BRASÍLIA - O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, o petista Márcio Macêdo, teve seus últimos meses no governo marcados por especulações sobre seu futuro e cobiças a seu cargo, dentro e fora do PT. Desde o fim do ano passado, ele é cotado para entrar na reforma ministerial, que nunca foi feita da forma como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planejava.

Dentro do governo, ainda é alta a cotação para quem aposta na saída de Macêdo, mesmo a pouco mais de um ano das eleições. Tão cotado quanto é o nome do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) para substituí-lo.

Alguns davam como quase certa sua saída em maio, quando Lula viajou ao Uruguai para o velório do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica e levou os dois. Ali, havia uma expectativa de que o presidente tratasse com ambos sobre a possível troca, mas os envolvidos negam que isso tenha acontecido em algum momento - em Brasília ou em Montevidéu.

A Secretaria-Geral da Presidência tem seus atrativos, principalmente para quadros à esquerda. No atual governo, é a pasta responsável por lidar com movimentos sociais, sobre os quais PT, PSOL e outras legendas têm influência. Além disso, é um dos quatro ministérios sediados no Palácio do Planalto. Inevitavelmente, o ministro se mantém próximo do presidente da República.

Apesar das pressões, Macêdo tem conseguido algumas sobrevidas no governo. Uma delas foi a negociação pelo acordo de indenização da favela do Moinho, em São Paulo, que tinha sido alvo de uma ação policial criticada pela truculência. A outra é a indefinição sobre como realocar o ministro caso se confirme sua saída.

Macêdo chegou a ter seu nome ventilado em outros cargos dentro do governo, como a presidência do Ibama. Biólogo de formação, ele já foi superintendente do órgão em Sergipe e secretário do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos na gestão do então governador sergipano Marcelo Déda (PT). Mas a avaliação interna era de que ele não teria o perfil para a função.

Outra hipótese, que ainda é considerada por governistas, é acomodar Macêdo em um cargo da direção executiva do PT após as eleições internas do partido, marcadas para o próximo domingo (6). Porém, ele já foi vice-presidente e tesoureiro do PT nacional em outras gestões, teria dados sinais de que não gostaria de retornar ao diretório nacional da legenda.

Boulos infla ‘ricos contra pobres’

Enquanto aguarda para saber se de fato irá para a Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos vem encampando o discurso governista de “ricos contra pobres”, em relação à resistência do Congresso em aprovar medidas do governo que aumentam impostos.

Nas redes sociais, o político do PSOL citou uma pesquisa da Quaest que revela uma rejeição da maioria dos deputados a pautas como o fim da escala 6x1, o projeto que acaba com os “supersalários” no serviço público e taxação dos “super-ricos”.

“100% dos deputados trabalham em escala 3x4. 70% é contra o fim da escala 6x1 para o povo trabalhador. É compreensível a revolta do povo contra esse Congresso.”, publicou. “A disputa das últimas semanas desenhada na última pesquisa Quaest”, disse o parlamentar em outro post.

Em outra publicação, Boulos convoca movimentos para uma manifestação no dia 10 de junho, organizada pela esquerda, a favor de pautas que não têm avançado no Legislativo.

“Dia 10 teremos uma grande mobilização: AGORA É A VEZ DO POVO! São as pautas da maioria:

- Taxação dos super-ricos BBB

- Zerar IR de quem ganha até 5 mil

- Fim da Escala 6X1

O Brasil não pode ficar refém de decisões antipopulares. Pra cima, dia 10, na Av. Paulista!”, escreveu.

A principal aposta de Lula com uma possível escolha de Boulos é em seu perfil mais enérgico para mobilizar militantes lulistas e movimentos sociais visando as eleições de 2026. No entanto, o MTST, do qual o deputado é próximo, é tido como um movimento pequeno em comparação ao MST e outros com quem o psolista ainda não tem um diálogo tão afinado. Este é apontado como um obstáculo caso ele assuma o ministério.