BRASÍLIA - Em 2025, o Brasil não deve enfrentar uma crise do fogo como a de 2024. A avaliação é do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, que atribui o cenário mais favorável a fatores climáticos e iniciativas de prevenção do governo, após situações atípicas em 2023 e 2024. Às vésperas da COP30, a 30ª Conferência da ONU sobre mudanças climáticas, que será realizada de 10 a 21 de novembro de 2025 em Belém, no Pará, o avanço é comemorado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo dados divulgados pelo ministério, o país registrou queda de 65,8% nas áreas queimadas de janeiro a junho de 2025 em relação ao primeiro semestre de 2024. Em números absolutos, o país saiu de 3,1 milhões de hectares queimados no primeiro semestre de 2024 para cerca de 1 milhão nos primeiros seis meses de 2025.
Os números positivos continuaram em julho. A área destruída por fogo diminuiu 56,8%, passando de 1,8 milhão de hectares queimados em julho de 2024 para 726 mil hectares registrados neste ano, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Em 2024, os efeitos da mudança climática, associadas à grande escassez hídrica, ocasionou a pior seca nos últimos 40 anos na Amazônia e nos últimos 74 anos no Pantanal, em combinação com desmatamento e queimadas criminosas.
"A mudança do clima tem como um de seus impactos a intensificação dos incêndios florestais. Temperaturas mais elevadas, menos precipitação e aumento da quantidade de dias consecutivos sem chuvas tornam a floresta mais suscetível à queima”, explicou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Segundo o Inpe, o Brasil registrou crescimento da área queimada de 46,5% no ano passado em relação a 2023. Amazônia e Cerrado foram os biomas mais afetados.
Ações de prevenção implementadas pelo governo também contribuíram
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, os resultados de 2025 também são reflexo de um conjunto de esforços adotado pelo governo federal em parceria com estados e municípios para enfrentar os incêndios.
“Prevenir e combater os incêndios é prioridade absoluta do governo do presidente Lula, que no último ano trabalhou incansavelmente junto a estados, municípios, academia, setor privado e sociedade civil para implementar um modelo de governança do fogo à altura do desafio imposto pelo aquecimento global”, destacou Marina.
O Ministério do Meio Ambiente aponta a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo como importante para reduzir os focos de incêndio. Criada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em julho de 2024, a política estabeleceu um conjunto de ações voltadas para a prevenção e controle dos incêndios florestais.
Práticas como as queimadas prescritas, utilizadas para diminuir o acúmulo de material seco, e os aceiros, que consistem em faixas livres de vegetação para barrar a propagação do fogo, são exemplos de técnicas de manejo.
“O objetivo é reduzir a incidência e os danos causados pelos incêndios florestais ao mesmo tempo em que reconhece o papel ecológico do fogo em determinados ecossistemas e valoriza os saberes tradicionais de manejo”, afirma a pasta.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, aliado a isso, o Fundo Amazônia aprovou R$ 405 milhões para apoiar os Corpos de Bombeiros dos nove estados da Amazônia Legal na prevenção e combate a incêndios florestais. Destes, já foram contratados 370 milhões. São projetos no valor de R$ 45 milhões cada para Roraima, Amapá, Pará, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso e Tocantins e de aproximadamente R$ 21 milhões e R$ 34 milhões para Acre e Rondônia, respectivamente.
O ministério também retomou a Sala de Situação sobre Incêndios, integrada por 10 ministérios e outros seis órgãos federais, que se reúne de forma periódica para monitorar a evolução do quadro climático e sua repercussão sobre o risco de incêndios.
Além disso, foi publicada uma portaria, em março, declarando emergência por risco de incêndios, em que aponta áreas vulneráveis a incêndios em todo o país e os períodos de maior risco para viabilizar a contratação emergencial de brigadistas federais e a atuação de estados e municípios. A ideia é facilitar a atuação nesses locais, sob orientação de meteorologistas e analistas climáticos.
Autoridade Climática não saiu do papel
Por outro lado, o governo segue no impasse em relação à Autoridade Climática. A ideia é que essa autoridade atue na articulação e formulação de políticas, além de produzir subsídios para a implementação da Política Nacional sobre Mudança do Clima. O órgão também deve regular e monitorar a implementação de ações relativas às políticas e metas setoriais de mitigação, adaptação e promoção da resiliência às mudanças climáticas, conforme previsto na Política Nacional sobre Mudança do Clima.
Apesar da promessa do presidente Lula para editar uma medida provisória criando o estatuto jurídico da Emergência do Clima, a proposta ainda não saiu do papel. Uma das principais resistências é da bancada ruralista do Congresso.
As críticas caem, principalmente, sobre a ministra do Meio Ambiente. Em maio, Marina Silva se retirou de uma audiência no Senado, após uma série de ofensas disparadas por senadores contra ela.