BRASÍLIA - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, convocou para uma reunião neste sábado (27) embaixadores estrangeiros, incluindo a embaixadora do Brasil na Venezuela, Glivânia Maria de Oliveira. A informação foi antecipada por O Globo e confirmada por O TEMPO.

O encontro ocorreu um dia antes das eleições venezuelanas, marcadas para domingo (28), data de aniversário do ex-presidente Hugo Chávez (1954-2013), que governou o país por 14 anos. Maduro lidera um regime autocrático, conhecido por violar liberdades fundamentais e manter presos políticos.

Apesar de existirem dez candidatos à presidência, seu principal rival político, da oposição, é o diplomata Edmundo González, que disputa as eleições presidenciais pela primeira vez. González foi escolhido após María Yoris e Corina Yoris, líderes da oposição, serem impedidas de se candidatar por conta de indícios de perseguição política e fraudes pela Justiça venezuelana.

Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República, está em Caracas desde a sexta-feira (26), mas não participou do encontro. Ele só se encontrará com Maduro ou González após o resultado do pleito, para evitar animosidade diplomática.

Amorim foi enviado à capital venezuelana pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em um momento em que a relação diplomática entre Brasil e Venezuela está abalada, com declarações polêmicas vindas tanto do petista, quanto de Maduro.

Apesar de evitar o encontro com Maduro, Amorim se reuniu com o chanceler da Venezuela, Yván Gil, ainda na sexta-feira (26). Na rede social X, antigo Twitter, o venezuelano descreveu o encontro como "cordial". Segundo ele, foi discutida "a relevância destas eleições e o clima de paz que existe na Venezuela, a impecável organização do processo por parte do nosso Poder Eleitoral; um dos mais transparentes e seguros do mundo."

“Aproveitamos a oportunidade para discutir os grandes desafios de transmitir informações verdadeiras baseadas no respeito absoluto à legislação venezuelana”, concluiu.

Neste sábado (27), Amorim reuniu-se com integrantes da oposição e do Centro Carter, uma entidade que está no país como observadora da eleição presidencial.

Além disso, o auxiliar de Lula também se reuniu com Gerardo Blyde, chefe dos negociadores da oposição com o governo da Venezuela para a assinatura do Acordo de Barbados.

O Acordo de Barbados, mediado entre o governo venezuelano e a oposição, busca promover eleições livres e justas no país, com medidas destinadas a garantir a transparência e a legitimidade do processo eleitoral.

Relação entre Brasil e Venezuela em crise

A relação entre o Brasil e a Venezuela tem se desestabilizado nas últimas semanas. Tudo começou quando o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em entrevista a veículos internacionais, declarou ter ficado "assustado" com a ameaça feita por Maduro de um possível "banho de sangue" caso seja derrotado pela oposição, que lidera as pesquisas de intenção de voto.

Maduro reagiu à preocupação expressada por Lula sobre as eleições de domingo na Venezuela. "Eu não disse mentiras. Apenas fiz uma reflexão. Quem se assustou que tome um chá de camomila", afirmou Maduro, sem citar Lula nominalmente.

Além disso, o presidente venezuelano deu declarações questionando a confiabilidade do sistema de votação eletrônica brasileiro durante um comício.

Maduro, ignorando as acusações de falta de transparência nas eleições da Venezuela, afirmou que o país possui o melhor sistema eleitoral do mundo e que, no Brasil, o voto não é auditável. "Em que outra parte do mundo fazem isso? Nos Estados Unidos? O sistema eleitoral é auditável? No Brasil? Não auditam nenhuma ata. Na Colômbia? Não auditam nenhuma ata", disse ele.

No entanto, a afirmação de Maduro é falsa. O sistema eleitoral brasileiro é auditável em todas as suas etapas, desde a preparação das urnas até a divulgação dos resultados.

O governo brasileiro não se posicionou oficialmente sobre a declaração do venezuelano, mas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revisou uma decisão anterior e decidiu não enviar observadores para a eleição presidencial na Venezuela.

"Em face de falsas declarações contra as urnas eletrônicas brasileiras, que, ao contrário do que afirmado por autoridades venezuelanas, são auditáveis e seguras, o Tribunal Superior Eleitoral não enviará técnicos para atender convite feito pela Comissão Nacional Eleitoral daquele país para acompanhar o pleito do próximo domingo", declarou a Corte Eleitoral em nota à imprensa.

O TSE reforçou que a "Justiça Eleitoral brasileira não admite que, interna ou externamente, por declarações ou atos desrespeitosos à lisura do processo eleitoral brasileiro, se desqualifiquem com mentiras a seriedade e a integridade das eleições e das urnas eletrônicas no Brasil".