BRASÍLIA - A reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que venceu o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno neste domingo (27), representa um importante fortalecimento da posição do governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em relação ao cenário eleitoral de 2026. 

Entre todos os cabos eleitorais na eleição, tanto à direita quanto à esquerda, Tarcísio de Freitas emerge como o mais fortalecido após o pleito paulistano.  Foi ele quem teimou, insistiu e convenceu o PL a apoiar o nome de Ricardo Nunes, prefeito que era pouco conhecido por grande parte do eleitorado.

Nunes também tinha o apoio formal do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que atuou de forma tímida na campanha, sobretudo no primeiro turno. Nesse período, Bolsonaro se viu dividido entre o acordo com o MDB e a "onda" de apoio gerada por Pablo Marçal (PRTB), que era preferido por uma parte dos aliados do ex-presidente.

Por outro lado, o governador mergulhou de cabeça na campanha de reeleição do prefeito, mesmo aconselhado a fazer o contrário por alguns aliados, como Bolsonaro. Participou de dezenas de agendas de campanha na rua, com empresários e, sobretudo, em igrejas, criando a ponte entre o emedebista e lideranças evangélicas. 

Ele também apareceu exaustivamente nas propagandas de rádio e TV. Em certo momento, a campanha de Nunes não escondia mais a estratégia de colar a imagem do candidato à de Tarcísio. No Instagram, a página do prefeito exibiu clipes dizendo que São Paulo vai “Nunestar”, uma junção do sobrenome de um com as iniciais do outro.

Nunes fez questão de elogiar o governador em seu discurso da vitória, e escondeu Bolsonaro em sua fala de quase 15 minutos. “Ao líder maior, sem o qual essa vitória não seria possível. Nós não teríamos essa vitória sem você. Meu amigo, que me deu a mão nas horas mais difíceis: governador Tarcísio de Freitas. [...] O seu nome é presente, mas o seu sobrenome é futuro”, disse.

Diante desse cenário, a vitória de seu afilhado político é interpretada como uma demonstração de força do atual governador na capital,  setores progressistas, que são avessos a nomes da direita, têm uma influência muito maior em comparação com o interior do Estado.

Assim, tanto aliados como adversários reconhecem que Tarcísio, mesmo a dois anos da eleição geral, já se coloca em posição privilegiada caso tente se reeleger ou até mesmo tente voos mais altos, como a Presidência da República, com a “benção” ou não de Bolsonaro que está inelegível até 2030.

Tarcísio versus Lula em 2026?

O governador tem sido apontado por uma parte da oposição como o principal nome da direita para disputar a Presidência da República caso Jair Bolsonaro não consiga reverter sua inelegibilidade na Justiça Eleitoral. Isso já foi apontado, por exemplo, pelo presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto.

Demonstrando força em São Paulo, Tarcísio é tido como o nome à direita que larga com as melhores condições de fazer frente a uma provável campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou do candidato por ele apoiado, caso Lula decida não concorrer.

No entanto, o risco é considerado alto. Mesmo não estando com a mesma popularidade de seus governos anteriores e com um natural desgaste de sua imagem após quatro anos de mandato, Lula é apontado como um oponente difícil de derrotar, principalmente porque terá a máquina do governo federal nas mãos.

Portanto, a opção mais segura para Tarcísio, para a maioria dos aliados, ainda é a busca por uma reeleição ao governo do Estado. A avaliação interna é de que essa trajetória pode ser alcançada sem maiores dificuldades, especialmente se ele continuar a se apresentar como uma figura popular tanto no interior quanto na capital.

E, em 2030, com a certeza de que não enfrentará a concorrência de Lula, Tarcísio poderá, então, tentar o cargo mais alto do país, de acordo com seus aliados. No entanto, ainda existe a possibilidade de que Bolsonaro o convença a concorrer ao Palácio do Planalto já nas próximas eleições, em dois anos.