Apesar das recentes críticas do governador Romeu Zema (Novo), Minas Gerais teve um lucro de R$ 27,7 bilhões na balança comercial com os Brics apenas no primeiro semestre de 2025. O levantamento foi feito por O TEMPO a partir dos dados de exportações e importações do Estado entre janeiro e junho divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. 

O saldo positivo de R$ 27,7 bilhões do comércio com os 11 países-membros dos Brics representa cerca de 40% de todo o lucro de R$ 70,8 bilhões da balança de Minas até o último mês de junho. De acordo com um relatório da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, o Estado exportou para 191 países durante o primeiro semestre.

Minas teve uma balança superavitária com sete dos outros dez países-membros do Brics, mas o total de R$ 27,7 bilhões é alavancado pela China, maior parceira do Estado. Embora as exportações para o país tenham caído 16% em relação ao mesmo período de 2024, Minas teve um lucro de R$ 27,6 bilhões até junho, 99% de todo o saldo positivo da balança com os Brics.

Dos R$ 27,6 bilhões do saldo positivo do comércio com a China, 81% são fruto das exportações de minério de ferro, que, em valores absolutos, renderam R$ 22,5 bilhões a Minas durante o primeiro semestre de 2025. Em seguida, os produtos mais exportados pelo Estado são soja e ferroligas, que correspondem a, respectivamente, 30% e 8% do lucro com a China.

O segundo maior parceiro de Minas dentro dos Brics é os Emirados Árabes Unidos. A balança entre o Estado e o país deu um lucro de R$ 520 milhões, capitaneado pelas exportações de açúcar de cana, que renderam R$ 173 milhões, um terço de todo o saldo positivo do comércio com o país do Golfo Pérsico.

Apenas três países dos Brics tiveram uma balança deficitária com Minas Gerais: Rússia, Indonésia e Índia. De R$ 1,3 bilhão, o déficit com a Índia foi o maior entre janeiro e junho de 2025, impulsionado pelas importações de medicamentos, que chegaram a R$ 332 milhões e são o principal produto da Índia comprado pelo Estado.     

Embora a balança seja favorável a Minas, Zema atribuiu a tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a parte das exportações do Brasil ao alinhamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos Brics. Como o grupo está sob a presidência do Brasil em 2025, a última cúpula ocorreu no Rio de Janeiro, dias antes de Trump anunciar a sobretaxa.

Pré-candidato à presidência, Zema tem criticado Lula por defender a desdolarização do comércio exterior, um dos itens da pauta da última cúpula dos Brics. Na última segunda-feira (4/8), o governador afirmou que os países negociam em dólar porque a moeda “é forte e amplamente aceita”. “O Brasil não tem nada que defender moeda comum dos Brics. O Brasil tem é que sair dos Brics”, reiterou ele, no X. 
 
Em entrevista na última semana, Zema já havia argumentado que os Brics “não agregam nada” ao Brasil. “Nós não estamos falando de países que têm a mesma cultura nossa, não estamos falando de países cristãos, não estamos falando de países democráticos. É um aglomerado de países que parece que quer questionar a ordem mundial sem ter nenhuma proposta concreta”, disse ao UOL.

A reportagem questionou ao governo Zema se as críticas do governador não contradizem a balança comercial com os Brics e não prejudicam a relação de Minas Gerais com o principal parceiro do Estado, a China. Até a publicação desta matéria, o Palácio Tiradentes não se manifestou. Tão logo se posicione, a manifestação será acrescentada. O espaço segue aberto.