista, trabalhou na PF e em secretarias do Ministério da Justiça. Também foi diretor de Segurança do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Em abril deste ano, prestou depoimento sobre o caso da Abin paralela.

Indiciados

Entre os alvos da PF nesta terça-feira, estão o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos) e o ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem, atual deputado federal. 

O indiciamento é a fase em que o agente de investigação, nesse caso a PF, aponta haver evidências contundentes para a responsabilização por práticas criminosas. O relatório final foi encaminhado para o Supremo Tribunal Federal (STF) que deve, nos próximos dias, enviar para a Procuradoria-Geral da República (PGR). 

Investigações revelaram que a “Abin paralela” foi um esquema de espionagem ilegal de autoridades e outras pessoas durante o governo Bolsonaro. Alguns dos alvos eram vistos como adversários do ex-presidente.

Teriam sido espionados ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o ex-ministro da Educação, Camilo Santana, que à época era governador do Ceará. A lista inclui ainda jornalistas.

O monitoramento seria feito por meio de ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis, como celulares e computadores, sem autorização judicial. O software usado foi o FirstMile, adquirido e administrado durante a gestão de Ramagem na Abin.

Sob Ramagem, a Abin também teria sido usada na preparação de relatórios para defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), outro filho do ex-presidente, no caso das supostas “rachadinhas” em seu gabinete, quando foi deputado estadual pelo Rio de Janeiro.