BRASÍLIA - A bancada do Agro no Congresso Nacional quer Edegar Pretto fora da presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Deputados ouvidos pela reportagem de O TEMPO Brasília contaram, sob a condição de anonimato, que o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, foi avisado que se não houver mudanças no comando da empresa pública, os parlamentares vão apoiar a instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Arroz.
Após suspeitas de fraudes, o governo federal decidiu cancelar a compra de 263,37 mil toneladas de arroz, que foram arrematados em leilão na semana passada pela Conab. A decisão foi anunciada na terça-feira (11) pelo governo federal após virem à tona questionamentos públicos sobre a capacidade, a qualificação e a conduta ilibada das empresas vencedoras do leilão.
Uma fabricante de sorvetes, uma mercearia de bairro especializada em queijo e uma locadora de veículos estão entre as vencedoras da disputa pública promovida pela Conab. Das quatro empresas, só a Zafira Trading atua no ramo. Ela trabalha no comércio exterior desde 2010 e ganhou o direito de vender 73,8 mil toneladas de arroz, por R$ 368,9 milhões — 28% do total comprado no leilão.
Ainda não há data para realização do novo certame e o governo federal pretende ter apoio da Controladoria-Geral da União (CGU) e Advocacia Geral da União (AGU) para realização de novo leilão, dessa vez, com empresas que se mostrem capazes. Ainda por causa do episódio, o secretário de Política Agrícola, Neri Geller, foi exonerado do cargo por suspeita de favorecimento aos vencedores. Deputados avaliam que ele entregou a demissão e foi usado como “bode expiatório”.
A relação do agronegócio com o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a mais um patamar de tensão após o Palácio do Planalto decidir prosseguir com o leilão para a compra de uma tonelada de arroz. A medida, segundo o governo, era uma forma de evitar a alta dos preços do alimento em função das enchentes no Rio Grande do Sul. O Estado responde por mais de 70% do cereal.
A entidade representativa dos produtores de arroz no Sul do país informou à época que as safras tinham sido colhidas antes das enchentes e que o escoamento do arroz não seria mais um problema, uma vez que as principais rodovias do Rio Grande do Sul já estavam liberadas.
Na terça-feira (11), durante almoço da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) com a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), os parlamentares deram gritos de comemoração ao saberem, durante o encontro, que o governo tinha cancelado ao leilão.