BRASÍLIA - Cotado como candidato a presidente na eleição de 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), virou alvo do governo Lula e de aliados, nos últimos dias, por apoiar a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar em 50% os produtos brasileiros importados. 

Em entrevista, na quinta-feira (10/7), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ironizou a posição do governador de São Paulo e fez menção a uma foto em que Tarcísio usa um boné com o slogan de Trump, “Make America Great Again” (“Fazer a América Grande de Novo”).

“Se vou ser candidato ou não, é outros 500. Agora, os loucos que governaram esse país não voltam mais. O seu Tarcísio pode - e não vale tentar esconder o chapeuzinho do Trump não, Tarcísio - pode ficar mostrando para a gente saber quem você é. Está cheio de lobo com pele de cordeiro. Se for necessário ser candidato para evitar isso, estarei candidato”, disse, em entrevista à TV Record.

Durante a quinta-feira, outros membros do governo criticaram Tarcísio pelas falas elogiosas a Donald Trump e por ter culpado Lula pelas tarifas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chamou o governador de “candidato a vassalo”.

“Ele errou muito, porque ou uma pessoa é candidata a presidente da República, ou é a candidata a vassalo. E não há espaço no Brasil para vassalagem, desde 1822 isso acabou. O que está se pretendendo aqui? Ajoelhar diante de uma agressão unilateral, sem fundamento econômico e político?”, contestou Haddad, em entrevista.

Enquanto isso, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que Tarcísio deveria “defender a população do seu estado” em vez de defender a medida de Trump.

Nas redes sociais, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também criticou o governador de São Paulo, após Tarcísio culpar o presidente Lula pela crise do tarifaço.

"Quem está colocando ideologia acima dos interesses do país é o governador Tarcísio e todos os cúmplices de Bolsonaro que aplaudem o tarifaço de Trump contra o Brasil. Pensam apenas no proveito político que esperam tirar da chantagem do presidente dos EUA, porque nunca se importaram de verdade com o país e o povo. Estamos diante do maior ataque já feito ao Brasil em tempos de paz, visando a atingir não apenas nossa economia, mas a soberania nacional e a própria democracia", escreveu.

O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex), Jorge Viana, também falou contra o chefe do governo paulista. "Eu espero que o governador de São Paulo, independente das posições ideológicas que tenha, reflita e veja que o estado mais afetado será São Paulo com desemprego, com empresas tendo dificuldade de seguir adiante. Em vez de fazer disso uma disputa, deveríamos estar unidos para encontrar melhor solução", declarou.

Tarcísio pode ser investigado por obstrução de justiça

Tarcísio de Freitas recorreu a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir que a Corte liberasse Jair Bolsonaro para viajar aos Estados Unidos. A informação foi divulgada pela colunista Mônica Bergamo, do jornal "Folha de S. Paulo".

A razão seria um eventual encontro com o presidente norte-americano Donald Trump para negociar a suspensão das tarifas de 50% que, segundo os Estados Unidos, serão aplicadas aos produtos brasileiros a partir de agosto.

Segundo a colunista, os ministros rejeitaram a possibilidade e entendem que há risco de fuga de Bolsonaro para os Estados Unidos com possível concessão de asilo político por Trump. O ex-presidente é réu no STF por suposta tentativa de golpe de Estado em 2022.

Em resposta, o líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (PT-RJ), encaminhou uma petição ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na sexta-feira (11/7), pedindo que o governador de São Paulo seja investigado por obstrução de justiça.

O líder do PT diz ainda que ele estaria trabalhando para uma "possível fuga" do ex-presidente Jair Bolsonaro para os Estados Unidos. Ainda nesse sentido, Lindbergh pede que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifeste sobre o pedido de monitoramento de Bolsonaro com tornozeleira eletrônica.

Aliado do governo Lula, o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) também acionou a Procuradoria-Geral da República (PGR) para abertura de inquérito contra Tarcísio para apurar a suposta tentativa de auxiliar a saída de Bolsonaro do país.

Tarcísio amenizou discurso em defesa de Trump

Diante do desgaste gerado pelas críticas, Tarcísio de Freitas amenizou o discurso e passou a pregar união contra o tarifaço do presidente dos EUA sobre o Brasil.

“Acho que o momento demanda união de esforços, demanda sinergia, porque é algo complicado para o Brasil, é algo complicado para alguns segmentos da nossa indústria, do nosso agronegócio. A gente precisa estar de mãos dadas agora para resolver, deixar a questão política de lado e vamos tentar resolver essa questão”, disse. 

Na quarta-feira (9/7), Tarcísio de Freitas comentou sobre a decisão de Trump de taxar em 50% a importação de produtos brasileiros nas redes sociais e afirmou que Lula colocou a ideologia acima do resultado. 

“Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado. Tiveram tempo para prestigiar ditaduras, defender a censura e agredir o maior investidor direto no Brasil. Outros países buscaram a negociação. Não adianta se esconder atrás do Bolsonaro. A responsabilidade é de quem governa. Narrativas não resolverão o problema”, publicou Tarcísio.

Antes, ao compartilhar nota de Trump sobre Bolsonaro, o governador afirmou que o ex-presidente brasileiro deve ser julgado pelo povo brasileiro, durante as eleições, e não pela Justiça.

Já na quinta-feira (10/7), Tarcísio admitiu que a tarifa anunciada por Trump terá impactos negativos para o Brasil e especialmente São Paulo. Ele pediu que o governo federal deixe de lado diferenças ideológicas e sente-se à mesa com o governo Trump para negociar a reversão da medida.

Nesta sexta-feira (11/7), Tarcísio se reuniu com o chefe da embaixada dos EUA em Brasília, Gabriel Escobar.

"Acabo de me reunir com Gabriel Escobar, Encarregado de Negócios da Embaixada dos EUA no Brasil, em Brasília. Conversamos sobre as consequências da tarifa para a indústria e agro brasileiro e também o reflexo disso para as empresas americanas", escreveu, em uma rede social.

"Vamos abrir diálogo com as empresas paulistas, lastrado em dados e argumentos consolidados, para buscar soluções efetivas. É preciso negociar. Narrativas não resolverão o problema. A responsabilidade é de quem governa", acrescentou.

A embaixada dos EUA, que está sem embaixador, confirmou a reunião e destacou que São Paulo é o estado "com a maior concentração de investimento americano no Brasil".

"Ressaltamos que diplomatas americanos se reúnem regularmente com governadores brasileiros. A Embaixada dos EUA promove os interesses das empresas americanas e a cooperação bilateral", disse a representação diplomática, por meio de nota.