BRASÍLIA – A Organização Internacional para as Migrações (OIM), agência da Organização das Nações Unidas (ONU), comunicou o governo brasileiro que voltou a atender venezuelanos em Roraima nesta segunda-feira (3). O serviço foi suspenso há uma semana, depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cortar fundos para ajuda humanitária em todo o mundo.

Em nota enviada ao governo brasileiro, a OIM informou ter conseguido recursos fora do orçamento do governo norte-americano para voltar a atuar em apoio à Operação Acolhida, força-tarefa criada em 2018 para atender venezuelanos que chegam ao Brasil por Pacaraima, em Roraima.

A ONU fez um remanejamento em seu orçamento para atender o programa de assistência aos venezuelanos no Brasil. A decisão de Trump de suspender repasses de fundos norte-americanos para ajuda humanitária fora do país vale, a princípio, por 90 dias. 

Cerca de 500 venezuelanos entram no Brasil por Roraima todos os dias em busca de trabalho e melhores condições de vida. Lá a OIM mantém escritórios para, entre outras coisas, encaminhar os refugiados para serviços essenciais, como saúde, assistência social e apoio aos direitos trabalhistas, com foco na exploração laboral e violência de gênero. Também ajuda na emissão de documentos.

Musk diz que agência norte-americana ‘é uma organização criminosa’

Até a decisão de Trump, a OIM recebia dinheiro do Bureau de População de Refugiados e Migração (PRM) e da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). 

Agência independente criada por uma lei do Congresso norte-americano, a Usaid tem um orçamento de 42,8 bilhões de dólares destinados à ajuda humanitária e assistência ao desenvolvimento em todo o mundo.

No domingo, o bilionário Elon Musk chamou a Usaid de “organização criminosa”. “Usaid é uma organização criminosa”, escreveu Musk em sua rede social X, ao responder a um vídeo no qual a agência é acusada de estar supostamente envolvida “em trabalhos sujos da CIA” e na “censura da internet”.

O assessor de Trump e dono da SpaceX foi além em outra mensagem. Sem apresentar provas, perguntou a seus 215 milhões de seguidores: “Vocês sabiam que a Usaid, usando SEUS impostos, financiou pesquisas sobre armas biológicas, incluindo a covid-19, que matou milhões de pessoas?”.

O empresário não forneceu mais detalhes sobre tais acusações, que funcionários da administração anterior, do democrata Joe Biden, haviam vinculado a uma campanha de desinformação russa.

Trump manda representante conversar com Maduro

No sábado (1º), Trump anunciou que a Venezuela aceitou receber os imigrantes sem documentos deportados pelos Estados Unidos, incluindo integrantes do grupo criminoso Tren de Aragua.

“A Venezuela concordou em receber de volta a seu país todos os imigrantes ilegais venezuelanos que estavam acampados nos Estados Unidos, incluindo os membros da gangue ‘Tren de Aragua’”, afirmou Trump em sua plataforma Truth Social, ao mesmo tempo que celebrou o retorno, na sexta-feira, de seis americanos detidos na Venezuela.

“A Venezuela também concordou em proporcionar o transporte de retorno”, acrescentou Trump. Os detidos foram libertados na sexta-feira (31) e retornaram aos EUA após reunião entre o enviado especial de Trump, Richard Grenell, e o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que pediu um “novo começo” nas relações com Washington.

Já na quarta-feira (29), Trump revogou uma extensão do Status de Proteção Temporária (TPS) que impedia a expulsão de mais de 600 mil venezuelanos do país e disse que planeja enviar imigrantes em situação irregular para a prisão militar de Guantánamo, normalmente reservada para acusados de terrorismo.

“Assinarei hoje um decreto ordenando aos departamentos de Defesa e Segurança Interna que comecem a preparar as instalações para 30 mil imigrantes na baía de Guantánamo”, uma base militar norte-americana em Cuba, disse Trump, garantindo que enviará “criminosos” em situação irregular.

Alguns “são tão maus que nem confiamos que os países vão retê-los, porque não queremos que voltem”, acusou. É um “lugar de onde é difícil sair”. No X, o chefe do Pentágono, Pete Hegseth, anunciou que o Departamento de Defesa “vai ampliar de imediato o Centro de Operações Migratórias" da base "para sua capacidade máxima”.

A Venezuela rompeu relações diplomáticas com Washington em janeiro de 2019, após o governo dos EUA, durante o primeiro mandato de Trump (2017-2021), reconheceu o líder da oposição Juan Guaidó como presidente interino, em vez de Maduro, e endureceu as sanções econômicas contra o governo socialista de Caracas.

Em seu retorno à Casa Branca, Trump transformou a luta contra a imigração ilegal em prioridade máxima e prometeu executar uma ampla campanha de deportações. O governo republicano já começou a adotar medidas.

Trump declarou estado de emergência na fronteira entre Estados Unidos e México e enviou o Exército para proteger a região. (Com AFP)