Ainda de folga no Guarujá (SP), o presidente Jair Bolsonaro (PL) usou as suas redes sociais na manhã desta quarta-feira (2) para mostrar seu encontro com apoiadores em uma praia, após passeio de jet ski, e para falar do impacto da guerra na Ucrânia na economia brasileira.
O presidente brasileiro afirmou que é grande o risco de faltar ou aumentar o preço do potássio, produto usado como matéria-prima para fertilizantes, insumo essencial para o agronegócio, setor responsável pelos melhores números da economia brasileira.
Bolsonaro ressaltou que o Brasil depende do potássio vindo da Rússia e aproveitou para defender a exploração do mineral em terras indígenas. A mineração nesses territórios é um antigo desejo do presidente.
No entanto, há menos de um mês, o presidente comemorou o acordo da Petrobras com o grupo russo Acron para a venda da UFN3 (Unidade de Fertilizantes Nitrogenados), em Três Lagoas (MS). O tema, inclusive, foi tratado na viagem da comitiva brasileira à Rússia em fevereiro, quando Bolsonaro disse que o Brasil é “solidário” à Rússia, o que repercutiu muito mal na comunidade internacional.
"Dez anos depois a Petrobras anuncia sua venda para iniciativa privada. Brevemente produzirá fertilizantes para a agricultura, diminuindo nossa dependência externa", escreveu Bolsonaro em suas redes sociais, em 5 de fevereiro.
Em comunicado, a Petrobras informou no mesmo dia que chegou a um acordo para as minutas contratuais para a venda de 100% da UFN3, com o grupo russo.
Àquela altura, era iminente a invasão da Rússia à Ucrânia e o agronegócio brasileiro já temia os efeitos da operação militar, principalmente em relação ao fornecimento de fertilizante.
A publicação foi compartilhada pela ministra Tereza Cristina, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Em outro post, ela comentou sobre a venda da UFN3. "O grupo russo Acron fechou a compra da unidade. Ótima notícia que o presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, nos deu hoje. A UFN3 terá capacidade de produção de ureia e amônia. Nosso agro tem muito a ganhar", disse a ministra.
Agora, a mesma Tereza Cristina admite a possibilidade de faltar fertilizante, caso o Brasil não consiga comprar o produto de outros países.
As sanções econômicas impostas à Rússia devem atingir a Acron, como todas as empresas russas, e impedir que a fábrica de fertilizantes entre em funcionamento.
Pelos planos, os russos usariam o gás da Bolívia para produzir fertilizantes na unidade de Três Lagoas. A Gazprom, maior produtora de gás no mundo, controla a exploração de gás natural na Bolívia. O gasoduto Brasil-Bolívia fica perto da fábrica construída pela Petrobras e colocada à venda em 2019. Mas a Gazprom foi uma das primeiras indústrias russas a sofrer sanções e deverá inclusive interromper a produção na Bolívia.
O governo brasileiro soube na terça-feira (1º) que a venda de fertilizantes de Belarus — país aliado da Rússia — ao Brasil foi suspensa, por causa da proibição de escoamento do produto via a Lituânia.
Presidente ignora venda da fábrica de fertilizantes e volta a defender mineração em terras indígenas
Nas publicações feitas nesta quarta-feira, Bolsonaro ignorou os ataques das forças russas a território ucraniano e a venda da fábrica de fertilizantes a uma empresa russa. Ele preferiu compartilhar vídeo de um discurso seu feito em 2016, quando era deputado federal, em que defendeu o agronegócio brasileiro e a exploração mineral em reservas indígenas.
Em seguida, ele cobrou dos deputados e senadores uma posição favorável à mineração em terras indígenas, com uma mudança na legislação brasileira.
“Com a guerra Rússia/Ucrânia, hoje corremos o risco da falta do potássio ou aumento do seu preço. Nossa segurança alimentar e o agronegócio (Economia) exigem de nós, Executivo e Legislativo, medidas que nos permitam a não dependência externa de algo que temos em abundância”, escreveu o presidente.
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