BRASÍLIA – A Polícia Federal (PF) investiga desde terça-feira (7) a divulgação de fake news sobre ações dos governos federal, estaduais e municipais nas enchentes do Rio Grande do Sul. Na mira estão publicações feitas em redes sociais pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG), além de influenciadores, como o coach Pablo Marçal.

Eduardo Bolsonaro escreveu em redes sociais que o governo federal demorou quatro dias para enviar reforços ao Rio Grande do Sul. Já Pablo Marçal afirmou, em vídeo publicado no domingo (5), que a Secretaria da Fazenda do RS estava barrando os caminhões de doação, impedindo a distribuição de comida e marmitas. O conteúdo, que viralizou, foi disseminado por Cleitinho.

“A Secretaria da Fazenda do Estado está barrando os caminhões de doação. Não estão deixando distribuir comida, marmita”, afirmou Marçal. “Esse [2024] é ano político, a mídia não vai mostrar direito o que está acontecendo”, completou Marçal. Cleitinho compartilhou a fake news de Marçal e fez outro vídeo, com xingamentos: “Canalhas! Pegam essas notas fiscais e levam para o quinto dos infernos. Se vocês não conseguem ajudar, não atrapalha (sic) quem está ajudando!'”.

Tanto o governo do Rio Grande do Sul quanto o governo federal desmentiram o vídeo de Marçal. E autoridades gaúchas disseram temer que doações deixem de chegar ao Estado por causa da fake news.

Documento lista conteúdos com desinformação

A investigação da PF começou por ordem do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, que recebeu na terça-feira ofício com o pedido de apuração enviado pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta. Serão apurados “ilícitos ou eventuais crimes relacionados à disseminação de desinformação e individualização de condutas”.

No documento, Pimenta listou nomes de influenciadores digitais, de contas em redes sociais e postagens que viralizaram na internet com informações falsas sobre o trabalho de resgate de pessoas e sobre a recuperação dos estragos no Estado. Entre elas, o vídeo publicado na plataforma X (antigo Twitter) por Pablo Marçal. O ofício também cita o senador Cleitinho Azevedo como "disseminador da fake news".

Outras postagens envolvendo o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o jornalista Thiago Asmar, o influenciador Leandro Ruschel, a influenciadora Fernanda Salles, além de contas como Pavão Misterious e Tumulto BR, são descritas no ofício enviado por Paulo Pimenta. Segundo o ministro, elas causam impacto no aprofundamento da crise social vivida pela população gaúcha.

“Os conteúdos afirmam que o Governo Federal não estaria ajudando a população, de que a FAB [Força Aérea Brasileira] não teria agilidade e que o Exército e a PRF [Polícia Rodoviária Federal] estariam impedindo caminhões de auxílio. Destaco com preocupação o impacto dessas narrativas na credibilidade das instituições como o Exército, FAB, PRF e ministérios, que são cruciais na resposta a emergências”, diz trecho do ofício. 

“A propagação de falsidades pode diminuir a confiança da população nas capacidades de resposta do Estado, prejudicando os esforços de evacuação e resgate em momentos críticos. É fundamental que ações sejam tomadas para proteger a integridade e a eficácia das nossas instituições frente a tais crises”, completa.

Eduardo Bolsonaro, Cleitinho Pablo Marçal e os demais citados no ofício não haviam se manifestado sobre a investigação da PF até a mais recente atualização desta reportagem.

‘Tem gente que está apostando na desgraça’, diz Lula 

Na manhã de terça-feira (8), durante conversa com radialistas no programa Bom Dia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a onda de fake news relativa à tragédia climática no Rio Grande do Sul.

“Um país não pode ir para frente desse jeito. É preciso que as pessoas tenham bom senso. É preciso que não sejam levianas. A situação do Rio Grande do Sul é muito delicada. Todo mundo quer ajudar. Agora, é preciso tomar cuidado, porque tem gente que não quer. Tem gente que está apostando na desgraça. Gente que quer que não dê certo”, afirmou o presidente.

Lula ressaltou que as fake news, além de causarem mal à sociedade, são um desrespeito às pessoas que trabalham incansavelmente para apoiar as famílias no Rio Grande do Sul e auxiliar nas ações de reestruturação do Estado. 

“Eu queria chamar a atenção sobre o seguinte: ainda tem muita fake news contando mentiras sobre o Rio Grande do Sul, desmerecendo pessoas que estão trabalhando, não apenas das Forças Armadas, da Polícia Militar, da Polícia Civil, da Polícia Federal, da Força Nacional, não apenas as pessoas que ganham salário para trabalhar, mas os voluntários”, reforçou Lula.

Saiba onde levar roupas e mantimentos para vítimas do RS

Mobilizações no Brasil inteiro estão garantindo itens de sobrevivência básica para doar às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Em Belo Horizonte, por exemplo, diversas entidades e empresas privadas estão recolhendo esses itens, além de ajudas financeiras, para fazer as doações. Veja a lista de locais que estão recolhendo donativos para as vítimas das enchentes no RS.