BRASÍLIA – A crise causada pelas tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil, tem impulsionado a comunicação do governo federal e conseguiu até movimentar as redes sociais.
Nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou para si o discurso nacionalista até então adotado pela oposição, em uma nova estratégia adotada pelo ministro da Secretaria de Comunicação (Secom), Sidônio Palmeira, para recuperar os índices de popularidade do governo.
A praticamente um ano do período eleitoral de 2026, Sidônio vai ainda substituir o mote “União e Reconstrução” para mostrar que Lula tem lado: o Brasil. As medidas incluem um novo slogan, o uso de bonés e da bandeira brasileira, além de discursos mais nacionalistas.
Na semana passada, após Trump anunciar a taxação de 50% sobre produtos brasileiros e alegar “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por suposta tentativa de golpe, Lula voltou a usar o boné com o slogan “O Brasil é dos brasileiros”. A peça foi criada por Sidônio como uma resposta aos bonés vermelhos 'Make America Great Again' (MAGA), usados pelos apoiadores do presidente dos Estados Unidos.
'O Pix é nosso, my friend'
A Secom, por meio do perfil oficial do governo brasileiro nas redes sociais, também ironizou a investigação comercial dos Estados Unidos, sobre o Brasil, que envolve o Pix, bloqueio de redes sociais e até o fluxo na rua 25 de Março, em São Paulo, um pólo comercial urbano.
Com diferentes publicações nas redes sociais, a comunicação enfatizou a defesa da soberania nacional e lançou o bordão “O Pix é nosso, my friend”.
"O Pix é do Brasil e dos brasileiros! Parece que nosso Pix vem causando um ciúme danado lá fora, viu? Tem até carta reclamando da existência do nosso sistema Seguro, Sigiloso e Sem taxas", disse, em referência à carta do representante comercial do governo Trump, Jamieson Greer.
"Só que o Brasil é o quê? Soberano. E tem muito orgulho dos mais de 175 milhões de usuários do PIX, que já é o meio de pagamento mais utilizado pelos brasileiros. Nada de mexer com o que tá funcionando, ok?", destaca a publicação do governo.
‘Patriota falso’
Em discurso no Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Goiânia, na quinta-feira (17/7), Lula voltou a dizer que Bolsonaro enviou seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), aos EUA para pressionar Trump a adotar medidas contra o Brasil.
“E fica abraçado na bandeira americana, esse patriota falso. Nós vamos tomar a bandeira verde e amarela. A bandeira verde e amarela vai voltar a ser do povo brasileiro. O Bolsonaro que abrace a bandeira americana, transfira o título dele e vá votar lá. Porque aqui quem manda somos nós, brasileiros”, discursou Lula.
Em sua fala, o presidente ainda chamou Bolsonaro e seus filhos de “traidores”.
“Eles agora têm que ser tratados como os traidores do século 20 e do século 21 desse país. Ele [Bolsonaro] que não venha mais falar da bandeira verde e amarela, ele que tenha vergonha. Se esconda na sua covardia e deixa esse país viver em paz”, declarou.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, também criticou, em discurso, a interferência dos Estados Unidos no Brasil e "traidores" que estariam "tramando" contra a pátria. Ele também repetiu que "o Brasil pertence aos brasileiros".
“O Brasil é um país soberano, e não vai aceitar que uma, duas, três, quatro, cinco, meia dúzia de brasileiros que, de forma oportunista, articulam e tramam traindo a sua pátria contra o nosso povo. Mais do que nunca, nosso país precisa estar unido em torno de uma clareza: justiça fiscal e da soberania nacional”, disse.
"Infelizmente vivemos uma intromissão absolutamente indevida. Não dá para imaginar um cenário em que o presidente de uma das duas maiores potências do mundo está preocupado com a 25 de Março e coloca isso num documento internacional", afirmou ainda.
Resultado já aparece nas pesquisas
Após a crise do tarifaço, Lula ganhou um respiro, que se refletiu ainda na sua avaliação. O índice negativo caiu de 43% para 40%, na última pesquisa Quaest, divulgada nesta quinta-feira (17).
De acordo com o levantamento, 72% dos entrevistados afirmam ser um erro de Trump impor tarifas ao Brasil por causa de Bolsonaro. Apenas 19% dizem acreditar que o presidente americano está certo ao impor taxas com a justificativa de que há uma perseguição a Bolsonaro no Brasil.
Ainda segundo a pesquisa, 53% dizem que o presidente Lula está certo ao reagir com reciprocidade, enquanto 39% respondem que o presidente está errado ao reagir com reciprocidade ao tarifaço.
Ao serem questionados sobre qual lado age de forma mais correta nesse embate político e comercial, 44% escolhem Lula e o PT, 29% escolhem Bolsonaro e seus aliados, 15% respondem que nenhum dos dois, e 12% não sabem.
Desgaste para a oposição
O fato de Jair Bolsonaro e aliados terem ficado ao lado de Trump desgastou o grupo político. Cotado como candidato a presidente na eleição de 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), por exemplo, virou alvo do governo Lula e de aliados, por apoiar a decisão do presidente dos Estados Unidos. Em seguida, precisou recuar e defender "união de esforços".
O levantamento também apontou as consequências das declarações iniciais de Tarcísio. De acordo com a pesquisa Quaest, ele, que tinha 40% nas intenções de voto no segundo turno da disputa presidencial de 2026, agora aparece com 37%.